sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Explosão em Beirute | Líbano admite "negligência ou míssil" como causas


Presidente libanês recusa inquérito internacional à explosão no porto de Beirute que vitimou pelo menos 154 pessoas e fez cerca de 5.000 feridos.

O Presidente libanês, Michel Aoun, afirmou esta sexta-feira que a explosão no porto de Beirute se deverá "a negligência ou a ação externa", evocando a hipótese "de um míssil", mas recusou uma investigação internacional ao sucedido.

"É possível que tenha sido causado por negligência ou por uma ação externa, com um míssil ou uma bomba", declarou o chefe de Estado do Líbano num encontro com jornalistas transmitido pela televisão, três dias após a catástrofe que causou 154 mortos e milhares de feridos.

Trata-se da primeira vez que um responsável libanês evoca uma pista externa no caso das explosões, que as autoridades libanesas têm atribuído a um incêndio num entreposto onde se encontravam armazenadas cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amónio.

O chefe de Estado, 85 anos, adiantou ter pedido na quinta-feira "pessoalmente" ao Presidente francês, Emmanuel Macron, que recebeu no palácio presidencial, "para fornecer imagens aéreas para que se possa determinar se havia aviões no espaço (aéreo) ou mísseis" na altura da explosão na terça-feira.

"Se os franceses não dispuserem dessas imagens pediremos a outros países", adiantou.

Por outro lado, Aoun rejeitou qualquer investigação internacional sobre o assunto, considerando que isso apenas "enfraqueceria a verdade".


O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos pediu hoje uma investigação independente às explosões, insistindo que "os pedidos de responsabilização das vítimas devem ser ouvidos", depois de Emmanuel Macron ter apelado na quinta-feira a um inquérito internacional "transparente".

O Presidente libanês concordou, contudo, com o seu homólogo francês que apelou aos responsáveis do Líbano para "mudarem o sistema".

"Enfrentamos uma revisão do nosso sistema consensual, porque está paralisado e não permite que sejam tomadas decisões que possam ser aplicadas rapidamente: devem ser consensuais e passar por várias autoridades", disse Aoun, criticado por grande parte da opinião pública libanesa, ainda mais desde as devastadoras explosões no porto da capital libanesa.

Sobre a existência de 2.750 toneladas de nitrato de amónio no porto da cidade, Aoun disse ter sido informado do assunto no dia 20 de julho e acrescentou ter "ordenado imediatamente" as autoridades militares e de segurança para fazerem o que fosse necessário.

Sem avançar mais pormenores, o Presidente disse que vários governos desde 2013 receberam avisos sobre o material.

O Líbano vive uma crise económica séria - marcada por uma desvalorização sem precedentes da sua moeda, hiperinflação, despedimentos em massa -, agravada pela pandemia do novo coronavírus, que obrigou as autoridades a confinarem a população durante três meses.

EUA vão enviar ajuda alimentar e medicamentos

Os EUA anunciaram hoje o envio imediato de 15 milhões de dólares (13 milhões de euros) em alimentos e medicamentos para a Líbia, três dias após as violentas explosões no porto de Beirute.

A ajuda, que será entregue localmente pelos militares dos EUA, equivale a até três meses de comida para 50.000 pessoas e até três meses de medicamentos para 60.000 pessoas, divulgou a agência de ajuda internacional dos Estados Unidos (USAid), em comunicado.

“Estamos ao lado dos libaneses neste período difícil. Os EUA há muito apoiam a aspiração libanesa por prosperidade económica e governação responsável, isenta de corrupção e pressões estrangeiras”, pode ler-se na nota.

O exército norte-americano já havia anunciado, na quinta-feira, que entregou ao homólogo libanês um primeiro carregamento de comida, água e medicamentos no Líbano. Outros vão seguir a bordo de aviões militares C-17 fretados desde uma base no Qatar.

A USAid sublinhou no documento que já atribuiu 41,6 milhões de dólares (36,5 milhões de euros) ao Líbano para ajudar na luta contra a pandemia de covid-19.

No entanto, os EUA expressaram dúvidas sobre a ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) no Líbano, onde Washington gostaria de ver a diminuição da influência do movimento xiita Hezbollah, um aliado do Irão.

Duas fortes explosões sucessivas sacudiram Beirute na terça-feira, causando, pelo menos 154 mortos e cerca de 5.000 feridos, segundo o último balanço feito pelas autoridades libanesas.

Até 300.000 pessoas terão ficado sem casa devido às explosões, segundo o governador da capital do Líbano, Marwan Abboud.

O Governo português indicou na terça-feira não ter indicações de que haja cidadãos nacionais entre as vítimas.

As violentas explosões deverão ter tido origem em materiais explosivos confiscados e armazenados há vários anos no porto da capital libanesa.

O primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, revelou que cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amónio estavam armazenadas no depósito do porto de Beirute que explodiu.

Renascença | Imagem: Wael Hamzeh/EPA

Sem comentários:

Mais lidas da semana