domingo, 5 de abril de 2020

GOLPISTAS NA SOMBRA DO CORONAVÍRUS


Em 1 de Fevereiro, o Secretário da Defesa dos EUA, Mark Esper, deu instruções ao General Terrence J. O’Shaughnessy (foto) para se manter de prontidão. Em 13 de Fevereiro, este declarou perante a Comissão Senatorial das Forças Armadas estar a preparar-se para o pior cenário. Em caso de catástrofe sanitária, o plano de «continuidade do governo» faria dele o próximo ditador (no senso antigo do termo) dos Estados Unidos.

Thierry Meyssan*

Enquanto as populações têm os olhos postos nos números da progressão do coronavirus, uma profunda reorganização dos executivos tem lugar dando o primado aos altos funcionários de Saúde sobre os políticos. Na sombra, banqueiros e militares agitam-se esperando confiscar o Poder em seu proveito.

O primado da lógica administrativa sobre o da política

Muitos governos dos países industrializados decidiram responder à epidemia de Covid-19 confinando a sua população. Esta estratégia nada tem a ver com medicina, que jamais praticou o isolamento de seres saudáveis, mas com uma boa gestão (gerenciamento-br) de meios médicos visando prevenir uma chegada em massa de doentes para não entupir os hospitais. Raros foram os países industrializados, como a Suécia, que rejeitaram esta abordagem administrativa da epidemia. Eles optaram por uma abordagem médica e não levam avante, portanto, uma quarentena geral.

A primeira lição do período actual é, portanto, que nos países desenvolvidos a lógica administrativa prevalece agora sobre a experiência médica.

Ora, mesmo sem conhecimentos médicos, eu não duvido que milénios de experiência médica podem ser mais eficazes contra uma doença que receitas burocráticas. Além disso, se prosseguirmos a observação do fenómeno em curso, constatamos que de momento a Suécia regista 10 mortes por milhão de habitantes, enquanto a Itália chora 166 por milhão. Claro, estamos no início da epidemia e estes dois países são muito diferentes. No entanto, a Itália terá provavelmente que fazer face a uma segunda, depois uma terceira vaga da infecção, enquanto a Suécia terá adquirido uma imunidade de grupo e estará protegida contra ela.


O primado dos altos funcionários de Saúde sobre os eleitos pelo Povo

Dito isto, o confinamento geral de bens transacionáveis perturba não só a economia, mas também os modos de governo. Um pouco por todo o lado, vemos a voz dos políticos apagar-se perante a das autoridades de Saúde, supostas de serem mais eficazes do que eles. É lógico uma vez que a decisão de quarentena é puramente administrativa. Aceitamos colectivamente lutar pelos hospitais e tratar de nos prevenirmos da doença, em vez de combatê-la.

Todos podem infelizmente constatar que, contrariamente às aparências, não se ganhou em eficácia. Por exemplo, os Estados membros da União Europeia não foram capazes de providenciar os equipamento médicos e os medicamentos necessários no tempo certo. A falha que vem com as regras habituais. Por exemplo: a globalização económica levou a que apenas exista um único fabricante de ventiladores artificiais e que ele seja chinês. Os procedimentos de licitação demoram vários meses antes de se poder dispor deles e não existem políticas capazes de ultrapassar estes procedimentos. Só os Estados Unidos foram capazes de resolver imediatamente esse problema graças às requisições de empresas.

A França, que experimentou durante a Segunda Guerra Mundial, com Philippe Pétain, uma ditadura administrativa denominada o «Estado Francês», viveu já desde há três décadas uma tomada do Poder político por altos funcionários. Falou-se então de ENArquia. Identicamente e sem que ela disso tivesse consciência, privou os políticos do conhecimento da administração que lhes conferia a combinação de mandatos locais e nacionais. Actualmente, os eleitos estão menos bem informados que os altos funcionários e têm as maiores dificuldades para os controlar.

Da mesma forma que as autoridades de Saúde se encontram de repente investidas de uma autoridade que normalmente não possuem, da mesma forma banqueiros e militares aspiram à mesma promoção às custas dos políticos.

Os banqueiros à espera na sombra

O antigo Chanceler do Tesouro (Ministro das Finanças), depois Primeiro-Ministro britânico, Gordon Brown, publicou um artigo de opinião no Financial Times [1]. Aí, ele pugna pela utilização do medo ao Covid-19 para concretizar o que falhou durante a crise financeira de 2008. À época, ele não conseguiu criar um governo financeiro mundial e teve que se contentar com uma simples concertação no G20. Seria possível hoje, prossegue ele, criar um governo de Saúde mundial. E considerar que potências deveriam ser associadas aos membros permanentes do Conselho de Segurança.

Nada permite pensar que esse governo mundial teria melhor êxito que os governos nacionais. A única coisa que é certa, é que ele escaparia a qualquer forma de controle democrático.

Esse projecto não tem mais possibilidades de ser bem sucedido que o do governo financeiro mundial. Gordon Brown era também um feroz partidário da manutenção do Reino Unido na União Europeia. E nisso, uma vez mais ele perdeu.

O Estado profundo dos EUA à espera na sombra

Historicamente, em todas as crises, alguém tenta utilizar o argumento da «urgência» para modificar o Poder sem que o público tenha tempo para se aperceber, e muitas vezes têm-no conseguido.

