Após a morte de George Floyd, nos
EUA, o debate sobre a violência policial espalhou-se por todo o mundo. Em
África, pesquisadores apontam a pobreza e questões étnicas como fatores que
influenciam a ação da polícia.
A violência policial é um
problema que está na ordem do dia. Depois da morte
de Geoge Floyd, no dia 25 de maio deste ano nos Estados Unidos,
realizaram-se várias manifestações, um pouco por todo o mundo. Também em
Joanesburgo, na África do Sul, em Nairobi, no Quénia, ou em Lagos, na Nigéria,
houve protestos da sociedade civil contra a violência policial: milhares de
cidadadãos empunharam cartazes com slogans como "Stop Killer Cops"
("Parem os agentes assassinos") ou "I Can't Breathe"
("Não consigo respirar").
Annette Weber, pesquisadora na
fundação alemã de ciência e política (Stiftung Wissenschaft und
Politik) afirma que "as maiores vítimas da violência policial, nos
países africanos, são os pobres e também pessoas pertencentes a minorias
étnicas, que em teoria têm os mesmos direitos da maioria, mas que na prática
são discriminadas".
"No Quénia, por
exemplo", cita a pesquisadora, "os habitantes das faixas costeiras,
ou os somalis quenianos, são frequentemente mal tratados pela polícia. Existe,
de facto, uma espécie de hierarquia, no que diz respeito aos grupos
étnicos".
Na África do Sul, a DW falou com
Gareth Newham, especialista do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) em
questões de violência policial. Newham explica que, na África do Sul, os
polícias, na sua "esmagadora maioria" são negros, assim como as
vítimas também são negras.
"Trata-se sobretudo de
homens relativamente jovens. Penso que a violência não é motivada por questões
raciais. Tem mais a ver com a classe social. A polícia usa a violência
simplesmente contra os pobres, independentemente da sua cor. Normalmente, não
usa a violência contra um condutor de um carro caro, ou contra um advogado, que
tem meios para contra-atacar, recorrendo à justiça".
Raízes coloniais
A violência polícial em África
tem causas estruturais e culturais, que têm a ver com a história colonial,
afirma ainda a pesquisadora alemã Annette Weber. "As relações entre o
Estado e a população são más, desde os tempos coloniais. Um exemplo é o Sudão,
que foi colonizado pela Grã-Bretanha, até 1953. Os sucessivos regimes
pós-coloniais, inclusivé o de Omar Al-Bashir, foram muito repressivos, tanto ou
mais que o regime colonial. O atual Governo de transição poderá ser
diferente".
O mesmo se aplica à África do
Sul, explica Gareth Newham: "Tortura e violência foram ancoradas no
sistema colonial do apartheid. E essa mentalidade passou para a
democracia".
O pesquisador salienta que os
detentores do poder político têm que assumir as suas responsabilidade pela
violência policial. "Temos uma liderança política que não reconhece que há
uma crise no exercício de tarefas policiais. As coisas só podem melhorar se a
atitude do governo mudar".
Martina Schwikowski, ac |
Deutsche Welle
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