quarta-feira, 29 de abril de 2020

O neoliberalismo precisa de vós jovens e saudáveis para vos explorar


Os mais velhos que se lixem!

Bom dia. Expresso Curto, que decerto não será para mais tarde recordar. O imediatismo assola-nos como a sede que nos ataca no deserto depois de concluirmos que  o conteúdo escapou por um furinho do cantil. Do Curto salientamos os parágrafos sobre o motim numa prisão peruana, com seiscentos infetados por covid-19 como se nada fosse. Um recluso já morreu. Outros se seguirão. A autora do Curto de hoje, Paula Santos, começa por aí e avança para Portugal, fazendo notar que “Portugal prepara-se para entrar numa nova fase no combate à pandemia”. Pois sim. Vamos a isso.

Nova fase. Com o fim do Estado de Emergência mas com muitas contenções à vida normal. É agora que vamos ver como reagirá o tão elogiado povo português com o seu civismo e cuidados acrescidos por ele e pelos outros. Para muitos a opinião é a de que há portugueses em demasia a baldarem-se ao rigor desses cuidados devidos a eles e aos outros seus concidadãos. Uns porque sim, está-lhes na massa arrogante do sangue. Outros por evidente ignorância… E vamos por aí no catálogo. É ver as ruas já com gente a mais, a “socializarem”. Novos e velhos. Homens e mulheres. Crianças que, fartos da “prisão”, jogam à bola e se chegam aos amigos como se nada temessem. E não temem, nem se lembram do covid-19. Preferem festejar o golo que lhes dá a vantagem perante a equipa adversária, composta por muitos amigos de brincadeira e de escola.

António Costa afirmou que se necessário damos um passo atrás e regressamos ao confinamento e a medidas adequadas se os números de vítimas do covid-19 começarem a subir. Está dito. Vamos ver se não sobem. É que no ar já há a convicção de que o pior já passou. Talvez. Mas pode regressar. De modo muito pior que o pior que esteve. Certo é que o sistema se livrou de uns quantos milhares de idoso (reformados/pensionistas). A segurança social vai poupar ao longo dos anos todas essas despesas com a velhice. Uf!

Não há quem diga assim mas veja nisso o alívio nos encargos com esses tais velhos mais frágeis de uma população envelhecida. Mas sentem-no e pensam que há males que vêm por bem. Claro que não se lembram que foram exatamente esses velhos(as) falecidos(as) que construíram Portugal ao longo de décadas, que foram explorados e enriqueceram muitos empresários, que suportaram e alimentaram coercivamente uma guerra colonial por 13 anos. Que lutaram contra o fascismo salazarista e que só muito raramente iam a um médico. Passaram imensas décadas com ordenados de miséria sem darem um tostão de despesa ao Estado mas sim a sustentá-lo sem o mínimo retorno. Graças a isso existem Mellos, Champalimouds e quejandos. Afinal, esses, os “amigos” dos políticos atuais. Outros desses vieram. Os que até se dão ao luxo de não pagarem impostos em Portugal mas continuarem a fazerem fortuna por via dos portugueses incapazes de raciocinarem e boicotarem gente dessa – já que os políticos amigos não o fazem.

Adiantando. Sabemos que vêm aí (já cá está) mais uma crise económica. Para quem? Para os do costume, os (miseráveis) que criam riqueza para uns quantos esbanjarem e pavonearem-se a dizerem-se prejudicados, quase pobres, fazendo coleção de despedimentos e sugando ao Estado o mais que conseguem. E os dos “poderes democráticos” cedem, em detrimento dos que trabalham e são explorados a torto e a direito.

Fomos curtos neste Curto do Expresso. Nem trazemos novidades. Terminemos com homenagem aos sonhadores que esperam que após o covid-19 tudo vai melhorar, que vem aí um mundo novo. Balelas. Faltam "bolas" e tomates. O neoliberalismo e o fascismo está em modo de avançar a toda a força, a repressão que uns quantos exigem aos Estados pôr em prática testemunha que muito do que era razoável e ainda democrático já foi. Vêm aí tempos muito mais difíceis com a cumplicidade dos políticos nos poderes. Políticos em que as populações manipuladas votam e os conduzem aos “poleiros” da obediência aos cifrões que só uns quantos detêm. A ganância desses é a miséria de milhões.

