A eurodeputada do Bloco de
Esquerda, que se candidata pela segunda vez a Belém, garante que irá fazer uma
campanha contra o medo, em tempo de pandemia e de crise social. E elegeu
Marcelo, que deverá anunciar recandidatura no final do ano, como seu principal
adversário. E já tem outros oito a postos para entrar na corrida.
Do Largo do Carmo, rodeada
simbolicamente por profissionais que estiveram na linha da frente durante a
pandemia, Marisa Matias apresentou a sua candidatura à Presidência da
República. "Candidato-me para fazer a campanha contra o medo",
garantiu.
A também eurodeputada bloquista,
que entra pela segunda vez na corrida a Belém, prometeu ouvir e dar voz "a
gente sem medo" e apoiar a coragem dos que ajudam os outros.
Numa curta intervenção, e lida em
tom rápido, Marisa elegeu Marcelo Rebelo de Sousa, que ainda não assumiu a
recandidatura, como o seu adversário principal. E depois de se ter assumido
"socialista, laica e republicana" e de prometer bater-se pelas suas
ideias, sobretudo num país que precisa da República para enfrentar a crise que
se vai agudizar. E, também numa indireta ao atual Presidente da República,
católico assumido, frisou: "Portugal precisa da laicidade do Estado."
As bandeiras que ergueu naquele
largo mítico de Lisboa foram as da "igualdade e da liberdade", mais
uma vez contra o "medo que nos destrói e divide", quando a
"República une". "Luto ao lado dos que se revoltam contra a
injustiça e sou de uma esquerda que não se verga às ordens dos mercados."
E regressou a Marcelo, o
expectável recandidato, com quem se identificou nas lutas pelos sem-abrigo e
pelo estatuto dos cuidadores informais. Mas de quem diverge em muita coisa,
sobretudo na visão sobre a economia e a banca, ou o Serviço Nacional de Saúde.
"Não terei o voto das grandes fortunas, mas dos trabalhadores",
disse.
Oito pré-candidatos, e alguns
silêncios
Marisa Matias é uma das
"repetentes" na corrida a Belém entre os nomes já conhecidos, depois
de em 2016 ter conseguido o melhor resultado de sempre de um candidato da área
política bloquista, ficando em terceiro lugar, com 10,12% dos votos.
Com ela são já oito
pré-candidatos na corrida às presidenciais e há outro repetente. Vitorino
Silva (mais conhecido por Tino de Rans) assumiu que irá novamente a votos, mas
pretende que a disputa se realize apenas na primavera, para proteger os idosos,
o grupo mais afetado pela pandemia de covid-19. Em 2016, o agora líder do
partido RIR (Reagir Incluir Reciclar) obteve 3% dos votos e ficou em sexto
lugar entre dez candidatos.
Cronologicamente, como já
escreveu o DN, foi o líder e deputado único do partido Chega, André Ventura, o
primeiro a apresentar publicamente a sua intenção de concorrer a Belém, em
fevereiro.
Seguiram-se, no final de julho,
as manifestações de vontade de concorrer a Belém do advogado e fundador do
Iniciativa Liberal Tiago Mayan Gonçalves e do presidente do Partido Democrático
Republicano (PDR), Bruno Fialho.
Mas foi na semana em que o atual
chefe do Estado entra no último semestre do seu mandato de cinco anos (9 de
setembro) e que, nos termos da Constituição, perde o poder de dissolução da
Assembleia da República que o tema das presidenciais entrou em força na agenda
política. E sobretudo porque entrou na corrida uma nova candidata à esquerda.
Nesta quinta-feira (10 de
setembro), a ex-eurodeputada socialista Ana Gomes apresentará a sua candidatura. Apesar
de contar já com apoios dentro do PS - do antigo líder parlamentar e
ex-eurodeputado socialista Francisco Assis, e do líder da tendência minoritária
dentro da Comissão Política do PS, Daniel Adrião -, a diplomata não tem
garantido o apoio formal dos socialistas, depois de António Costa ter dito
recentemente que irá ter uma atitude de "recato" nas presidenciais e
de remeter a decisão para os órgãos do partido.
No mesmo dia, no Porto, será
apresentada uma outra pré-candidatura a Belém: a do ex-militante do CDS Orlando
Cruz, que já por três vezes no passado fez este anúncio, mas que nunca chegou a
formalizar o processo junto do Tribunal Constitucional.
Finalmente, para sábado está
prevista a reunião do Comité Central do PCP para decidir o candidato às
presidenciais apoiado pelo partido, cujo nome ainda não foi revelado, mas com o
secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, a excluir-se da disputa a Belém
que já travou em 1996 e 2006. Pouco provável é que o PCP repita o candidato com
que a CDU avançou em 2016, o madeirense Edgar Silva, que teve apenas 4% dos
votos.
Só "lá para novembro",
nas palavras do próprio, é que Marcelo Rebelo de Sousa anunciará a sua
decisão quanto a uma eventual recandidatura nas presidenciais de 2021, que
manteve em aberto ao longo do seu mandato, e sempre depois de ter convocado as
eleições (o que tem de fazer com uma antecedência mínima de 60 dias, segundo a
lei).
Do lado do centro-direita, os
líderes do PSD e do CDS, Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos, têm remetido
para depois deste anúncio a realização de reuniões partidárias para decidirem
se voltam a apoiar Marcelo Rebelo de Sousa (há cinco anos, os dois partidos
fizeram recomendações de voto no antigo presidente social-democrata).
Há cinco anos, o Tribunal
Constitucional admitiu as dez candidaturas formalizadas às eleições
presidenciais, o que constituiu um número recorde.
Os dez candidatos às eleições
presidenciais de 24 de janeiro de 2016 foram: Henrique Neto, António Sampaio da
Nóvoa, Cândido Ferreira, Edgar Silva, Jorge Sequeira, Vitorino Silva (Tino de
Rans), Marisa Matias, Maria de Belém Roseira, Marcelo Rebelo de Sousa (que
venceu à primeira volta com 52% dos votos) e Paulo de Morais.
Antes, tinha havido, no máximo,
seis candidaturas a eleições presidenciais, em 1980, em 2006 e 2011.
As candidaturas a Presidente da
República só são válidas depois de formalmente aceites pelo Tribunal
Constitucional, e após a apresentação e verificação de um mínimo de 7500 e um
máximo de 15 000 assinaturas de cidadãos eleitores, até 30 dias antes da data
da eleição, que deverá realizar-se no final de janeiro do próximo ano.
Paula Sá, David Mandim | Diário de Notícias
Na imagem: Marisa Matias, a
candidata do BE a Belém // © José Sena Goulão/Lusa
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