Trump e Taiwan manifestam apoio aos dissidentes de Hong Kong
Pelo menos 15 pessoas foram ontem
detidas pela polícia de Hong Kong, que lançou gás lacrimogéneo para dispersar
manifestantes, um dia antes do debate da polémica proposta de lei do hino.
De acordo com jornalistas da
agência de notícias France-Presse (AFP) no local, o incidente deu-se em
Central, quando a polícia tentava dispersar uma centena de manifestantes,
recorrendo a gás lacrimogéneo. Dois adolescentes foram detidos na posse de
bombas incendiárias de fabrico caseiro, noticiou a imprensa local, sendo que no
total foram registadas pelo menos 15 detenções.
O Governo de Hong Kong indicou em
comunicado que os manifestantes bloquearam algumas ruas, “com a intenção de
paralisar o trânsito”, enquanto na internet se multiplicaram os apelos de
activistas pró-democracia para continuar os protestos frente ao Conselho
Legislativo.
O debate sobre a chamada “lei do
hino nacional”, uma proposta de lei que criminaliza insultos ao hino chinês,
surge num momento de tensão na cidade semiautónoma, após a China ter anunciado,
na semana passada, a intenção de aprovar também uma lei de defesa da segurança
nacional, que poderá limitar as liberdades em Hong Kong. Esta
lei de segurança, que visa proibir a “traição, secessão, sedição (e)
subversão”, é um dos destaques da sessão anual da Assembleia Popular Nacional
(APN), o parlamento chinês, a decorrer em Pequim.
O documento agora apresentado
surgiu após repetidas advertências do poder comunista chinês contra a
dissidência em Hong Kong ,
abalado em 2019 por sete meses de manifestações em defesa de reformas
democráticas e quase sempre marcadas por confrontos com a polícia. O anúncio de
Pequim parece estar a reacender a chama dos protestos, depois de meses de
calma, muito por causa das medidas tomadas para conter a pandemia da covid-19,
e num momento em que estão agendadas eleições para o parlamento de Hong Kong em
Setembro, após a ala pró-Pequim ter perdido as eleições locais em 17 dos 18
distritos.
O artigo 23 da Lei Básica prevê
que Hong Kong seja dotada de uma lei que proíba a “traição, secessão, sedição e
subversão”. No entanto, o texto, na prática, nunca foi aplicado, uma vez que a
população do território o vê como uma ameaça aos direitos, como o das
liberdades de expressão ou de imprensa, desconhecidos na China continental
liderada pelo Partido Comunista. A última vez que se tentou aplicar o artigo
ocorreu em 2003 e fracassou, na sequência de grandes manifestações nas ruas de
Hong Kong. Na sexta-feira, a lei de segurança nacional foi apresentada na APN, em Pequim. No mesmo dia,
em comunicado, a chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, afirmou estar
pronta para “cooperar totalmente” com Pequim para fazer cumprir a lei de
segurança nacional.
Trump promete medidas “muito
interessantes” sobre polémica da autonomia de Hong Kong
O Presidente dos Estados Unidos
disse que vai anunciar medidas “muito interessantes” até ao final da semana
para responder ao controverso diploma da China que poderá contornar a autonomia
de região administrativa especial de Hong Kong. “Estamos a preparar algo”, respondeu
o chefe de Estado norte-americano, citado pela agência France-Presse, quando
questionado sobre a possibilidade sanções contra Pequim por causa deste
documento, durante uma conferência de imprensa na Casa Branca.
Trump considerou que as medidas
que Washington está a preparar são “muito interessantes”, mas deixou para o
final da semana a concretização deste plano, que será divulgado de uma “maneira
muito poderosa”.
A Casa Branca já tinha ameaçado
retirar o estatuto comercial preferencial concedido por Washington a Hong Kong.
Vários órgãos de comunicação social norte-americanos dão conta de que a
administração Trump pretende impor novas sanções contra as autoridades e
empresas na região administrativa especial que estarão envolvidas neste
processo de retirada de autonomia. Esta posição também é defendida por vários
senadores norte-americanos.
Donald Trump também avisou que
Hong Kong corre o risco de perder o papel enquanto “capital financeira
internacional” se Pequim “assumir o controlo” do território. A posição de
Washington poderá piorar ainda mais relações diplomáticas com a China, que se
deterioraram depois das acusações feitas por Trump de que o país asiático terá
criado o SARS-CoV-2, responsável pela actual pandemia.
Taiwan vai ajudar população a
deixar Hong Kong se lei de segurança for aprovada
A Presidente de Taiwan, Tsai
Ing-wen, anunciou ontem que vai ajudar a população de Hong Kong a deixar o
território na sequência da aprovação por Pequim de uma lei de segurança nacional
para o território.
Segundo a agência oficial da ilha, a CNA, o plano será
financiado pelo Governo e deverá concentrar-se nos direitos de residência,
alojamento e assistência às pessoas de Hong Kong que procurarem asilo em Taiwan. O programa será
elaborado e executado pelo Conselho de Assuntos da China Continental (MAC), a
agência responsável pelas relações com a República Popular da China, adiantou
Tsai Ing-wen, explicando que pediu ao MAC que fosse “o mais célere possível”.
O
anúncio da Presidente foi feito poucos dias depois das críticas que recebeu por
ter admitido suspender o “estatuto preferencial” que Taipei concede a pessoas
de Hong Kong para visitar ou investir na ilha, caso Pequim aprovasse a lei.
Tsai, que apoiou abertamente os protestos pró-democracia iniciados em Hong Kong no ano
passado, foi acusada pela oposição de “deixar o povo de Hong Kong para trás”
depois de ter usado o seu apoio para impulsionar a sua campanha de reeleição
nas presidenciais de Janeiro.
A Presidente assegurou que se tratava apenas de
um mal-entendido e que o seu Governo estava a acompanhar “com preocupação” a
situação em Hong Kong.
Em 2019, um total de 5.585 pessoas de Hong Kong mudou-se para
Taiwan, o que representou um aumento de 41% em relação ao ano anterior.
Ponto Final (mo) | Imagem: Miguel Candela / EPA
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