Bom dia. Se conseguirem. Avancem para o Curto. Tem mais para se inteirarem. Acautelem-se. Protejam-se. O neoliberalismo, o fascismo, precisa de vós jovens e saudáveis para vos explorar. Os idosos que se lixem (pensamento que guardam mas não dizem).

MM | PG




Contagem decrescente para um futuro incerto

Paula Santos | Expresso

Um homem só no topo de um edifício.

Pode não ser o prédio mais alto das redondezas, mas é um dos pontos altos do edifício onde o guarda prisional trabalha e de onde tem maior visibilidade para o pátio da cadeia.

Não se vê mais ninguém mas quase conseguimos sentir o tumulto que por ali passou. Adivinhamos agora o silêncio que costuma seguir-se aos momentos de tensão e violência.

O fumo que rodeia a figura do guarda adensa o ambiente.

Ali está, de pé, costas voltadas para a fotografia e com o que parece ser a arma pousada no chão, ao seu lado.

momento foi captado pelo fotojornalista Rodrigo ABD em Lima, capital do Peru, horas depois de um motim na cadeia Miguel Castro onde morreram esta terça-feira 9 pessoas. Somam-se às duas vítimas mortais da covid-19 dos últimos dias.

falta de condições do estabelecimento prisional para lidar com os casos da infeção desencadeou o rastilho de uma crise que já vem de trás. Há cerca de 600 detidos infetados nas cadeias peruanas.

O retrato do Peru, felizmente distante dos nossos dias, é apenas um exemplo do que se vive em vários pontos do mundo, invadido por um vírus para o qual ainda não existe vacina e com o qual continuamos todos os dias a aprender a lidar. E onde cada passo que se segue tem de ser bem medido e ponderado. Como fizeram e estão a fazer outros países antes de nós.

Portugal prepara-se para entrar numa nova fase no combate à pandemia.

No próximo sábado à meia-noite termina o Estado de Emergência. O Presidente da República confirmou o que já se anunciava “não é possível viver em confinamento meses consecutivos”. Teria porventura preferido fazê-lo num contexto de saúde mais favorável e por isso não esquece o aviso: não há renovação da medida, mas o vírus não desaparece e não se pode facilitar.

A mudança ocorre numa altura em que o número médio de contágios por cada pessoa infetada (indicador R0) está pior do que há algumas semanas, mais alto do que seria recomendável para o início do desconfinamento gradual e acima do que estava nos restantes países que já começaram a regressar à normalidade.

São dados que preocupam as autoridades de Saúde, misturados com outros, mais favoráveis ao desconfinamento (como veremos mais adiante), mas o que parece evidente é que, no caminho pós Estado de Emergência, o Governo optou por uma mudança de estratégia na avaliação dos cenários e traçou um rumo, para lá dos alertas dos especialistas.

Do encontro das altas figuras do Estado com as autoridades de Saúde sobrou uma linha vermelha que ficou claramente traçada e merece ser sublinhada: o SNS só aguenta até 4 mil internamentos, sob pena de entrar em rutura. Se estivermos lá perto as campainhas começam a tocar, ou, nas palavras do primeiro-ministro, “se as coisas começarem a correr mal, teremos de dar um passo atrás”.

Dentro de pouco mais de 24 horas, ficamos a saber o que se segue. À emergência segue-se o Estado de Calamidade? Com que medidas de restrição? Com que calendário? Em que sectores?

Há quem já tenha pensado no assunto e queira colaborar na solução. É o caso de um grupo de dez especialistas da Universidade Nova que elaborou um relatório que aponta caminhos para o desconfinamento, baseado em cinco eixos a desenvolver em dezoito meses.

