As provas de que o presidente
Jair Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal (PF) serão apresentadas às
autoridades no momento oportuno, afirmou o ex-ministro da Justiça Sergio Moro
em uma entrevista concedida à revista Veja.
A interferência do presidente na corporação foi o
estopim do pedido de demissão de Moro da pasta, há uma semana, após um ano e
quatro meses no cargo. Anteriormente, ele teve uma carreira de 22 anos na
magistratura, a qual abdicou para lutar contra a corrupção.
À revista, Moro afirmou que tinha a promessa de Bolsonaro de que o
combate à corrupção seria prioridade. Porém, não foi o caso na prática.
"Sinais de que o combate à
corrupção não é prioridade do governo foram surgindo no decorrer da gestão.
Começou com a transferência do Coaf [Conselho de Controle de Atividades
Financeiras] para o Ministério da Economia. O governo não se movimentou para
impedir a mudança. Depois, veio o projeto anticrime", declarou o
ex-ministro.
Em outro trecho da entrevista,
Moro lamentou a falta de esforços do presidente em prol do pacote anticrime, e
lembrou que não aprovava a aproximação de Bolsonaro com políticos com um
histórico de envolvimento com casos de corrupção.
"Recordo que praticamente
implorei ao presidente que vetasse a figura do juiz de garantias, mas não fui
atendido. É bom ressaltar que o Executivo nunca negociou cargos em troca de
apoio, porém mais recentemente observei uma aproximação do governo com alguns
políticos com histórico não tão positivo", prosseguiu ele.
Questionado pela troca de
mensagens com a deputada federal Carla Zambelli, que vazou para o Jornal Nacional, da Rede Globo, Moro
defendeu-se que não podia admitir ser chamado de mentiroso pelo presidente. Nas
mensagens, a parlamentar tenta convencê-lo a aceitar a troca na direção da PF,
sugerindo inclusive uma oferta de uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
"Eu apresentei aquelas
mensagens. Apresentei única e exclusivamente porque no pronunciamento do
presidente ele afirmou falsamente que eu estava mentindo. Não posso admitir que
ele me chame de mentiroso publicamente. Ele sabe quem está falando a
verdade", pontuou Moro.
O ex-ministro da Justiça deverá
ser ouvido em um prazo máximo de cinco dias pela PF, conforme determinado
pelo ministro do STF Celso de Mello, relator de um inquérito aberto para apurar as denúncias de Moro
contra Bolsonaro. Ele afirmou que apresentará mais provas a fim de defender a
verdade, sem a intenção de prejudicar o presidente.
"É importante deixar muito
claro: nunca foi minha intenção ser algoz do presidente ou prejudicar o
governo. Na verdade, lamentei extremamente o fato de ter de adotar essa
posição. O que eu fiz e entendi que era minha obrigação foi sair do governo e
explicar por que estava saindo. Essa é a verdade", sentenciou.
Sputnik | Imagem: © AP Photo /
Eraldo Peres
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