Inês Cardoso* | Jornal de
Notícias | opinião
Vamos admitir que apenas por
falta de clareza e lapso na comunicação a ministra do Trabalho e da
Solidariedade parece minimizar a gravidade dos surtos nos lares, na entrevista
que concedeu este sábado. Não há qualquer insensibilidade ou desculpabilização,
antes daqueles erros de expressão que acontecem.
Podemos ainda conceder que não há
qualquer malabarismo em relação aos números, quando compara a incidência de
surtos em lares em plena pandemia com o cenário das últimas semanas. Sabemos
que o contexto dos dois momentos é totalmente distinto e só por absurdo se
consideraria legítima essa comparação, portanto Ana Mendes Godinho não poderia
tentar iludir os portugueses retirando as estatísticas do contexto nacional.
Coloquemos ainda a hipótese de a
ministra da tutela se referir ao apuramento de responsabilidades num sentido
persecutório, quando diz não ser seu objetivo fazê-lo. Pois se o Estado
financia e licencia as instituições, se tem o dever de proteger os utentes
nelas instalados, se além disso só apurando incumprimentos se pode corrigir e
prevenir a repetição dos mesmos erros, como poderia um membro do Governo não
querer responsabilidades quando a assistência aos mais frágeis falha?
Admitamos tudo na extraordinária
entrevista de Ana Mendes Godinho, mas uma incontornável frase não permite
equívocos nem desculpas para os tantos disparates proferidos. "Não o li
pessoalmente, mas a Ordem fez-me chegar o relatório e já pedi que o
analisassem", responde quando questionada pelo "Expresso" sobre
o relatório ao surto em Reguengos de Monsaraz. Morreram 18 pessoas,
desidratadas e com sinais de negligência, mas a ministra da tutela não lê.
Aguarda que alguém analise por ela. Confia que "as fontes de informação
institucionais" serão suficientes e adequadas. Mantém um discurso
burocrático e impessoal. Para quem tem a pasta da Solidariedade e Segurança
Social, estamos conversados.
*Diretora-adjunta
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