Em 30 de Janeiro de 2020, a OMS declara o «estado de urgência de saúde pública a nível internacional». No dia seguinte, o Secretário da Defesa, Mark Esper, assina secretamente uma Warning Order (Colocação em Alerta-ndT), estipulando que o NorthCom devia estar de prontidão para uma eventual aplicação das novas regras de «continuidade do governo»
Essas são classificadas Above-Top Secret («Segredo Máximo»-ndT) ; quer dizer que a sua comunicação está reservada às pessoas com o nível mais alto de habilitação de segurança e dispondo, além disso, de um acesso pessoal especial (Special Access Program) (Programa de Acesso Especial-ndT).

Lembremos que o princípio de «continuidade de governo» foi forjado no início da Guerra Fria. Tratava-se de proteger os Estados Unidos em caso de guerra nuclear contra a União Soviética e de morte ou de incapacidade do Presidente, do Vice-presidente e do Presidente da Câmara dos Representantes. Segundo uma Directiva escrita do Presidente Dwight Eisenhower, um governo militar de substituição devia imediatamente assegurar a continuidade do comando durante a guerra até ao restabelecimento dos procedimentos democráticos [2].

Este governo de substituição jamais foi necessário, salvo no 11 de Setembro de 2001, pelo Coordenador Nacional de Contraterrorismo, Richard Clarke [3]. Ora, muito embora o país sofresse um terrível atentado, nem o Presidente, nem o Vice-presidente, nem o Presidente da Câmara dos Representantes estavam mortos ou inabilitados, o que me levou a concluir que se tratava de um Golpe de Estado. Seja como for, o Presidente George Bush Jr. retomou as suas prerrogativas no mesmo dia à noite e nenhuma explicação foi jamais dada sobre o que se havia passado durante as dez horas de suspensão da sua autoridade [4].

De acordo com o melhor especialista do Pentágono, William Arkin, na Newsweek [5], existiriam agora sete planos distintos:

-- Rescue & Evacuation of the Occupants of the Executive Mansion (RESEM) (Salvação & Evacuação dos Ocupantes do Gabinete Executivo-ndT) visando proteger o Presidente, o Vice-presidente e as suas famílias.
-- Joint Emergency Evacuation Plan (JEEP)(Plano de Evacuação de Emergência Conjunta-ndT) visando proteger o Secretário da Defesa e os principais chefes militares.
-- Atlas Plan visando proteger os membros do Congresso e do Tribunal Supremo.
-- Octagon, plano sobre o qual não se sabe nada.
-- Freejack, igualmente desconhecido.
-- Zodiac, também continua a ser desconhecido.
-- Granite Shadow o deslocamento de unidades especiais para Washington e estipulando as condições de emprego da força e da passagem dos locais para a autoridade militar [6].

É de notar bem que, supostamente, o RESEM visa proteger o Presidente e o Vice-presidente, mas só poderá ser aplicado uma vez estes mortos ou inabilitados.

Seja como for, a aplicação destes sete planos seria da responsabilidade do Comando Militar dos Estados Unidos para a América do Norte (NorthCom), sob comando de um ilustre desconhecido, o General Terrence J. O’Shaughnessy.

É preciso lembrar bem que pela Lei dos EUA, este homem só pode tornar-se o ditador dos Estados Unidos em caso de morte ou incapacidade dos três principais eleitos do Estado Federal, mas que aconteceu na prática que o seu antecessor, o General Ralph Eberhart, exerceu a função sem que esta condição tivesse sido verificada. Este, dirige hoje em dia, aos 73 anos, as principais empresas de aviónica militar dos EUA.

O General O’Shaughnessy afirmou, a 13 de Fevereiro, perante a Comissão Senatoeial das Forças Armadas que o NorthCom se preparava para o pior. Para isso, ele mantêm-se quotidianamente em ligação com os outros dez comandos centrais dos Estados Unidos para o mundo [7].

O NorthCom tem autoridade não apenas sobre os Estados Unidos, mas também sobre o Canadá, o México e as Bahamas. Em virtude de acordos internacionais, ele pode, por sua própria iniciativa, enviar tropas dos EUA para esses três países.

Em 2016, o Presidente Barack Obama assinou a secretíssima Directiva Política Presidencial número 40 (Presidential Policy Directive 40) sobre a «Política Nacional de Continuidade» (National Continuity Policy). O Administrador da Agência encarregada das Situações de Emergência (FEMA), Craig Fugate, assinou, dois dias antes da entrada em funções do Presidente Donald Trump, a Directiva Federal de Continuidade número 1 (Federal Continuity Directive 1) que, a propósito, especifica certas modalidades em escalões inferiores.

Eles pensaram em tudo, e estão prontos para o pior. A epidemia fornece-lhes o motivo para passar à acção. De repente, as perguntas feitas pelo porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br) da China, Zhao Lijian, sobre uma possível disseminação deliberada do vírus por militares dos EUA, assumem todo o seu sentido.


* Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: Sous nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).

Notas:
 [1] “End the dog-eat-dog mentality to tackle the crisis”, Gordon Brown, Financial Times (UK), Voltaire Network, March 26, 2020.
[2] Continuity of Government: Current Federal Arrangements and the Future, Harold C. Relyea, Congresionnal Research Service, August 5, 2005.
[3] Against All Enemies: Inside America’s War on Terror, Richard Clarke, Free Press (2004).
[4] A Pretext for War: 9/11, Iraq, and the Abuse of America’s Intelligence Agencies, James Bamfort, Anchor Books (2005).
[6] “Top Secret Pentagon Operation “Granite Shadow” revealed. Today in DC: Commandos in the Streets?”, William Arkin, Washington Post, September 25, 2005.
[7] Hearing to receive testimony on United States Northern Command and United States Strategic Command in review of the Defense Authorization Request for fiscal year 2021 and the future years Defense Program, Senate Committe on Armed Service, February 13, 2020.

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