terça-feira, 14 de julho de 2020

Portugal | Saberemos o que fizermos neste verão


Paulo Baldaia* | Jornal de Notícias | opinião

Cansados, com um verão que chegou carregado de calor, os portugueses não querem ter que se preocupar com o que vai chegar no fim das férias, com o regresso das aulas. Não queremos pensar nisso, nessa segunda vaga que as autoridades de saúde garantem que vai chegar, mas devíamos. Melhorar os nossos comportamentos de defesa (uso de máscara, higienização das mãos e distanciamento social) pode fazer toda a diferença para chegarmos com menos pressão ao outono. Nessa altura, com o regresso das aulas, que todos queremos presenciais, haverá um crescimento de contágios, com um agravamento no inverno, altura em que o SNS vai ter de tratar simultaneamente a gripe e a covid.

O primeiro milhão de infetados só chegou no início de abril, quer dizer que demorou mais de três meses a atingir esse número. Agora, cinco dias bastam para serem diagnosticados um milhão de doentes. A Organização Mundial de Saúde diz que o vírus "continua a ser o inimigo público número um" e avisa que "a pandemia vai ficar pior, pior, pior". Está a falar a nível global, sabendo nós que a forma como cada país tem lidado com o vírus faz toda a diferença. Não estamos, portanto, condenados, mas estaremos sempre reféns daquilo que fizermos este verão. Como a cigarra, podemos passar o verão gozando das férias que merecemos, fazendo o que sempre fizemos, vivendo depois como tiver de ser. Ou, como a formiga, podemos aproveitar o verão para ter um inverno mais seguro, dando a nós próprios o direito de construir o nosso destino.


Quem tem filhos, tem obrigações acrescidas. Temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para permitir que o próximo ano letivo não seja como foi o final deste. Para as famílias, mas sobretudo para as crianças, seria dramático que o outono e o inverno fossem passados em confinamento. As desigualdades seriam ainda mais acentuadas, com o ensino público a fazer o que pode e o ensino privado obrigado a mostrar que o negócio é viável. Para a economia, seria um desastre de proporções inimagináveis. Para a sociedade, com taxas de desemprego que não experimentamos, seria uma questão de sobrevivência.

Quando olhamos para as praias ou para as esplanadas, sabemos que precisamos de melhorar os nossos comportamentos. Quando olhamos para os transportes públicos, sabemos que as autoridades centrais e locais vão ter de fazer muito melhor. Quando o outono chegar, vamos ter de perguntar: o que fizemos no verão passado?

*Jornalista

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