Catarina Martins |
opinião
Esta semana serão tomadas
decisões vitais sobre a nossa vida. Reúne-se o Conselho Europeu, e os governos
dos vários países da União decidem sobre que resposta europeia será dada à
recessão aberta pela crise pandémica.
E há três possibilidades em cima
da mesa.
A primeira é adiar qualquer
decisão. Não nos enganemos, adiar a decisão é tomar a decisão errada. É
decidir que não há resposta europeia. É decidir que teremos ditaduras na
Hungria e na Polónia e fascistas no Governo em Espanha e Itália.
A segunda é repetir a receita da
crise de 2007 - 2008, ainda que com novos nomes. Era, até há pouco tempo, a
proposta mais forte em cima da mesa. Os países endividam-se junto do Mecanismo
Europeu de Estabilidade para responderem à urgência e daqui a um ano ou dois
serão obrigados a medidas de austeridade para cumprir os critérios dos tratados
e do próprio mecanismo. Uma receita que, infelizmente, conhecemos bem demais.
Afinal, o Mecanismo Europeu de Estabilidade foi um dos pilares da troika.
A terceira possibilidade é a de
uma resposta com financiamento solidário. É um cenário que foi sempre recusado
pela Alemanha e que hoje está colocado de duas formas.
Revisitar uma das hipóteses
colocadas na anterior crise mas que nunca viu a luz do dia: os eurobonds, agora
chamados coronabonds e que, embora assentem na criação de dívida junto de
mercados financeiros, são emissão de dívida conjunta da União Europeia, o que
protege economias periféricas como a portuguesa. Ainda que com limitações,
seria um avanço face a tudo o que foi feito até agora. Foi a proposta feita por
Itália e Espanha, apoiada pelo governo português. Veremos se é mantida e se faz
caminho.
Existe ainda uma outra forma,
mais ambiciosa e a única com capacidade estrutural: o financiamento da
recuperação europeia através de um mecanismo solidário, como o Fundo de
Recuperação, que o Eurogrupo admitiu como possibilidade. Mas esse fundo tem de
ser mais do que um mero slogan: deve ser financiado diretamente pelo Banco
Central Europeu, com juros zero ou próximo do zero e com maturidades muito
longas. Esta é a proposta que o Bloco de Esquerda tem apresentado e que sugeriu
ao governo português que levasse ao Conselho Europeu. Hoje mesmo, o governo
espanhol avançou com uma proposta nesta linha: um fundo de recuperação europeu
de um bilião e meio de euros.
Não sabemos ainda o que fará o
governo português. António Costa tem defendido publicamente a necessidade de
mecanismos solidários, mas Mário Centeno, como presidente do Eurogrupo, tem
sustentado as posições opostas, do governo alemão. Esta indefinição fragiliza o
país. O governo português tem de ter uma posição consistente e forte. Se assim
não for, acabará por estar tragicamente ao lado dos que, insistindo em adiar
decisões ou repetir a resposta da austeridade, recusam qualquer resposta
solidária à crise pandémica.
No Bloco de Esquerda não temos
grande expectativa sobre a União Europeia. Mas mesmo os mais acérrimos
defensores desta União não deixarão de se perguntar: para que serve a União
Europeia se é incapaz de responder a esta crise?
Esquerda.net | com vídeo
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