terça-feira, 21 de abril de 2020

Portugal | Gato escaldado até tem medo de água fria


Já cá faltava. Expresso Curto no final da manhã. Abertura com a pedincha de Portugal (todos nós) a “ir ao mercado” comprar coentros e rabanetes… Perdão, “ir ao mercado” para sacar “até mil milhões de euros”. É o que pode ler no Curto elaborado por Elisabete Miranda, jornalista lá do burgo balseminado. Minado pelos que todos nós bem sabemos, exceto os distraídos ou auto-alienados. Vá, força, saquem esses tais mil milhões que havemos de pagar com língua de palmo e muita fome de quase tudo. A crise covid-19 já está a dar para uns quantos se enricarem ainda mais e transferirem os frutos para os offshores e outros que tais. É assim mesmo, todos nós, plebeus, pagamos e não bufamos, ou se bufarmos já se sabe que para os das castas superiores as bufagens lhes entra a cem e sai a duzentos. Adiante, que até parece que somos masoquistas e estamos para aqui a ralarmo-nos para nada. Uma vez que até sabemos muito bem o resultado futuro que já se delineia no presente.

Bom dia. Consegue ao menos ter um bom dia? Faça tudo por isso. A plebe merece. Muito mais que uns quantos que continuam a ter a faca e o queijo na mão, sempre a cortarem os grandes nacos para eles, para os seus cúmplices na devassa, na corrupção, na exploração e eteceteras correlacionados.

Comemora-se o 25 de Abril na AR ou não? Pois. Há os que discordam. Sempre discordaram. O Cavaco já disse que não ia. Pois. Ele é de 24 de Abril, sempre foi. Democratizou-se em faz-de-conta a fazer a rodagem ao seu novo automóvel para ir ao congresso da Figueira da Foz de onde saiu eleito maioral do PSD, a partir daí Portugal dos pequeninos passou a andar sempre para trás e assim continua. Cavaco não vai. Os do antigamente nem querem comemoração. Claro, está-lhes na massa do sangue: reacionários sempre! Salazaristas sem o defunto fascista Salazar nem o nazi Hitler & Companhia. Cavaco não vai. Faz lá tanta falta como uma viola num enterro. Aliás, ele julga-se vivo? Mas como? Só se for porque ainda nos dá despesa, resultado dos que se alaparam a viverem à conta dos plebeus e pagantes, esbulhados como dantes. Adiante.

Afinal do Curto a seguir provavelmente nada abordamos, exceptuando os tais mil milhões da pedincha aos “mercados”. Eles vão às “compras”. Nós sustentamos os mercantis ilustres da treta do costume. É sempre assim e já há muitas famílias a ver os seus sustentos por um canudo. É a crise, mais uma que inventaram. E dizem que agora isto vai mudar, que o covid-19 será pretexto e ensinamento para fazermos o neoliberalismo fenecer… Que isto vai mudar. Mudar? Só para pior. Afinal até os do PS se regem por imensos princípios neoliberais e acomodam-se aos “mercados”. Deixem-nos rir, porque de chorar estamos fartos.

Pessimismo qb? Pois. Já vimos tanta mixórdia na vida que até parece que somos bruxos.

Fiquem bem. Se conseguirem. Saúde. Sigam para o Curto. Atualizem-se por via do já passado, do sentido presente e negro futuro que lá vem. Para muitos não será novidade… Pois. Gato escaldado até tem medo de água fria.

MM | PG




Desta vez será diferente?

Elisabete Miranda | Expresso

Portugal vai esta semana aos mercados pedir até mil milhões de euros emprestados, e, ao que tudo indica, será obrigado a pagar taxas de juro bem superiores às que que suportou nas últimas emissões. Na semana passada, a Fitch, uma das agências de rating, resolveu antecipar a sua decisão e anunciar uma descida do chamado “outlook” de Portugal. Antes dela, a Moody’s tinha feito o mesmo com a banca, já antecipando o previsível aumento do crédito mal parado. A desconfiança dos “mercados” sobre os países do Sul está a aumentar, e as soluções até agora tiradas a ferros no Eurogrupo não parecem estar a convencer.

