sexta-feira, 3 de abril de 2020

Covid-19: Angolanos violam regras de prevenção


"O povo está a desobedecer, porque onde há fome não se respeitam leis", diz ativista Nelson Euclides. Angola está em estado de emergência desde sexta-feira (27.03) por causa da pandemia de Covid-19.

O isolamento social imposto pelas autoridades para conter a cadeia de propagação do novo coronavírus mudou significativamente a vida dos angolanos. Com o estado de emergência, em vigor desde sexta-feira (27.03), os cidadãos são obrigados a ficar em casa, com exceção de jornalistas, médicos, enfermeiros ou agentes de defesa e segurança.

Em Angola, há ruas desertas, com universidades, escolas, igrejas, mercados informais a céu aberto e estabelecimentos comerciais encerrados. Mas também há quem tenha de continuar a sair à rua para poder alimentar a família.

Alimentos mais caros

Às primeiras horas da manhã desta quarta-feira, já se notava a concentração de pessoas em pequenos centros comerciais para aquisição de produtos da cesta básica.

"As coisas estão muito caras", desabafou uma habitante de Luanda. "Anteriormente, com 5.000 kwanzas (pouco mais de 8 euros), poderia comprar alguma coisa. Agora não se poder comprar nada".

Há zonas em que um saco de fuba de 25kg está agora a ser comercializado a 18 mil kwanzas (30 euros) contra os anteriores dez mil (mais de 15 euros).

Outro luandense queixa-se que "o que está mais em falta é mesmo o gás, que não está aparecer". A petrolífera angolana Sonangol prometeu resolver o problema da escassez de gás de cozinha brevemente. A garrafa de gás de 12kg é comercializada ao preço de 1.600 kwanzas (quase 3 euros).


Falta água potável

A higiene em casa e a lavagem das mãos com frequência é uma das medidas de prevenção recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde de Angola.

No entanto, os cidadãos dizem que há dificuldades no fornecimento de água potável, apesar de o Ministério da Energia e Águas ter garantido a prestação deste serviço durante a vigência do estado de emergência.

Por outro lado, continua a ser visível a aglomeração de pessoas, quer em zonas de lazer como em estabelecimentos comerciais e bancos, sem o distanciamento exigido.

O analista angolano Osvaldo Mboco, verificou, principalmente nos bairros periféricos, que as pessoas continuam a circular, "a movimentarem-se nos bares e [com] as barracas a funcionar" como se nada tivesse acontecido.

Mas é preciso acatar as medidas de prevenção contra o "inimigo invisível", diz Mboco: "É fundamental que as pessoas entendam que o país precisa de atitudes positivas, porque a forma do comportamento das pessoas definirá o grau de propagação da pandemia no nosso país".

O Presidente angolano, João Lourenço, também apelou esta quarta-feira à "autodisciplina", pedindo aos cidadãos para não sairem de casa.

Esta realidade vive-se um pouco por todo país. Por exemplo, na província do Moxico, leste de Angola, também tem havido violação das medidas de prevenção, até por parte de efetivos da polícia nacional, segundo o ativista dos direitos humanos Nelson Euclides.

"Tanto a polícia como a sociedade estão desinformadas. O povo está a desobedecer por uma causa, porque onde há fome não se respeitam leis", justifica. "Se continuarmos da forma como estamos a ver aqui no Moxico, acho que as coisas vão agravar-se".

Corrupção fora da ordem do dia

Para Osvaldo Mboco, é preciso que todos encarem a doença com seriedade. Mas o professor universitário lembra que a Covid-19 atirou para o esquecimento assuntos como a "cruzada contra a corrupção", julgamentos de supostos corruptos e as eleições autárquicas previstas para este ano.

A pandemia alterou o modo de vida dos angolanos e está a ter um impacto significativo na economia, afirma Mboco: "Acabou por ter uma consequência bastante direta na forma como as pessoas se movimentavam na sua forma natural de vida, bem como em todas as atividades laborais, atendendo que foram suspensas várias atividades".

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

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