quinta-feira, 28 de maio de 2020

Polícia de Hong Kong detém manifestantes e lança gás lacrimogéneo


Trump e Taiwan manifestam apoio aos dissidentes de Hong Kong

Pelo menos 15 pessoas foram ontem detidas pela polícia de Hong Kong, que lançou gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes, um dia antes do debate da polémica proposta de lei do hino.

De acordo com jornalistas da agência de notícias France-Presse (AFP) no local, o incidente deu-se em Central, quando a polícia tentava dispersar uma centena de manifestantes, recorrendo a gás lacrimogéneo. Dois adolescentes foram detidos na posse de bombas incendiárias de fabrico caseiro, noticiou a imprensa local, sendo que no total foram registadas pelo menos 15 detenções. 

O Governo de Hong Kong indicou em comunicado que os manifestantes bloquearam algumas ruas, “com a intenção de paralisar o trânsito”, enquanto na internet se multiplicaram os apelos de activistas pró-democracia para continuar os protestos frente ao Conselho Legislativo.

O debate sobre a chamada “lei do hino nacional”, uma proposta de lei que criminaliza insultos ao hino chinês, surge num momento de tensão na cidade semiautónoma, após a China ter anunciado, na semana passada, a intenção de aprovar também uma lei de defesa da segurança nacional, que poderá limitar as liberdades em Hong Kong. Esta lei de segurança, que visa proibir a “traição, secessão, sedição (e) subversão”, é um dos destaques da sessão anual da Assembleia Popular Nacional (APN), o parlamento chinês, a decorrer em Pequim.

O documento agora apresentado surgiu após repetidas advertências do poder comunista chinês contra a dissidência em Hong Kong, abalado em 2019 por sete meses de manifestações em defesa de reformas democráticas e quase sempre marcadas por confrontos com a polícia. O anúncio de Pequim parece estar a reacender a chama dos protestos, depois de meses de calma, muito por causa das medidas tomadas para conter a pandemia da covid-19, e num momento em que estão agendadas eleições para o parlamento de Hong Kong em Setembro, após a ala pró-Pequim ter perdido as eleições locais em 17 dos 18 distritos.

O artigo 23 da Lei Básica prevê que Hong Kong seja dotada de uma lei que proíba a “traição, secessão, sedição e subversão”. No entanto, o texto, na prática, nunca foi aplicado, uma vez que a população do território o vê como uma ameaça aos direitos, como o das liberdades de expressão ou de imprensa, desconhecidos na China continental liderada pelo Partido Comunista. A última vez que se tentou aplicar o artigo ocorreu em 2003 e fracassou, na sequência de grandes manifestações nas ruas de Hong Kong. Na sexta-feira, a lei de segurança nacional foi apresentada na APN, em Pequim. No mesmo dia, em comunicado, a chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, afirmou estar pronta para “cooperar totalmente” com Pequim para fazer cumprir a lei de segurança nacional.




Trump promete medidas “muito interessantes” sobre polémica da autonomia de Hong Kong

O Presidente dos Estados Unidos disse que vai anunciar medidas “muito interessantes” até ao final da semana para responder ao controverso diploma da China que poderá contornar a autonomia de região administrativa especial de Hong Kong. “Estamos a preparar algo”, respondeu o chefe de Estado norte-americano, citado pela agência France-Presse, quando questionado sobre a possibilidade sanções contra Pequim por causa deste documento, durante uma conferência de imprensa na Casa Branca.

Trump considerou que as medidas que Washington está a preparar são “muito interessantes”, mas deixou para o final da semana a concretização deste plano, que será divulgado de uma “maneira muito poderosa”.

A Casa Branca já tinha ameaçado retirar o estatuto comercial preferencial concedido por Washington a Hong Kong. Vários órgãos de comunicação social norte-americanos dão conta de que a administração Trump pretende impor novas sanções contra as autoridades e empresas na região administrativa especial que estarão envolvidas neste processo de retirada de autonomia. Esta posição também é defendida por vários senadores norte-americanos.

Donald Trump também avisou que Hong Kong corre o risco de perder o papel enquanto “capital financeira internacional” se Pequim “assumir o controlo” do território. A posição de Washington poderá piorar ainda mais relações diplomáticas com a China, que se deterioraram depois das acusações feitas por Trump de que o país asiático terá criado o SARS-CoV-2, responsável pela actual pandemia.


Taiwan vai ajudar população a deixar Hong Kong se lei de segurança for aprovada

A Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, anunciou ontem que vai ajudar a população de Hong Kong a deixar o território na sequência da aprovação por Pequim de uma lei de segurança nacional para o território. 

Segundo a agência oficial da ilha, a CNA, o plano será financiado pelo Governo e deverá concentrar-se nos direitos de residência, alojamento e assistência às pessoas de Hong Kong que procurarem asilo em Taiwan. O programa será elaborado e executado pelo Conselho de Assuntos da China Continental (MAC), a agência responsável pelas relações com a República Popular da China, adiantou Tsai Ing-wen, explicando que pediu ao MAC que fosse “o mais célere possível”. 

O anúncio da Presidente foi feito poucos dias depois das críticas que recebeu por ter admitido suspender o “estatuto preferencial” que Taipei concede a pessoas de Hong Kong para visitar ou investir na ilha, caso Pequim aprovasse a lei. Tsai, que apoiou abertamente os protestos pró-democracia iniciados em Hong Kong no ano passado, foi acusada pela oposição de “deixar o povo de Hong Kong para trás” depois de ter usado o seu apoio para impulsionar a sua campanha de reeleição nas presidenciais de Janeiro. 

A Presidente assegurou que se tratava apenas de um mal-entendido e que o seu Governo estava a acompanhar “com preocupação” a situação em Hong Kong. Em 2019, um total de 5.585 pessoas de Hong Kong mudou-se para Taiwan, o que representou um aumento de 41% em relação ao ano anterior.

Ponto Final (mo) | Imagem: Miguel Candela / EPA

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