Rafael Barbosa |
Jornal de Notícias | opinião
É quase oficial: Ana Gomes será
candidata às presidenciais de janeiro do ano que vem. Candidata socialista
(militante do partido, antiga eurodeputada), ainda que sem o apoio do PS (uma
nova tradição, posto que o partido também não apoiou candidato em 2016). Ora,
só o facto de haver uma candidata socialista, por oficiosa que seja, é
suficiente para virar a campanha de pernas para o ar. Nem tanto por causa do
resultado final (é provável que o atual presidente seja reeleito e talvez por
margem folgada), mas porque o debate deixa de ser exclusivamente entre o
presidente que representa a moderação do centro político e os insurgentes
(estejam eles à Esquerda ou à Direita).
Outro dos efeitos da candidatura
de Ana Gomes é o da deslocação da candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa para a
Direita. É possível que a máquina de calcular do presidente o não deseje, mas é
essa a direção de momento. Veja-se o líder do CDS, que há um mês desafiava
Marcelo a clarificar se seria o candidato do centro-direita ou do centro-esquerda
e que agora exulta com o presidente que "a Direita" já tem.
Outro efeito da presença de Ana
Gomes, diz-se, é o de servir de tampão ao extremismo de Direita de André
Ventura. Há até dirigentes socialistas que já assumiram ser essa a principal
virtude da candidatura. Pode parecer excessivo atribuir tanto valor a Ventura,
quando ainda tem de o demonstrar nas urnas, mas o próprio já acusou o incómodo
que lhe causa a candidatura de Ana Gomes, com a elegância habitual de quem
distribui argumentos misóginos ("histérica") e xenófobos ("amiga
das minorias que vivem do nosso trabalho").
Finalmente, a presença da
socialista terá efeitos nas candidaturas dos dois partidos mais à Esquerda, que
até aqui podiam aspirar a resultados mais volumosos. Em particular para Marisa
Matias, eurodeputada do BE, uma vez que é patente que Ana Gomes está hoje mais
à Esquerda que a maioria dos seus companheiros do PS. Quanto ao futuro
candidato do PCP, o desafio será conseguir ultrapassar o patamar dos 5% e
receber a subvenção estatal (há quatro anos, Edgar Silva não só não conseguiu,
como ficou apenas escassas décimas à frente de Tino de Rans). Com Ana Gomes na
lista, também este objetivo parece mais difícil.
*Chefe de Redação
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