O eventual cenário do Estado de Calamidade, que mereceu uma referência do primeiro-ministro na SIC há um mês, está a ser preparado enquanto as reuniões prosseguem. Esta quarta-feira António Costa recebe os partidos, já com recados em cima da mesa. O PCP diz que, com as opções governamentais, há o risco de empobrecimento como aconteceu nos tempos da troika. O CDS já fez saber que não vai aceitar discutir no futuro um eventual aumento de impostos, corte de pensões ou nacionalizações. O Bloco leva uma proposta: Propõe a redução na mensalidade das creches, proporcional à perda de rendimentos.

A verdade é que o cenário económico do país faz soar todos os sinais de alarme. O relatório mais recente com o balanço do segundo Estado de Emergência é claro e não apenas nas questões económicas. Há mais portugueses a sair de casa, ainda com o Estado de Emergência em vigor, apesar dos avisos. Não se pense que é caso único, há aliás exemplos piores.

Se comecei a primeira parte deste Expresso Curto a destacar uma fotografia do mundo às avessas em tempos de pandemia, acabo com outra. Praias apinhadas na Califórnia no fim-de-semana, contra todas as recomendações. Uma multidão a contrariar os alertas no país com mais casos em todo o mundo e que acaba de ultrapassar a barreira do milhão de infetados.

AINDA A COVID-19

Vamos aos dados concretos das últimas 24 horas.

O trabalho de infografia do Expresso tem a assinatura do Jaime Figueiredo e da Sofia Rosa.

Começamos pelos números. Já morreram 948 pessoas em Portugal, vitimas de covid-19. Há mais de 24 mil infetados e o número de doentes recuperados superou o das vitimas no espaço de 24h, o que se tem vindo a repetir desde a semana passada. Os internamentos baixaram.

Não podemos afirmar que o pior já passou, mas podemos assegurar que, na comparação com outros países, há uma tendência de abrandamento do crescimento da curva em Portugal.

Olhamos para o planeta e encontramos praticamente 3 milhões de casos de infeção confirmados.

Para quando o regresso do futebol e das outras atividades desportivas? Os presidentes do Sporting, FC Porto e Benfica e ainda os presidentes da Liga e da Federação Portuguesa de Futebol estiveram reunidos com António Costa. Saíram esperançados na retoma do campeonato, mas sem certezas.

Esta quinta-feira pode assim ser também decisiva para o desporto. E com os patrocinadores das transmissões, como a Altice, fora de cena enquantos os jogos não regressarem, é grande a preocupação dos agentes desportivos.

Uma última nota. A situação de emergência conseguiu aquilo que raramente vimos no mundo do futebol: colocar, lado a lado, os 3 presidentes dos maiores clubes. A foto faz manchete em vários jornais.

Para quando o regresso dos concertos e festivais de verão? Os promotores de espetáculos também foram recebidos pelo Governo. Do encontro não saíram certezas, apenas a convicção de que as decisões, a serem tomadas, vão ser graduais no tempo. E dependem, uma vez mais, do Conselho de Ministros desta quinta-feira.

Esta quarta-feira começa a desinfeção nas escolas. A prever o regresso dos alunos do 11º e 12º ano. As operações envolvem elementos do Exército e da Marinha portuguesa.

OUTRAS NOTÍCIAS

Negócios em tempos difíceis. Está concluído o processo de venda da BRISA. O grupo José de Mello deixa de ter o controlo mas mantém a presidência da administração. 81% da empresa passa para as mãos de um consórcio de três investidores estrangeiros. O Diogo Cavaleiro explica quem são.

O primeiro de maio está a dividir os sindicalistas da CGTP. Nem todos concordam com as celebrações que implicam saídas à rua e já deram conta do seu descontentamento. As divergências, apurou a Rosa Pedroso Lima, envolvem a minoria sindical do Bloco de Esquerda.

