sábado, 21 de novembro de 2020

Portugal | Por favor, não alimente o vírus

O vírus lida muito bem com os que estão cansados de lidar com ele, alimenta-se desse cansaço mas também da ignorância, da imprudência e, claro, da estupidez.

Paulo Baldaia | TSF | opinião

Não sairemos do estado de emergência até que emirja em todos nós, sem exceção, a vontade de vencer o vírus por mais sacrifícios que isso implique. Quanto mais tempo levarmos a cumprir as determinações do poder político, esperamos todos, determinadas pela informação dos especialistas em saúde, mais tempo estaremos prisioneiros de um modo de vida que ninguém quer.

Você que anda na rua sem a máscara que passou a ser de uso obrigatório, sente-se um herói a desafiar o risco? Saiba que a sua atitude é mais perigosa para os outros que para si próprio, pelo que essa ideia que tem de si, de herói desafiando o seu próprio destino, é na realidade a imagem de um egoísta narcísico, disposto a sacrificar os que lhe são próximos apenas para alimentar uma ideia de imortalidade que, desculpe a franqueza, é simplesmente estúpida.

Você que, quando está nas filas do supermercado ou da farmácia, não respeita a distância social está mesmo convencido que, assim, a sua vez vai chegar mais depressa? Não lhe ocorre que a pessoa que está à sua frente, cumprindo a distância em relação à pessoa que está à frente dela, mas que tem que levar consigo em cima, vai sempre ser atendida à sua frente? Essa sua limitação de raciocínio não o preocupa?

Ainda assim, compreende-se melhor e tem bastante mais nobreza a ideia de que existe uma bolha familiar que se eleva ao infinito e nos protege dos contágios. Na verdade, também é uma ideia errada que é preciso corrigir, porque o vírus não pergunta o nome de família e não distingue os Bettencourt de Albuquerque dos simplesmente Silva. Daí que com a incidência de contágio tão alta é absolutamente necessário evitar encontros alargados, mesmo que exclusivamente familiares.

Sim, todos podemos queixar-nos das autoridades de saúde e criticar o governo. Razões não faltarão para que o façamos, a começar pela forma tardia como muitas decisões são tomadas ou pela forma incoerente como tudo é comunicado. O que nenhum de nós pode é alijar responsabilidades pelo momento grave que vivemos, menos ainda com a desculpa de que estamos cansados de lidar com a pandemia e com as restrições que nos impõem como única forma de a derrotar. Está cansado de lidar com o vírus? O vírus não quer saber.

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