Manuel Carvalho Da
Silva* | Jornal de Notícias | opinião
Nunca
perderei a esperança de que é possível e vale a pena lutar por um Mundo melhor
na certeza de se poderem, sempre, encontrar dimensões novas para a realização
do ser humano. Contudo, evidenciam-se hoje demasiadas negações coletivas
geradoras de medos.
O
assassinato a sangue-frio do ator Bruno Candé e os escabrosos comentários
justificativos desse ato hediondo mostram-nos racismo inculcado na sociedade
portuguesa. Ora, o racismo e outras manifestações de intolerância e violência
estão a armadilhar a vivência democrática das sociedades e o alarme tem de
disparar quando, poucos dias depois, Rui Rio admite que se o Chega mudar de
discurso (lavar a cara) até pode entrar no diálogo para um projeto de Oposição
ou governação do país.
A
desgraça maior é observarmos, simultaneamente: i) o poder desmedido e opaco com
que os potentados tecnológicos Amazon, Apple, Facebook e Google se apresentaram
ao Senado Americano; ii) a especulação financeira desencadeada pela
"corrida às vacinas" contra a covid-19; iii) a invocação do combate à
pandemia para se coartarem liberdades; iv) a forma indecorosa como certos
países europeus se tornam frugais e credibilizam as casas de receção do roubo
que são os offshore; v) a mais que suspeita gestão fraudulenta do Novo Banco,
que infelizmente não é uma situação excecional - nem interna nem externa - mas
sim o espelho do que se passa com o poder do setor financeiro e o uso
subversivo de tecnologias; vi) a brutal queda do PIB (Produto Interno Bruto) e
tantas empresas
É
difícil acreditar na legalidade das transações do Novo Banco quando a principal
figura do fundo abutre que comprou as 13 mil casas, terrenos e outros bens
imobiliários envolvidos no negócio veio da Lone Star. E o que é a legalidade?
Como há muitos anos digo, o roubo "legal" é, nas sociedades atuais,
incomensuravelmente maior que o roubo na plena acessão da palavra. Entretanto,
quando se constata que negócios deste tipo são "legais", o problema
em vez de se atenuar, agrava-se.
Fazem
falta regulação e fiscalização sérias, mas os sistemas montados são autênticas
fraudes. Como é possível, depois de tantos negócios ruinosos, compadrio e
corrupção a marcarem o caminho da Banca, ter acontecido a privatização deste
banco e ter sido assinado um contrato que permite ao comprador assaltá-lo por
dentro e remeter a fatura das perdas para os bolsos dos portugueses? O que é
isto? Talvez uma mistura de cegueira política, imprudência, impunidade e
estupidez geradas pela "moderação" que marca o comportamento dos
autointitulados cidadãos honrados que gerem os diversos poderes instalados.
A
3 de fevereiro de
* Investigador e professor universitário
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