domingo, 8 de março de 2020

Portugal | Depois não se queixem!

Mocidade Portuguesa, a manipulação salazar-fascista desde crianças
A seguir aos inúmeros casos de corrupção a envolver titulares de cargos públicos ao mais alto nível, é agora a própria justiça que é posta em causa.

António Luís Marinho* | Jornal i | opinião

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto” -- Ruy Barbosa, ilustre político brasileiro

Um a um, os pilares do Estado democrático abanam e ameaçam ruir.

A seguir aos inúmeros casos de corrupção a envolver titulares de cargos públicos ao mais alto nível - julgados, nuns casos; em vias disso, noutros -, é agora a própria justiça que é posta em causa, por via de acusações de “abuso de poder” e de “corrupção” a juízes que ocupam ou ocuparam cargos importantes.

O caso do roubo das armas de Tancos enlameou as Forças Armadas e atingiu um ex-ministro da Defesa.

Na Assembleia da República, o chumbo de candidaturas para o Tribunal Constitucional por via da votação dos deputados eleitos leva a que a chefe de bancada socialista acuse a mesma assembleia de “bloquear” outras instituições. Isto é, se o jogo democrático não nos convém, acabe-se com ele. 

Quanto ao Governo, perante o veto de uma câmara municipal - previsto na lei - ao projeto do aeroporto do Montijo, o que faz? Ameaça mudar a lei.

Todos sabemos que a democracia é difícil, complexa, mas não se conhece, até à data, outro regime que melhor defenda a liberdade. 

Caberia aos responsáveis políticos e aos órgãos de soberania zelar por ela, defendê-la a todo o custo dos ataques dos seus inimigos. Só que essa defesa começa a ser difícil quando são esses mesmos órgãos de soberania que prevaricam sob diversas formas.

Sócrates, o filósofo grego, disse aquilo que hoje, infelizmente, nos parece uma evidência: “É muito mais fácil corromper do que persuadir”.

Os casos, com maior ou menor grau de gravidade, sucedem-se a um ritmo alucinante. Os cidadãos, depois da indiferença expressa na crescente taxa de abstenção, podem optar pelo voto de protesto, caso encontrem uma força política que encarne e represente esse protesto, mesmo que tudo isso seja apenas fachada.

O descrédito leva, muitas vezes, ao desespero.

Percebem certamente do que estou a falar.

*Jornalista

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