segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Estamos enredados num esquema diabólico que nos vitima


Passou o “fim-de-semana para ganhar coragem”, hoje é segunda-feira e o exército de grandes patrões que viram as suas explorações suspensas porque tem de ser assim ao fim-de-semana – cada vez menos – lá estiveram a ver as suas vítimas a regressar derrotadas à exploração do costume, depois partem para as almoçaradas com seus iguais, nem sequer vomitando a comida caríssima que consomem em restaurantes claramente caríssimos, pelo luxo e serviços requintados que afinal são fruto e pagos pela exploração selvagem e desumana a que destinam os seus empregados (eufemismo de escravos). A esses desejamos muitos vómitos e azares – ténue castigo pelas suas mentes perversas, gananciosas, desumanas e esclavagistas. Autênticos oportunistas e parasitas da sociedade global. Abutres de colarinhos brancos. Os que realmente são e estão identificados na maior parte dos casos.

Também no mundo está a Bielorrússia. O Curto de hoje vai lá, imediatamente na abertura. A pena computorizada é da jornalista do internacional Cristina Peres. Podem ler a seguir. Abertura com esquecimentos sobre as tais “Primaveras Coloridas” que o ocidente tem engendrado (EUA, UE, RU), o neoliberalismo e neocolonialismo pseudo-democratico que suporta o moderno esclavagismo.

Os do costume lá se vão esquecendo da colorização pseudo-revolucionária que assolou (assola) a Líbia, a Ucrânia e tantos outros empenhos produtivos das CIA’s e secretas europeias em uníssono a gritarem “democracia e liberdade” aos futuros escravos iludidos e não pagos – ou pagos com guerras e misérias. Com neofascismos à semelhança dos caminhos impostos pelo sistema capitalista desregulado, selvagem, que se apoderou de políticos e governos que usam por engodo a liberdade e a democracia, a justiça que afinal é injusta… Mentiras. Já para não citar com pormenores que a Bielorrússia está às portas da Rússia e que a arma assassina do império do ocidente, a NATO, quer isso mesmo – ocupar a esfera de influência da Rússia e todos os países que a rodeiam. A NATO, guerreira e criminosa, quer guerra. Os militares que a compõem não são mais nem menos que verdadeiras marionetas de políticos e sistema capitalista comandado pelos desumanos 1% - donos da riqueza global - que devoram a humanidade por via da exploração, da corrupção, do fomento de guerras que alimentam as suas ganâncias na sua indústria do armamento e o mais que possuem. Quase tudo e até o roubo da vida e da dignidade da humanidade que reprimem e exploram lhes pertence.

Os do costume não falam dessas realidades. Mas deviam dar algum lamiré nessa perspetiva, aqui, agora, sempre. Quase que pela certa que, na Bielorrússia, nem a alegada vencedora das eleições, dona de casa, opositora do regime em vigor, faz ideia de que está a ser manipulada por via dos interesses do ocidente das políticas e ações putrefactas, terríveis, que cada vez mais se revelam anti-humanas e anti-planeta de concórdia, de real-democracia, de real-respeito pelo ambiente, pelo planeta, pela paz.

Ao que tudo indica, salvo sérias denuncias e provas apresentadas por alguns, a grande maioria anda e snifar uma droga que os leva a acreditar nesta pseudo-democracia, pseudo-justiça, pseudo-liberdade de um menu do Ocidente, cozinhado por mentes perversas.

Abramos os olhos, enfrentemos as realidades que nos rodeiam. Esta não é a vida que regimes realmente democráticos nos devem e podem proporcionar. Que queremos.

Deixemos de ser ingénuos e manter esperanças por algo que nunca acontecerá se não reagirmos e lutarmos pelo que queremos: vivermos com justiça, com dignidade e com o respeito que toda a humanidade e o planeta merecem e que nos é imprescindível.

Ao que tudo indica, todos nós estamos enredados num esquema diabólico que nos vitima. Para quando a honestidade e a liberdade?

Bom dia. Votos da melhor semana possível, para todos.

MM | PG

 

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Parabéns, ratazana!*

Cristina Peres | Expresso

Às quatro semanas de protestos na Bielorrússia, as centenas de elementos da polícia de choque enviadas para o centro de Minsk, onde se concentravam dezenas de milhares de pessoas em protesto contra a violência policial durante as manifestações anteriores, depois da controversa reeleição do Presidente Lukashenko, denunciavam a diferença de atitude das autoridades perante as manifestações anteriores. A polícia prendeu dezenas dos manifestantes pró-democracia que não se deixaram intimidar e arriscaram a marcha apesar dos avisos das autoridades informando tratar-se de uma situação “não autorizada”. Parece só ter funcionado como estímulo e as ruas encheram-se de pessoas que queriam mostrar aquilo a que estão dispostos sujeitar-se no *dia em que o Presidente completava 66 anos.