O Banco Central Europeu está a segurar as pontas e, enquanto o fizer, comprando dívida no mercado secundário, garantirá que os juros não dispararão muito, como voltou a garantir ao Expresso Luís de Guindos. Contudo, a intervenção do BCE não é eterna e, como os próprios banqueiros centrais não se têm cansado de repetir, está longe de ser suficiente.

A confirmarem-se as sombrias previsões do FMI, Portugal fechará 2020 com uma dívida pública de 135% do PIB. E 135% do PIB é impressionante: é um valor recorde, que supera a pior marca da crise financeira (132,9% em 2014).

Basta lembrarmo-nos do que nos custou a todos, em mais impostos, em congelamentos salariais no Estado, em compressão abrupta de investimento público, em degradação de serviços como a saúde ou a segurança social, para percebermos o que nos espera para voltarmos a fazer outra vez o mesmo caminho. E o mesmo se repete para Espanha, Itália ou de França.

Para já, em complemento à intervenção do BCE, o Eurogrupo acordou três grupos de medidas, no valor global de 540 mil milhões de euros. O Banco Europeu de Investimento lançará linhas de crédito para as empresas, até 200 mil milhões de euros; o Mecanismo Europeu de Estabilidade (o fundo de resgate da zona euro) emprestará até 240 mil milhões aos países para despesas com cuidados de saúde (a Portugal caberiam aproximadamente 4 mil milhões); e, através de um outro mecanismo a criar (o famoso SURE) emprestam-se até 100 mil milhões para os estados fazerem face ao desemprego e aos lay-off.

Tratando-se de empréstimos, eles não resolvem os problemas de dívida pública que os países têm pela frente, nem diminuem a espiral de desconfiança nos mercados que estas podem provocar no futuro - quando muito, ajudarão a conter o custo com os juros, se os empréstimos europeus forem mais baratos que os praticados pelo mercado.

Com as chamadas coronabonds mortas à nascença, a “novidade” da próxima cimeira de dia 23, joga-se num Fundo de Recuperação, uma espécie de Plano Marshall que ajude ao relançamento económico na Europa, através do reforço do orçamento da União Europeia. Mas aqui dois novos problemas surgem. Por um lado, o financiamento: é preciso que o dinheiro não venha de empréstimos diretos aos países (pelos menos não nos moldes tradicionais), sob pena de Estados como Portugal, já com elevados níveis de dívida, se verem impossibilitados de investir na retoma. Por outro lado, o montante do pacote: para ter impacto tem de ser suficientemente grande para contrariar as dinâmicas recessivas.

Nos últimos dias assistimos a um corrupio de declarações de responsáveis europeus a pressionar para uma resposta robusta por parte da Europa: Mácron quer um fundo de 400 mil milhões financiado por dívida comum europeia; à SIC e ao Expresso, a presidente da Comissão Europeia garantia que “vamos ter um orçamento europeu muito maior”, mas sem se comprometer com valores nem modos de financiamento. Esta segunda-feira, o seu braço direito para as questões económicas, Paolo Gentiloni, defendeu à der Spiegel um fortalecimento do orçamento europeu em 1 bilião de euros. Mário Centeno, ao Público, fala esta terça-feira em doze zeros, e de "soluções próprias, apropriadas e inovadoras" para o seu financiamento, mas sem abrir o jogo. E Pedro Sánchez, aqui ao lado, avançou com outra ideia: que o orçamento europeu seja reforçado com 1,5 biliões de euros, valores esses financiados por dívida perpétua e distribuídos pelos países sob a forma de subsídios, em função do impacto da crise.

No próximo dia 23 passam, curiosamente, dez anos sobre o pedido de resgate grego, que desencadeou um efeito dominó na zona euro. Uma década depois, a Europa está sem dúvida mais preparada para lidar com as crises. Mas a sua resposta, desta vez, será diferente?

