Enquanto Brasil e Estados Unidos
quebram tristes recordes em mortes e infecções por coronavírus, países como
Paraguai, Uruguai e Costa Rica destacam-se pelas ações para conter o avanço da
pandemia.
Com cerca de 2,3 milhões de casos
confirmados, as Américas registam atualmente o maior número de infecções pelo
coronavírus Sars-Cov-2 entre os continentes do mundo. No entanto, os dados de
três países chamam atenção em nível regional e, em parte, global. De acordo com
seus respectivos ministérios da Saúde, na Costa Rica foram registados 930
casos de covid-19 e 10 mortes; o Uruguai tem 22 mortes e um total de 769
casos; e as autoridades do Paraguai registram 862 infecções e 11 mortes.
Algo que os três países têm em
comum é que seus governos agiram rapidamente, diz Carin Zissis, da organização
Sociedade Americana/Conselho das Américas (AS/COA). A Costa Rica, por exemplo,
foi o primeiro país da América Central em que foi registado um caso de
covid-19 e, apesar de sua forte dependência do setor de turismo, em poucos
dias, o país fechou suas fronteiras e restringiu as viagens.
O Uruguai declarou emergência de
saúde e fechou as escolas no mesmo dia em que os primeiros casos foram
confirmados. "Dos três países, é também o país com a maior taxa de
testagem", afirmou Zissis à DW. O Paraguai, por sua vez, aplicou medidas
de quarentena após a confirmação do segundo caso de contágio.
No entanto, como não são os
únicos países latino-americanos que reagiram rapidamente à pandemia, Zissis
também destaca fatores locais, como o facto de os três países terem populações
relativamente pequenas. "Na América Latina, vimos que grandes áreas metropolitanas,
como São Paulo e Cidade do México, são os epicentros."
Brasil, uma ameaça regional
Guillermo Sequera, diretor-geral
de Vigilância Sanitária do Paraguai, faz uma avaliação positiva da fase de
suspensão gradual das medidas de confinamento. Em entrevista à DW, ele citou o
autor Roa Bastos, que descreveu o Paraguai como uma "ilha cercada por
terra" e explica que é um país "com movimento e conectividade
relativamente baixos com as grandes cidades do mundo. A conectividade global do
território define a velocidade com que a epidemia é instalada."
No entanto, a resposta
bem-sucedida do governo paraguaio ao coronavírus pode ser afetada pela gestão
de crises na região. Na opinião de Guillermo Sequera, "o problema agora é
o Brasil. Acreditamos que a Argentina está adotando medidas de defesa interna
que acabam ajudando a região e nosso país. O que acontece no Brasil definirá o
ritmo da epidemia regional e de todas as medidas não farmacológicas que estão
sendo implementadas."
Na última segunda-feira (18/05),
o presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, anunciou que, por serem os
"focos mais vulneráveis", fronteiras e escolas serão os últimos a
abrir. "Ainda não podemos abrir a fronteira enquanto houver disseminação
significativa do vírus em nossos países irmãos e vizinhos", afirmou.
Luis Roberto Escoto,
representante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) no Paraguai,
ressaltou que, nesse sentido, também é preocupante o número de cidadãos
paraguaios que deseja retornar ao país. "Os esforços estão concentrados em
organizar essas entradas de maneira mais fluída, ordenada, social e controlada
do ponto de vista sanitário. A cooperação internacional também está apoiando o
país a enfrentar esse grande desafio", disse o funcionário da Opas à DW.
Seu colega Giovanni Escalante
Guzmán, representante da Opas no Uruguai, disse concordar que, em nível
regional, o "principal desafio é a implementação de controle sanitário
adequado e medidas preventivas frente à entrada de casos não diagnosticados na
ampla fronteira que o país tem com o Brasil, principalmente em cidades
binacionais como Rivera-Santana do Livramento e Chuí."
Uruguai, uma história de sucesso
Segundo o especialista, "o
país mostra uma evolução epidemiológica que indica que a pandemia de covid-19
está contida". Enquanto a taxa de mortalidade nos EUA é de 6%, no Uruguai,
ela permaneceu estável em torno de 2,7%.
Entre os principais fatores que contribuíram para conter a propagação do vírus no país sul-americano, Giovanni Escalante mencionou "o nível sustentado de investimento público em saúde há mais de 15 anos" e destacou que "o Uruguai tem uma vantagem comparativa sobre outros países por sua solidez institucional, uma tradição democrática e cívica com uma importante credibilidade relativa em seus líderes, uma forte presença do Estado em áreas como saúde, seguridade social, sistema educacional e capacidade reguladora do setor privado."
Escalante também destacou a
"civilidade da população que acatou e cumpriu as medidas restritivas sem a
necessidade de torná-las obrigatórias." Também no caso da Costa Rica, o
sólido sistema de saúde foi um fator-chave na luta contra a pandemia. Com 79,6
anos, a Costa Rica regista a maior expectativa de vida na América Latina,
aponta Evelyn Gaiser, representante da Fundação Konrad Adenauer no país centro-americano.
O Fundo da Seguridade Social da Costa Rica (CCSS) possui hospitais em todo o
país e mais de 50 mil funcionários, o que equivale a um empregado para cada 100
habitantes.
Na opinião da especialista, a
resposta costa-riquenha também se destaca por sua "agilidade e espírito de
inovação". Em estreita cooperação com instituições privadas, o governo
apostou em especialistas na área de tecnologia médica. As soluções inovadoras
variam desde o desenvolvimento de equipamentos de proteção usando impressoras 3D
até a implantação de um hospital especializado em covid-19 em apenas 11 dias,
disse Gaiser à DW.
As medidas de contenção do
coronavírus relativas aos portadores, no entanto, foram fortemente criticadas.
Depois de detectar 50 casos de coronavírus em funcionários de transportadoras
estrangeiras desde 5 de maio, a Costa Rica decidiu restringir a entrada de
motoristas do exterior, o que gerou desconforto no setor privado e nos governos
da América Central, que exigiram que a medida fosse suspensa.
Viola Traeder (ca) | Deutsche
Welle
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