quinta-feira, 2 de abril de 2020

Estado de emergência: Ruas vazias afetam negócios em Cabo Verde


Ao quinto dia do estado de emergência em Cabo Verde, as ruas estão vazias e o comércio ressente-se. Polícia admite que pré-reformados poderão reforçar a fiscalização das regras de prevenção da Covid-19.

Ao meio-dia, o bairro da Achada de Santo António, o mais populoso da capital cabo-verdiana está praticamente vazio. Nas ruas circulam só as viaturas autorizadas ou de uma ou outra pessoa que pretende fazer compras rápidas nos supermercados ou farmácias.

O país cumpre o quinto dos 20 dias de emergência nacional. A recomendação é que todos fiquem em casa.

Poucos clientes

Os lavadores de carros estão duplamente preocupados: com a doença e com o seu ganha-pão. "Hoje ainda não lavei sequer um carro", desabafa um deles. "O lugar está parado, não há nenhum carro. Estes dias têm sido vir, sentar e regressar a casa."

Explica que dantes, num dia, fazia 2.500 a 3.000 escudos (cerca de 25 a 30 euros). "Mas ultimamente a situação piorou, está mesmo muito mal". Agora faz apenas 800 escudos (cerca de 8 euros).

Nas estradas, há poucos táxis a circular. Mesmo os que se aventuram têm poucos clientes.

Um taxista conta que há poucos passageiros, "as pessoas não estão a sair". A meio do dia ainda só tinha feito cerca 1.000 escudos (10 euros). "Antes desta crise fazia diariamente 8.000 escudos (80 euros), mas agora se conseguir 4.000 (40 euros) já me dou por satisfeito", afirma.


Setor alimentar em queda

Com os cabo-verdianos em casa, as peixeiras deambulam pelos bairros, mas a venda está fraca. "Ainda não vendi nada", conta uma peixeira que traz garoupa, bica e salmão mas que não encontra ninguém a quem vender.

Os restaurantes estão vazios - podem funcionar até às 21 horas, mas só para fazer entrega ao domicílio.

Num restaurante a funcionar "mais para entrega do que outra coisa", as entregas são poucas. "Está todo o mundo em quarentena e assim sendo as pessoas fazem as suas compras e cozinham em casa".

Infeções dentro e fora de Cabo Verde

Cabo Verde regista até ao momento seis casos do Covid-19 e um óbito. Portugal anunciou no início da semana que importou quatro casos do novo coronavírus de Cabo Verde.

O Diretor Nacional da Saúde, Artur Correia, pediu esclarecimentos às autoridades portuguesas, mas ainda não obteve uma resposta. "Esta é uma questão que me está a angustiar também. Todos os dias enviamos e-mails e falamos por telefone, e estamos à espera."

"Daqui a pouco começo a duvidar se são casos importados de Cabo Verde", diz.

Pré-reformados no reforço da fiscalização

Em entrevista à Rádio de Cabo Verde, o Diretor Nacional da Polícia Nacional, Emanuel Estaline Moreno, admitiu que poderá recorrer aos pré-reformados para reforçar a fiscalização e o cumprimento do estado de Emergência, se a situação piorar.

Existe um despacho nesse sentido em "stand-by" pronto a ser aplicado "conforme for a evolução da situação", referiu Moreno. "Assim saberemos também ajustar o nosso plano operacional de forma a poder dar respostas à situação atual."

Nélio dos Santos (Praia) | Deutsche Welle

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