A segurança social recebeu mais de 62 mil pedidos de lay-off mas muitas das ajudas solicitadas não foram aprovadas. Em causa pode estar o facto de existirem falhas ou erros nos pedidos. Além das recusas de candidaturas consideradas não elegíveis. Confira os números. Os prazos para os pagamentos (que já tinham sido prolongados para o final do mês) Têm agora como data limite o dia 5 de maio.

A denúncia faz manchete no JN: Máscaras sociais com certificados falsos vendidas por dezenas de empresas. Têm o rótulo da empresa que certifica sem que algumas vez tenham por lá passado. Mais uma preocupação a ter em conta. Pelo nosso lado perguntamos se conhece as regras para o uso de máscaras? Onde e quando as deve usar, onde as pode comprar. Confira aqui as dúvidas antes da utilização.

Já recebeu o reembolso do IRS? A entrega das declarações começou há quase um mês e algumas devoluções já foram efetuadas. Em média, o valor reembolsado é mais baixo 10% em comparação com o ano passado.

Os centros comerciais querem voltar à atividade ao mesmo tempo do que o comércio tradicional. Os responsáveis asseguram que estão prontos e preparados para pôr em marcha medidas sanitárias e de segurança.

Nem a PSP foi poupada numa ação de cibercrime. O logótipo da polícia foi utilizado para burlas através do email. A denúncia partiu da própria polícia que fez um balanço sobre crimes e detenções em Estado de Emergência para concluir que caiu para metade.

Manter a calma, com o stress e da ansiedade dos dias que correm, pode não ser suficiente sem ajuda. As linhas de apoio à saúde mental já atenderam centenas de utentes em consultas online ou presencialmente.

FRASES

“O fim do Estado de Emergência não é o fim do surto” - Marcelo Rebelo de Sousa

“Lamento, mas quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres” – Jair Bolsonaro

O QUE ANDO A LER/VER

Começo pela Opinião que pode encontrar por aqui todos os dias:

Ricardo Costa – “Abrir? Claro, não há alternativa nem nunca houve

Henrique Raposo – “A quarentena mata mais do que o vírus

Francisco Louçã – “Não senhor ministro, nem toda a dívida é imposto futuro

Daniel Oliveira – “A câmara de gás da Trofa

Gonçalo M.Tavares – “Diário da peste. Os corredores dos aeroportos parecem ter aumentado de tamanho”.

Neste Expresso Curto, marcado pelo peso de muitas imagens, volto a deter-me numa fotografia carregada de significado e da história que a acompanha.

Carlos Alberto Ferreira, de 71 anos, integrou a força comandada pelo capitão Salgueiro Maia e esteve no quartel do Carmo há 46. A partir daí todos os anos foram anos de celebração.

Subir a avenida da Liberdade passou a ser uma rotina que nunca dispensou e não seria uma pandemia que lhe iria alterar os planos. No sábado passado, voltou a ficar na história. A Joana Pereira Bastos conta-lhe porquê.

Sei que esperava por uma sugestão literária. Não lhe vou mentir, a pandemia em todas as suas vertentes, toma-nos todos os minutos nestes dias que vivemos a correr. Por mim falo, naturalmente.

Tenho há algum tempo um livro na minha mesa de cabeceira que já folheei mas ainda não desvendei. Chama-se “O Estrangeiro”. O autor é Albert Camus, de quem já tanto se falou por causa de “A Peste”.

Há dias juntei-lhe o “Diário de um Killer Sentimental” de Luís Sepúlveda. São da biblioteca de casa e quero (re) descobrir ambos. São pequenos livros (no tamanho) que me voltaram a desafiar por razões diferentes e ao mesmo tempo semelhantes. É a pandemia e são os tempos de incerteza que os une de forma inesperada. Como tantas coisas neste novo mundo que desvendamos.

Que nada lhe escape por estes dias são os votos que lhe deixo. Em segurança!

A atualidade está toda em https://expresso.pt/. Na Tribuna, na Blitz e numa nova página de exclusivos que criámos para si – onde encontra textos que reúnem os melhores trabalhos que a equipa do Expresso produz.

Tenha uma boa quarta-feira!

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