Analistas
independentes consideram que o Orçamento de Estado revisto para 2020 mostra que
Angola terá "a maior contração dos últimos 38 anos", mas que o preço
estimado do petróleo dá margem ao Governo para reformas.
O
Cedesa, entidade internacional de análise, considera que o Orçamento Geral do
Estado (OGE) revisto para este ano, devido à Covid-19, mostra uma grande queda
na economia angolana.
"Na
verdade, segundo o relatório de fundamentação do OGE revisto, elaborado pelo
Ministério das Finanças, projeta-se a maior contração da economia angolana dos
últimos 38 anos, com o PIB a contrair -3,6%", afirma o Cedesa, numa
análise ao OGE revisto de Angola, a que a agência Lusa teve acesso.
Porém,
analistas do organismo consideram que "se o OGE revisto prevê um
preço de 33 dólares por barril [de petróleo] e este vai estando acima dos 40
dólares, podendo subir" isto "quer dizer que existe alguma margem de
manobra para o Governo" angolano poder fazer reformas
necessárias.
Petróleo
dá margem para reformas
O
valor de 33 dólares por barril de petróleo, principal fonte de receita da
economia angolana, na base do qual foi traçada a revisão do OGE, é um valor
"meramente indicativo, pois muitos dos contratos petrolíferos já estão com
preços anteriormente estabelecidos e não dependem de oscilações",
salienta-se no relatório.
Além
disso, "parece existir uma tendência para ter o preço acima dos 40
dólares, ao mesmo tempo que, no curto prazo, não se vê razão para não começar a
existir um aumento da procura do petróleo ligado à recuperação das economias
mundiais".
A
tudo isto liga-se ainda "a instabilidade cada vez mais intensa no Golfo
Pérsico e os problemas na Venezuela", enumeram os académicos no
relatório.
Todos
estes fatores conjugados "poderão contribuir para alguma pressão no
sentido da subida do preço do petróleo", concluem no documento, alertando,
porém, que essa subida "não deverá ser tão acentuada que volte a inundar
Angola de petrodólares".
Quem
ampara a queda?
De
acordo com o OGE, a grande quebra do PIB é provocada pelo petróleo e, "por
ironia", são os outros setores da economia angolana que acabam por conter
a queda, realça a análise.
Assim,
o Cedesa, refere que o PIB do setor de hidrocarbonetos angolano irá
contrair em 7,0%, enquanto a taxa de crescimento média projetada para os demais
setores se situou em -2,1%, para considerar que "facilmente se percebe que
a grande quebra do PIB é provocada pelo petróleo e que são os outros setores
que ainda seguram a queda".
Aumento
do défice
No
relatório, com o título: "A revisão do Orçamento Geral e a reforma da
economia angolana", o Cedesa destaca ainda as projeções que apontam para
um défice fiscal equivalente a 4,0% do PIB, o que representa um agravamento de
5,2 pontos percentuais face ao valor previsto no OGE inicial para este
ano.
Deste
modo, "o saldo primário deverá estar em torno dos 2,2% do PIB, um valor
inferior ao inicialmente projetado em 4,9 pontos percentuais. O atual valor do
orçamento reflete uma redução de 15,7% relativamente ao OGE 2020
inicial".
"Naturalmente,
um OGE mais pequeno, reflete uma economia mais pequena", sublinha o
Cedesa.
Um
outro aspeto que os académicos destacam no documento é o facto de o Estado
passar a gastar mais com o setor social do que com os juros da dívida pública,
"não tanto por Angola ter aumentado as despesas sociais, mas de se ter
diminuído o pagamento da dívida pública, resultado da negociação com a China,
que, aparentemente, concedeu uma moratória de capital e juros por três
anos".
Reformar
a economia
Assim,
"quer o preço orçamentado para o petróleo, quer a posição da China
permitem que Angola, apesar da intensa recessão económica em que se encontra,
ainda tenha margem de manobra para definitivamente reformar a sua
economia", concluem.
Quanto
às reformas que se impõem em Angola, o relatório aponta a "erradicação da
grande corrupção, liberalização do acesso aos mercados, promoção efetiva do
investimento privado, intensificação da produção interna, transferências
diretas sujeitas a condição educativa ou de saneamento para as populações mais
desfavorecidas".
O
Cedesa é uma entidade internacional dedicada ao estudo e investigação de temas
políticos e económicos da África Austral, em especial de Angola, que nasceu de
uma iniciativa de vários académicos e peritos que se encontraram na ARN (Angola
Research Network).
Deutsche
Welle | Lusa
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