Mocidade Portuguesa, a manipulação salazar-fascista desde crianças |
A seguir aos inúmeros casos de
corrupção a envolver titulares de cargos públicos ao mais alto nível, é agora a
própria justiça que é posta em causa.
António Luís Marinho*
| Jornal i | opinião
“De tanto ver triunfar as
nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a
desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto” -- Ruy Barbosa, ilustre político
brasileiro
Um a um, os pilares do Estado
democrático abanam e ameaçam ruir.
A seguir aos inúmeros casos de
corrupção a envolver titulares de cargos públicos ao mais alto nível -
julgados, nuns casos; em vias disso, noutros -, é agora a própria justiça que é
posta em causa, por via de acusações de “abuso de poder” e de “corrupção” a
juízes que ocupam ou ocuparam cargos importantes.
O caso do roubo das armas de
Tancos enlameou as Forças Armadas e atingiu um ex-ministro da Defesa.
Na Assembleia da República, o
chumbo de candidaturas para o Tribunal Constitucional por via da votação dos
deputados eleitos leva a que a chefe de bancada socialista acuse a mesma
assembleia de “bloquear” outras instituições. Isto é, se o jogo democrático não
nos convém, acabe-se com ele.
Quanto ao Governo, perante o veto
de uma câmara municipal - previsto na lei - ao projeto do aeroporto do Montijo,
o que faz? Ameaça mudar a lei.
Todos sabemos que a democracia é
difícil, complexa, mas não se conhece, até à data, outro regime que melhor
defenda a liberdade.
Caberia aos responsáveis políticos
e aos órgãos de soberania zelar por ela, defendê-la a todo o custo dos ataques
dos seus inimigos. Só que essa defesa começa a ser difícil quando são esses
mesmos órgãos de soberania que prevaricam sob diversas formas.
Sócrates, o filósofo grego, disse
aquilo que hoje, infelizmente, nos parece uma evidência: “É muito mais fácil
corromper do que persuadir”.
Os casos, com maior ou menor grau
de gravidade, sucedem-se a um ritmo alucinante. Os cidadãos, depois da
indiferença expressa na crescente taxa de abstenção, podem optar pelo voto de
protesto, caso encontrem uma força política que encarne e represente esse
protesto, mesmo que tudo isso seja apenas fachada.
O descrédito leva, muitas vezes,
ao desespero.
Percebem certamente do que estou
a falar.
*Jornalista
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