O perigo de contágio para a saúde
pública levou o executivo a decretar restrições as actividades económicas e à
circulação de pessoas. No concelho há 30 casos confirmados e 440 estão em
monitorização.
O Governo declarou esta
terça-feira o estado de calamidade pública para o concelho
de Ovar, no distrito de Aveiro, por existir o perigo para a saúde pública,
o que significa que será estabelecida uma cerca sanitária aplicada a todo o
município e impostas restrições a actividades económicas e à circulação de
pessoas. A medida será aplicada de imediato.
O anúncio de declaração do estado
de calamidade pública para o concelho de Ovar foi feito esta terça-feira
ao final da tarde pelo ministro da Administração Interna, Eduardo
Cabrita, numa conferência de imprensa na qual participou também a ministra da
Saúde, Marta Temido.
A partir de agora fica vedada a
saída do município de Ovar assim como a entrada. Haverá uma zona de inibição de
acesso correspondente a todo o município, disse o ministro da Administração
Interna.
Toda a indústria será
fechada e a Linha do Norte, que atravessa o município de Ovar, continuará a
operar, mas nas estações situadas nesse município não haverá nem entrada
nem saída de passageiros.
Segundo especificou Eduardo
Cabrita, a situação de cerca sanitária significa que os residentes no município
estão impedidos de sair de Ovar. “Salvo um conjunto de situações excepcionais,
profissionais de saúde, das forças de segurança ou de socorro, residentes
regressando à sua residência habitual, abastecimento de áreas que devam
continuar em funcionamento, tal como supermercados e postos de combustíveis,
está vedado o acesso a Ovar”, informou também.
“Fechamos todos os
restaurantes e todas as oficinas, mantêm-se abertas as padarias, os
supermercados na área de abastecimento alimentar. Igualmente permanecerão
abertas as farmácias, os bancos e os postos de abastecimento”, precisou Eduardo
Cabrita, assegurando que estão “garantidas a manutenção e todos os serviços
essenciais, designadamente hospitais, centros de saúde, estruturas das forças e
serviços de segurança e socorro, comunicações, abastecimento de água e de
energia”.
Declarando que o combate ao
coronavírus é uma “batalhada de todos”, o ministro apelou “a todos os cidadãos
do município de Ovar uma grande compreensão e absoluta restrição das suas
actividades”.
A ministra da Saúde, Marta
Temido, confirmou que a zona de Ovar é, neste momento, “compatível com um
quadro de transmissão comunitária activa da doença covid-19. Isto significa um
risco de transmissão generalizadas e a possibilidade de poderem ocorrer novas
cadeias de transmissão”.
Marta Temido revelou que dos 51
casos confirmados segunda-feira pela Administração Regional de Saúde do Centro,
30 são relacionados com o concelho de Ovar. “Temos, decorrentes desses 30
casos, 440 contactos confirmados, pelo menos já identificados, já em
monitorização. Esses 440 contactos estão com recomendação de isolamento, de
quarenta, de vigilância e a ser contactados pelas autoridades de saúde”,
explicou a ministra da Saúde.
Momentos antes, em declarações
aos jornalistas, o presidente da Câmara de Ovar, Salvador Malheiro, falou de
“algumas indefinições” sobre as medidas decretadas. “Já percebemos que vamos
implementar um perímetro no município de Ovar, já percebemos que só poderão
passar pessoas que trabalham em serviços indispensáveis, já percebemos que só
podem passar mercadorias que transportem bens indispensáveis, mas é também
nossa obrigação de garantir os serviços mínimos para esta população, que nós
queremos que fique em casa”, acrescentou.
Ainda a digerir o impacto das
medidas, Salvador Malheiro declarou: “Isolar o município com 55 mil pessoas com
a indústria que nós temos, com a dinâmica que cá existe, não é algo em que se
carrega num botão e aparece feito”. “Vivemos um caso crítico, histórico,
caótico para o nosso município, porque está mais que evidente que o contágio no
município de Ovar neste momento é já comunitário e atinge proporções muito
elevadas”, sublinhou o autarca, elogiando “esta discriminação pela positiva por
parte do Governo”.
Sobre o número de pessoas
infectadas, o autarca mostrou-se muito preocupado com a dimensão da doença no
concelho. “Há 28 casos confirmados, e mais 12 casos suspeitos com altíssima
probabilidade de serem confirmados, para além de imensos suspeitos. Temos
famílias inteiras a terem confirmação de infecção”, declarou, destacando a
necessidade de estancar o estado de calamidade pública no concelho.
Margarida Gomes | Público
Leia em Público:
A partir desta quarta-feira, o
concelho de Ovar vai estar de portas fechadas. Não só lojas de serviços não
essenciais que são obrigadas a fechar, mas está fortemente condicionada a
circulação entre o concelho e o resto do território. População está calma.
Países como a Austrália ou o
Canadá começaram a fechar as suas fronteiras. Na Venezuela não sai nem entra
nenhum avião comercial, depois de ter sido descoberto o terceiro novo caso em
24 horas. Em Portugal, Ovar anunciou “estado de calamidade pública”.
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