A expressão, recorrentemente
usada entre os católicos, serve, normalmente, para expiar os pecados dos
crentes e será, porventura, uma das suas maiores provas de fé. Mas repetir
várias vezes, para dentro, que "Deus perdoa", resolve tudo?
Anselmo Crespo | TSF | opinião
Uma crise, quando chega, afeta
todos. Uns mais do que outros, é verdade, mas, seguramente, a Igreja não é uma
exceção. Seja pela diminuição das receitas - mais conhecidas por esmolas -,
seja pelos encargos adicionais que uma pandemia acarreta a qualquer instituição.
Mas não só a Igreja não é uma instituição qualquer, como, certamente, o
Santuário de Fátima não tem qualquer justificação para despedir trabalhadores.
Fátima é aquilo a que, em
linguagem popular, se pode chamar uma mina de ouro. Em muitos casos, o ouro é
literal, tantas são as ofertas que o Santuário tem recebido dos fiéis ao longo
dos anos, as heranças e os bens em espécie que vão avolumando o património num
valor que, sendo incalculável, nunca foi verdadeiramente revelado.
E este é um dos aspetos mais
negativos e perniciosos na atuação da Igreja: a opacidade. Quem fizer uma
pesquisa rápida no Google à procura de informação sobre as contas do Santuário
de Fátima tem de recuar 14 anos para encontrar alguma coisa. E o que encontra é
curto. É como se os fiéis - e os não crentes, já agora - não tivessem direito a
conhecer os números. Pior, é como se a Igreja gozasse de um privilégio divino
que a desobriga de prestar contas ao comum dos mortais e só a Deus tivesse de
confessar o que fatura e onde gasta o dinheiro.
Os privilégios da Igreja são,
precisamente, o segundo fator que torna esta reestruturação no Santuário de
Fátima ainda mais incompreensível. As regalias e as isenções fiscais garantidas
pela concordata deviam, em consciência, obrigar a Igreja Católica a um outro
sentido de responsabilidade para com o país e a sociedade. Despedir 100
trabalhadores num universo de 400 (com rescisões, não renovações ou de qualquer
outra forma), quando se "fatura" milhões livres de impostos todos os
anos e se tem tanto património é, no mínimo, ultrajante. E dificilmente
encontrará explicação na Bíblia.
Para a hierarquia da Igreja, no
acerto de contas final com Deus, pode até ficar tudo perdoado. Mas, pelo
caminho, cerca de 100 pessoas - que não têm sindicatos nem comissões de trabalhadores
para as defender - perderam o emprego. Há famílias que vão passar pior a partir
de agora e tudo isso era desnecessário. Bastaria, porventura, que a Igreja
fosse coerente com a doutrina que apregoa aos outros, todos os domingos, e
desse o exemplo. Porque, se não o começar a fazer rapidamente, o número de
fiéis vai continuar a diminuir e a "crise económica" será o menor dos
problemas.
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