"O povo está a desobedecer,
porque onde há fome não se respeitam leis", diz ativista Nelson Euclides.
Angola está em estado de emergência desde sexta-feira (27.03) por causa da
pandemia de Covid-19.
O isolamento social imposto pelas
autoridades para conter a cadeia de propagação do novo coronavírus mudou
significativamente a vida dos angolanos. Com o estado
de emergência, em vigor desde sexta-feira (27.03), os cidadãos são
obrigados a ficar em casa, com exceção de jornalistas, médicos, enfermeiros ou
agentes de defesa e segurança.
Em Angola, há ruas desertas, com
universidades, escolas, igrejas, mercados informais a céu aberto e
estabelecimentos comerciais encerrados. Mas também
há quem tenha de continuar a sair à rua para poder alimentar a família.
Alimentos mais caros
Às primeiras horas da manhã desta
quarta-feira, já se notava a concentração de pessoas em pequenos centros
comerciais para aquisição de produtos da cesta básica.
"As coisas estão muito
caras", desabafou uma habitante de Luanda. "Anteriormente, com 5.000
kwanzas (pouco mais de 8 euros), poderia comprar alguma coisa. Agora não se
poder comprar nada".
Há zonas em que um saco de fuba
de 25kg está agora a ser comercializado a 18 mil kwanzas (30 euros) contra os
anteriores dez mil (mais de 15 euros).
Outro luandense queixa-se que
"o que está mais em falta é mesmo o gás, que não está aparecer". A
petrolífera angolana Sonangol prometeu resolver o problema da escassez de gás
de cozinha brevemente. A garrafa de gás de 12kg é comercializada ao preço de
1.600 kwanzas (quase 3 euros).
Falta água potável
A higiene em casa e a lavagem das
mãos com frequência é uma das medidas de prevenção recomendadas pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde de Angola.
No entanto, os cidadãos dizem que
há dificuldades no fornecimento de água potável, apesar de o Ministério da
Energia e Águas ter garantido a prestação deste serviço durante a vigência do
estado de emergência.
Por outro lado, continua a ser
visível a aglomeração de pessoas, quer em zonas de lazer como em
estabelecimentos comerciais e bancos, sem o distanciamento exigido.
O analista angolano Osvaldo
Mboco, verificou, principalmente nos bairros periféricos, que as pessoas
continuam a circular, "a movimentarem-se nos bares e [com] as barracas a
funcionar" como se nada tivesse acontecido.
Mas é preciso acatar as medidas
de prevenção contra o "inimigo invisível", diz Mboco: "É
fundamental que as pessoas entendam que o país precisa de atitudes positivas,
porque a forma do comportamento das pessoas definirá o grau de propagação da
pandemia no nosso país".
O Presidente angolano, João
Lourenço, também apelou esta quarta-feira à "autodisciplina", pedindo
aos cidadãos para não sairem de casa.
Esta realidade vive-se um pouco
por todo país. Por exemplo, na província do Moxico, leste de Angola,
também tem havido violação das medidas de prevenção, até por parte de efetivos
da polícia nacional, segundo o ativista dos direitos humanos Nelson Euclides.
"Tanto a polícia como a
sociedade estão desinformadas. O povo está a desobedecer por uma causa, porque
onde há fome não se respeitam leis", justifica. "Se continuarmos da
forma como estamos a ver aqui no Moxico, acho que as coisas vão agravar-se".
Corrupção fora da ordem do dia
Para Osvaldo Mboco, é preciso que
todos encarem a doença com seriedade. Mas o professor universitário lembra que
a Covid-19 atirou para o esquecimento assuntos como a "cruzada contra a
corrupção", julgamentos de supostos corruptos e as eleições autárquicas
previstas para este ano.
A pandemia alterou o modo de vida
dos angolanos e está a ter um impacto significativo na economia, afirma Mboco:
"Acabou por ter uma consequência bastante direta na forma como as pessoas
se movimentavam na sua forma natural de vida, bem como em todas as atividades
laborais, atendendo que foram suspensas várias atividades".
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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