Paulo Baldaia | TSF | opinião
Não foi preciso Trump, nem é preciso Ventura para que o debate em Portugal se tenha tornado uma bela porcaria. Com Ventura será muito pior, é evidente, mas já lá vamos.
Quem viu e ouviu, esta semana, o debate entre Daniel Oliveira e Sérgio Sousa Pinto, na SIC Notícias, e seguiu depois as reações das claques nas redes sociais percebe bem que tudo se resume a saber quem ganhou e quem perdeu, sendo certo que perdemos todos quando os debates deixam de ser sobre ideias, deixam de ter argumentos e passam a ter interrupções constantes, insultos e questões pessoais. Foi assim na América, mas já tinha sido assim em terras lusas.
As aulas de cidadania e as questões de género parecem apelar a instintos, quando deviam apelar à racionalidade, chegando mesmo ao ponto de ter um deputado socialista a referir-se ao seu opositor no debate como um troglodita de esquerda. Sérgio Sousa Pinto quis um acerto de contas pessoal e Daniel Oliveira permitiu, a espaços, que o debate deixasse de ser sobre cidadania e as questões de género. Numa semana em que um senhor de nome Aguilar, suposto professor de Direito na Universidade de Lisboa, ficou conhecido por falar da miopia da fêmea, por comparar o feminismo ao nazismo, num país em que às mulheres continuam a ser vedados direitos exclusivos dos homens, em que elas continuam a tratar da casa e dos filhos, há quem pense que isto se muda sem ensinar desde cedo que não pode continuar a ser assim.
Voltemos a Trump e a Biden. O debate entre os candidatos norte-americanos terá sido o pior de sempre, mas podem ter a certeza que se houver debates presidenciais em Portugal, há o risco sério de a coisa descer ainda mais de nível. O espirito da Democracia apela a que se façam debates entre os candidatos, mas a presença de André Ventura desaconselha vivamente que se façam. Acabaremos por ter, até porque a televisão portuguesa está desejosa de ter o seu "The Shit Show". Infelizmente, o candidato de extrema-direita destruirá qualquer hipótese de debate, mas não me parece sequer que fique a falar sozinho. Há muita gente a pensar que é preciso jogar o jogo dele, desmascará-lo, mostrar as suas fragilidades. Adivinho que Ana Gomes e Marisa Matías estejam desejosas de o enfrentar. Quem não distingue mentira de verdade, insulto de acusação, não perde debate nenhum. Nós é que vamos perder parte do nosso precioso tempo a tentar perceber e explicar porque é que o pior debate de sempre também será em Portugal o debate presidencial.
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