Apesar do forte contingente policial e de o recinto da Praça da Independência estar isolado do resto da cidade, os manifestantes agitaram vigorosamente as bandeiras vermelhas e brancas da oposição e gritaram a plenos pulmões: “Vergonha! Sai!” e “Parabéns, ratazana!”.

A notícia foi dada pela agência noticiosa russa RIA citando o ministério do Interior russo, identificando o principal apoio ao PR bielorrusso. Na última quinta-feira, Putin disse em conferência à TV estatal que a rua devia ser ouvida: “Claro que se as pessoas saírem à rua, todos devem reconhecer, ouvir e reagir.” Por outro lado, disse que Lukashenko tinha oferecido uma boa opção para acabar com o impasse, uma reforma constitucional. Lukashenko, que está no poder há 26 anos, afirma ter ganho a presidência com pouco mais de 80% dos votos, mas os apoiantes de Svetlana Tikhanovskaya, a esposa de um bloguer preso que acabou por ser um surpreendente desafio para Lukaschenko, dizem que essa foi a percentagem dela e que a sua percentagem está mais preto dos 10% atribuídos a Tikhanovskaya pela contagem oficial, escreve a correspondente do Expresso em Moscovo, Sophia Kishkovsky

Entretanto, foi negada acreditação a umas duas dezenas de jornalistas bielorrussos que trabalham para a imprensa internacional, bem como a jornalistas internacionais. Svetlana Tikhanovskaya declarou a propósito que a perseguição aos media é “outro sinal de que este Governo é moralmente corrupto”.

OUTRAS NOTÍCIAS

Lampedusa diz basta! Um barco de pescadores transportando 370 migrantes chegou no sábado à noite à ilha italiana de Lampedusa desencadeando a ira das autoridades locais, que não sabem como gerir o aumento de barcos a ritmos diário vindos do Norte de África que ali aportam quase diariamente. “Lampedusa já não é capaz de lidar com esta situação”, disse o presidente da câmara, Totò Martello, aos media italianos. Os migrantes acolhidos nos últimos dias ultrapassam um milhar.

Migrantes. Também em Itália, ativistas de direitos humanos estão a fazer vir à superfície como foi parcialmente mantido o fornecimento de alimentos durante o mais restrito período de confinamento: graças a trabalhadores migrantes sazonais da apanha da fruta que trabalharam praticamente sem direitos.

Cemitério aquático. O Lago Van, o maior no leste da Turquia, ameaça tornar-se um cemitério para o número de migrantes que morreram a tentar a perigosa travessia vindos do Afeganistão, Paquistão e de outros países.

Covid-19. Desde ontem que as estatísticas reportam 25 milhões de casos de coronavírus em todo o mundo. A Índia estabeleceu o recorde de número de novas infeções com coronavírus confirmadas por testes com 78.761 novos casos no sábado, batendo o recorde diário americano de meados de julho.

Pela Europa multiplicam-se os protestos contra as restrições impostas para evitar o contágio. Na Alemanha, um grupo de extrema-direita tentou entrar no Reichstag, a casa mãe da legislação do país.

Covid-19 II. Por cá também há ajuntamentos de centenas de pessoas que acabam com apedrejamento à polícia. Foi em Gaia.

Covid-19 III. Em Portugal, os números. Depois de várias reuniões para adequar a organização do evento às medidas de segurança do contexto da pandemia, a DGS não revela o parecer técnico enviado à organização da Festa do Avante, terá de ser o PCP a comunicá-lo.

Presidenciais. Marcelo será o primeiro político a ser testado perante o fenómeno Ventura. Ana Gomes mantém tabu sobre a candidatura presidencial e anuncia “em breve” a sua decisão.

Estados Unidos. A campanha segue com tropeções. Um homem foi morto a tiro quando passava a caravana de Trump em Portland, Oregon, em direção a uma manifestação de apoio à sua reeleição e entrou em confronto com uma contramanifestação. A maioria dos tiros partiram de armas de paintball disparadas dos camiões do desfile aos quais eram arremessados objetos em resposta. Porém nem todos eram tiros de paintball. O homem atingido, que morreu, usava um chapéu com a insígnia do Patriot Prayer, um grupo de extrema-direita com sede em Portland que já se confrontou com manifestantes no passado. Chad Wolf, secretário da Segurança Interna, acusou as autoridades democratas de Portland por terem permitido a “ausência de lei e caos” em Portland. O mayor respondeu a Trump: “Esta violência mortal é sua”.

Dia Mundial do Desaparecido. Comemorou-se ontem para que haja uma ocasião para pensar nas pessoas que desapareceram sem explicação. Normalmente, as razões não são boas. Só na Líbia, há 10.000 desaparecidos. Sim, dez mil! Ou seja, “não há” dez mil pessoas que antes havia. Milhares de líbios perderam parentes e amigos desde que Muhammar Kadhafi foi deposto em 2011. O Comité Internacional da Cruz Vermelha declara que há pelo menos 44 mil desaparecidos em África, na sua maioria crianças à data do desaparecimento, contando que o número seja muito superior, já que a estatística se baseia apenas em casos reportados pelas famílias às autoridades.