OUTRAS NOTÍCIAS COVID-19

“Olá amigos, eu sou a Isa e vou ser a vossa professora de português agora nas próximas aulas. Não sei como é que vocês se sentem aí em casa mas eu nesta primeira aula estou um bocadinho nervosa, mas a pensar que vocês estão aí em casa comigo vai correr tudo um bocadinho melhor. Ok?”. Assim arrancou o regresso da “tele-escola”, 30 anos depois da última emissão. No primeiro dia fomos falar com a professora Isa e alunos que estiveram do outro lado do ecrã.

A comemoração do 25 de abril no Parlamento continua a cavar divisões. Ramalho Eanes avançou ao Expresso que só marcará presença “por responsabilidade institucional”, sem Manuela Eanes a seu lado. Jorge Sampaio faltará por razões de saúde. André Ventura marcará presença, mas em protesto, numa cerimónia que contará, no máximo, com 65 deputados no hemiciclo.

As curvas que acompanhamos diariamente com os indicadores da covid-19 começam a achatar, mas, na economia, elas disparam. Março foi um mês em que o grande apagão já se fez sentir em força na atividade económica e no mercado de trabalho, com quase mais 30 mil pessoas a baterem à porta dos centros de emprego.

Excesso de produção e uma quebra de 30% na procura levaram esta segunda-feira os contratos de futuro do petróleo a negociar em valores negativos, em Nova Iorque. A quebra é histórica, não tem precedentes, e surge numa altura em que as companhias petrolíferas já recorrem a superpetroleiros estacionados em alto mar para armazenarem o “ouro negro”. Apesar de, na prática, isto sinalizar que os produtores estao dispostos a pagar para lhes ficarem com o petróleo, isto não significa petróleo de graça, como lhe explicamos aqui. Hoje de manhã os preços já tinham voltado a terreno positivo.

Tenho de mudar a roupa quando chego a casa? O vírus pode depositar-se no cabelo ou na barba? O correio ou os jornais são fontes de transmissão? Apesar do muito que já sabemos sobre a covid-19, há muitas perguntas com respostas ainda em elaboração. Neste texto ajudamos a avançar um pouco mais.

Deitar e levantar sempre à mesma hora. Fazer exercício físico. Beber no máximo dois cafés por dia. Evitar o álcool. Não levar problemas para a cama. E, para quem está em teletrabalho, “fazê-lo em local próprio separado da atividade da família e com horários e pausas determinados”. Parece um catálogo de castigos a somar ao castigo de estar em confinamento, mas, segundo a Associação Portuguesa do Sono, é o segredo para noites bem dormidas durante esta fase.

Obrigado a uma aterragem forçada, o sector da aviação debate-se com uma profunda crise. No Reino Unido, Richard Branson, com a sétima maior fortuna do Reino Unido e dono da Virgin Atlantic, que vem sendo criticado por procurar ajuda estatal, avançou com uma proposta curiosa para convencer o Governo e a opinião pública: está disposto a dar a ilha privada onde vive, nas ilhas Virgens, como garantia.

Esta terça-feira, a Igreja Católica vai explicar como se fará o regresso às celebrações litúrgicas a partir do próximo mês, entre as quais o 13 de maio.

Também esta terça-feira, três dos cinco maiores banqueiros do país vão ser ouvidos no Parlamento sobre o seu papel na crise. Os deputados quererão saber porque é que o dinheiro ainda não chegou às empresas, porque são os juros tão altos, e se estão a fazer seleção de clientes em função do risco. Quarta-feira as sessões prosseguem.

OUTRAS NOTICIAS EXTRA-COVID

A EDP sofreu um ataque informático sem precedentes, que mete pedidos de resgate e tudo (aparentemente sem consequências). A empresa vem minimizando o incidentes mas, aos poucos, vai-se percebendo que os piratas chegaram a informação sensível, como registos de reuniões e pormenores de negócios.

Em outubro o grupo José de Mello pôs 80% da Brisa à venda, e o negócio é mesmo para avançar até junho. Há cinco candidatos na corrida, num negócio que deverá movimentar 3,5 mil milhões de euros.

Os funcionários públicos começaram a receber as atualizações salariais com retroativos a janeiro. Os 0,3% são magros face aos 10,5% de poder de compra que perderam desde 2010, mas, face à austeridade que se avizinha, poderão ser os únicos que voltam a ver em muitos anos. Médicos e enfermeiros terão de esperar mais um mês, avança o Público, devido a problemas informáticos.

