Pedro Ivo Carvalho*
| Jornal de Notícias | opinião
Em
tempos, houve um banco mau abandonado pelo Estado que segurou as elites
predadoras do regime. Agora, há um banco bom apoiado pelo Estado que promove
negócios sinuosos pagos pelos contribuintes e beneficia investidores que não se
sabe quem são. O Novo Banco é um filho bastardo do BES. Apanhou-lhe os vícios
despesistas, herdou dele os mais inventivos esquemas de transformação de ativos
comuns em fortunas privadas. Só é bom a conseguir ser mau.
Ainda
assim, a mais recente operação conhecida representa um aprimoramento no nível
de sem-vergonhice. O Novo Banco vendeu 13 mil imóveis a preço de saldo a um
fundo anónimo sediado nas ilhas Caimão, emprestou dinheiro para o negócio
acontecer e socorreu-se do Fundo de Resolução (que é alimentado pelo dinheiro
dos contribuintes) para compensar as perdas de várias centenas de milhões de
euros. Ou seja, comprou o cão com o próprio pelo do animal.
A
estupefação é natural, mas a verdade é que ninguém minimamente atento ou
razoavelmente informado pode dizer-se surpreendido. As campainhas soam há
demasiado tempo. Houve (há), inclusivamente, unanimidade partidária em torno da
necessidade de apurar responsabilidades.
Isso
não impede, porém, que estejamos cansados disto. De sermos vergastados por
gente debochada e sem escrúpulos. O problema é que já não temos costas para
mais chibatadas da Banca. O Novo Banco é um caso de política, mas é muito mais
um caso de polícia. Uma investigação do Ministério Público pode ser
determinante para dar o passo necessário que ajude a desatar o nó, enquanto a
famigerada auditoria às contas não conhece a luz do dia. O Estado tem de
estabelecer como prioridade recuperar tudo o que foi subtraído ao erário
público. Porque isto já não vai lá com falinhas mansas nem audições
parlamentares. Um assalto só deixa de o ser quando os sacos de dinheiro
roubados são recuperados sem mácula. Para tornar tudo ainda mais pitoresco, o
ministro das Finanças que autorizou a mais recente transferência de 850 milhões
de euros do Estado para o Novo Banco vai agora supervisionar os
desenvolvimentos do caso sentado na cadeira de governador. Não passamos disto.
*Diretor-adjunto
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