Turquia. O desemprego parece não ter afetado o país porque o Governo tem mantido os números baixos de forma artificial tornando ilegal os patrões despedirem os empregados e adotando uma definição de desemprego muito restrita. Só o PIB vai revelar inevitavelmente hoje que a economia terá contraído entre 7,1% e 13,1% até ao final de junho.

Desemprego. O dos jovens em Portugal voltou a disparar regressando a valores de há três anos, escreve o Público na manchete de hoje: volta a 25%, como em 2017, afeta 81.200 pessoas.

Elefantes. A morte de onze elefantes na floresta de Pandamasue, entre Hwange e as Victoria Falls, no Zimbabwe, está a ser investigada pelas autoridades, que já concluíram não ter sido por envenenamento por cianeto nem por ação de caçadores furtivos. As amostras de sangue recolhidas das carcaças estão a ser investigadas em laboratório.

FRASES

“Têm a ideia do tamanho de um vírus? As máscaras não servem para nada”, Médicos pela verdade, manchete de hoje do jornal i

“Desconheço se Mário Nogueira [líder da Fenprof] alguma vez corrigiu um teste ou se ficou triste ao ter de dar negativa a um aluno. Mas ficava-lhe bem pensar que a escola serve os alunos, não os professores e muito menos os sindicatos”, João Vieira Pereira, na coluna “Do regresso às aulas”, Expresso

“Consigo chegar seja a onde for em Nova Iorque mais depressa a correr do que de qualquer outra forma”, Nicole Loher, estratega digital e professora adjunta da Universidade de Nova Iorque que se desloca a correr para todos os encontros e aulas na cidade à Monocle

“Vamos ganhar tudo”, Zaidu, defesa esquerdo nigeriano que assinou até 2025 com o FCP

O QUE ANDO A OUVIR

As “lições” em vídeo do historiador norte-americano (um norte-americano que trabalha a maior parte do tempo na Europa e sobre temas europeus) Timothy Snyder, chamados “Timothy Snyder Speaks”, datado este, o episódio 1, de 2017: “Estamos em 8 de novembro e passa um ano sobre a vitória da Rússia sobre os Estados Unidos conhecida como Eleição Presidencial de 2016. Estamos a 100 anos da Revolução Bolchevique, a última vez que a Rússia exerceu influência sobre o mundo a esta escala. E passa um ano desde que escrevi o livro ‘On Tyranny - Twenty Lessons from the Twentieth Century’, por isso o que eu gostaria agora de fazer é, a partir daquilo que já sabemos, um anos depois, falar sobre a lição nº 9 ‘Sê um patriota’”.

É assim que começam os primeiros 13 minutos do primeiro de perto de duas dezenas de episódios diários nos quais Snyder analisa a ofensiva russa sobre o Estados Unidos. Passados anos, quando estamos a semanas da possível (e muito provável) reeleição de Donald Trump em novembro próximo, o mundo já está longe de ser o mesmo e a realidade dos factos cobriu Snyder de razão. O que propõe nos 13 minutos do vídeo é propor uma sistematização da esmagadora quantidade de informação na perspetiva do que já aconteceu para esclarecer o impacto da influência da russa em linhas-mestras, aquilo a que chama “âmbito alargado” e que tem três partes: a primeira é “entender Donald Trump ele próprio como uma espécie de ficção política”.

Exemplo: a ficção criada em termos políticos de que Donald Trump é um empresário de sucesso quando deve milhares de milhões de dólares a vários bancos, foi à bancarrota mais de uma vez, e foram investimentos russos nos anos 90 e 2000 que permitiram criar a ficção do seu sucesso empresarial. Segundo passo da construção da ficção, defende Snyder, foi quando Trump criou o avatar (palavra minha) na televisão (Fox) que lhe permitiu representar o papel de um empresário de sucesso, o que nos foi trazido por aquilo que é o segundo ponto de que o historiador quer falar: a guerra cibernética. A que está na origem da substituição da realidade pela construção digital que se propagou através das redes sociais. Em traços gerais e tentando não ser spoiler, Timothy Snyder desmascara assim a estratégia que levou Donald Trump a ocupar a Sala Oval. Quando estamos à beira de assistir à reeleição deste homem, que nem programa político apresentou na convenção republicana da semana passada, e que levou o GOP a assinar de cruz o seu apoio incondicional assumindo que o Partido é Ele, é normal que Ele esteja convencido de que é deus. Tem corrido bem a Trump, contudo está longe de ser (só) obra sua. Deixo aqui o link para o episódio 14 “Sadopopulism”. Parece ficção, mas está a acontecer. Vale mesmo a pena ouvir.

Curto out. Vem aí setembro, o mês em que a luz começa a ficar mais interessante. Comece bem e continue melhor ainda a semana que hoje entra. Já sabe que nos encontra sempre em www.expresso.pt para si.

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