Em Israel, uma coligação de “emergência nacional” pôs fim a um impasse que se arrastava há mais de um ano. Benjamin Netanyahu e Benny Gantz assumirão o cargo de primeiro-ministro de forma rotativa, uma decisão que poderá partir o partido Azul e Branco.

A 15 de abril, Kim Jong Un, líder da Coreia do Norte, faltou aos festejos do aniversário do seu avô, lançando dúvidas sobre o seu estado de saúde. Nos Estados Unidos, a CNN, com base em fontes próximas do processo, diz que o líder norte-coreano encontra-se em perigo de vida após ter feito uma operação ao coração, mas as notícia foi prontamente desmentida.

FRASES

Estou grato por o risco da minha profissão ser reconhecido. (…) Mas tenho um problema com toda esta conversa dos heróis. É um rótulo pernicioso repetido por aqueles que desejam ganhar alguma coisa - dinheiro, bens ou consciência limpa. Na the Atlantic

Itália enfrenta mais perigos do que a zona euro admitirá. Wolfgang Munchau, no Financial Times

O absurdo e a crueldade do nosso sistema de saúde é agora evidente para todos. À media de que dezenas de milhares de americanos perdem o seu emprego e rendimentos em resultado da pandemia, muitos deles perdem também o seguro de saúde. É o que acontece quando a saúde é vista como um benefício do trabalho, e não um direito garantido. Bernie Sanders, no New York Times

Eu sou, realmente, a Constituição. Jair Bolsonaro, citado pela Folha de São Paulo

Seria estranho que o Parlamento pudesse funcionar todos os dias, como funcionou, com o plenário a reunir-se para votar várias vezes o Estado de Emergência, e só não pudesse funcionar no dia 25 de abril. Daniel Oliveira, no Expresso

O QUE ANDO A LER

Durante dez anos Clarice Lispector complementou a sua carreira de jornalista, contista, romancista com colaborações intermitentes em colunas femininas a convite de tabloides brasileiros. Fê-lo por necessidades financeiras, e com recurso a pseudónimos, para não deixar que a sua reputação literária fosse contaminada pela superficialidade dos conselhos cor de rosa. Após a sua morte, contudo, esta incursão paralela é considerada um contributo valioso para compreender o universo da misteriosa Clarice - e é com essas pequenas crónicas, reunidas num livro intitulado “correio para mulheres”, que me tenho entretido nos últimos dias.

Clarice, através de Teresa Quadros, Helen Palmer e Ilka Soares fala para as mulheres brasileiras das décadas 1950-1960, burguesas, mães, donas de casa e apoios de seus maridos. Num tom íntimo e confessional, leva-lhes conselhos sobre beleza, moda, etiqueta, boa administração do lar e das empregadas. Partilha pequenos truques de sedução, aconselha exercícios para aumentar o busto, dicas para disfarçar imperfeições físicas, ensina a andar com elegância, a cruzar as pernas com decoro, prescreve mezinhas caseiras, e discorre sobre o comportamento que as mulheres devem adotar para não exasperarem os maridos.

O livro pode-se ir lendo de forma descontínua, picando uma crónica aqui, ignorando outra acolá, e se, em algumas parece que estamos perante um discurso bolorento, que reproduz o conservadorismo e machismo da época, noutras, encontramos respostas argutas de Clarice para as reservas que parece pressentir nos leitores. Como esta: “Você é moralmente tão antiquada a ponto de considerar vaidade feminina uma frivolidade? Você já devia saber que as mulheres querem se sentir bonitas para se sentirem amadas. E querer sentir-se amada não é frivolidade”.

Desejo-lhe uma boa terça-feira. Ao longo do dia esperamos por si no Expresso online e no Expresso Economia, no Tribuna, no BlitzVida Extra e, a partir de hoje, também no Expresso Exclusivos, uma nova página onde encontrará reunidas as notícias para assinantes que formos publicando todos os dias. Daqui a poucas horas segue o boletim exclusivamente dedicada à pandemia. Até já.

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