#Traduzido e publicado em português do Brasil
As elites fracassaram, econômica
e sanitariamente. A oposição ligada a Evo Morales e Rafael Correa lidera as
pesquisas. Sem votos, a direita tenta inviabilizar a mudança – e recorre, outra
vez, ao Judiciário
Cecilia Gonzalez | Outras Palavras | Tradução: Antonio
Martins
Se os opositores podem ganhar as
eleições, melhor evitar que se candidatem. Esta parece ser a fórmula mágica e
misteriosa que percorre a América Latina, agora em particular no Equador e
Bolívia, países em que os governos estão fazendo todos os esforços necessários
para impedir postulações – inclusive promovento a proscrição de partidos
rivais.
A meta é clara e tem nomes e
sobrenomes: evitar, como for possível, a volta ao poder dos partidos dos
ex-presidentes Rafael Correa e Evo Morales.
O fato de que suas forças
políticas tenham altas intenções e que inclusive liderem as pesquisas significa
que grande parte das populaçẽos as apoia. Ou seja, o mínimo que se espera é que
se respeite o direito destes cidadãos a escolher livrementre quem querem como
governantes. Mas não parece haver nenhuma intenção de honrar uma premissa
básica da democracia.
Estas estratégias
antidemocráticas são promovidas sob o grito de “Defendamos da democracia!”. E o
que deveria ser um escândalo internacional é abafado graças à cumplicidade das
mídias tradicionais da região que, em grande aliança, ditam as coberturas
eleitorais a partir de um duplo padrão: condenando os governos progressistas e
avalizando os conservadores, ocultando suas crises internas. A divisão entre
“bons” e “maus” já é grotesca.
A Venezuela, sabe-se, é o cavalo
de batalha. Nicolás Maduro é o demônio latino-americano. Por isso, “vamos nos
converter numa Venezuela” tornou-se a insultante advertência dos candidatos de
direita. Lançam-na em tom tenebroso, para assutar e suscitar medos. Ser
Venezuela. Que horror! Ainda que o verdadeiramente horroroso seja a permanente
estigmatização das e dos venezuelanos, e o uso e abuso político de uma tragédia
humanitária.
Às mídias que se autoproclamam
falsamente como independentes, soma-se a ajuda da Organização dos Estados
Americanos (OEA), que não condena, investiga ou questiona o que ocorre no
Equador e na Bolívia. Bem, se a OEA apoiou o golpe de Estado contra Evo, não é
possível esperar muito mais.
Democracias em risco
Não se deve esquecer o Poder
Judiciário, que atua de maneira seletiva e que, estranhamente, acelera
processos judiciais contra líderes políticos populares em período eleitoral. É
o que já aconteceu com Lula no Brasil.
É o que está ocorrendo agora no
Equador. As eloeições presidenciais ocorrerão em 7 de fevereiro do próximo ano,
mas a presssão judicial contra Correa já coneseguiu que fosse condenado a oito
anos de prisão pelo delito de co-autoria, no marco do processo conhecido como
“caso sobornos”, que investiga apoios ilegais ao movimento correísta Aliança
País. A condenação ainda não é certa. Se for ratificada, o ex-presidente,
refugiado na Bélgica, não pderá voltar ao país nem, é claro, postular nenhum
cargo. Além disso, o Conselho Nacional Eleitoral do Equador negou o registro a
quatro partidos, entre eles a Força Compromisso Social, com o qual Correa
aspira concorrer à vice-presidência.
O pretexto legal é que o partido
de Correa não reuniu 1,5% das assinaturas de eleitores que o regime eleitoral
exige, para obter registro. O que chama atenção é o rancor contra a principal
força opositora ao governo de Lenin Moreno. Ela é, de acordo com as pesquisas,
um dos partidos com maior intenção de voto, mesmo sem ter definido seu
candidato a presidente. O cheiro de ataque à democracia é evidente.
Adiamento boliviano
Na Bolívia, o panorama não
parece melhor. A ultradireitista presidente “de fato”, Janine Áñez e seus
aliados conseguiram adiar de novo as eleições, que estavam previstas para 6 de
setembro. Agora, supõe-se que ocorrerão em 18 de outubro, mas a verdade é que
desde o ano passado nada pode dar-se por segurno nesse país.
Para começar, Áñez
autoproclamou-se como presidente em 12 de novembro e assegurou que só ocuparia
o cargo por algumas semanas. Também jurou que não postularia a presidência nas
eleições em que a Bolívia tentará recuperar seus sistema democrático.
Se for confirmado o adiamento das
eleições, a melhor amiga de Jair Bolsonaro permanecerá mais de de um ano no
posto para o qual não receberu um único voto – salvo, claro, o da OEA e os de
alguns cúmplices mais. Mas não os dos bolivianos.
Aliás, parece que criou apego ao
poder, porque não cumpriu a promessa e terminou postulando-se candidata. No
entanto, como as pesquisas a situam num distantíssimo terceiro lugar, dado o
desastre do manejo da pendemia, agora faz esforços denodados para impedir o
registro de Luís Arce, o candidato presidencial do Movimento Ao Socialismo que
lidera as intençẽos de voto.
Se o Tribunal Supremo eleitoral
ceder às pressões e encontrar um artifício para impedir o registro do MAS, será
impossível vislumbrar o regresso da democracia. Por incrível que pareça, os
adversários da Arce querem puni-lo com a cassacção de seu registro, por… ter
difiundido um pesquisa eleitoral. Chega a este nível a campanha de ódio, que
recebe pouca visibilidade e condenações.
As agressões e perseguições aos
militantes do MAS ampliam-se. A violência política e as violações dos direitos
humanos tornaram-se norma na Bolívia , sem que isso alarme muito a “comunidade
internacional”, este ente que às vezes parece mais um clube de amigos.
*Cecília Gonzalez é jornaiista
mexicana vivendo na Argentina
Imagem: Luís Arce (à esquerda), o
ministro que liderou as transformações econômicas na Bolívia, lidera as
pesquisas de eleição de voto, com mais de 40% do apoio. Direita tenta o tapetão
Gostou do texto? Contribua para
manter e ampliar nosso jornalismo de profundidade: OUTROS QUINHENTOS
OUTRAS PALAVRAS é financiado
pelas pessoas que o leem. Faça parte
>>>
Sem comentários:
Enviar um comentário