A América, como tantos dizem ao referirem-se aos EUA (como se aquela parte nortenha do continente fosse dona da parte central e do sul) mostra o que para as elites político-partidárias e financeiras significa a democracia, as eleições, os votos e os interesses pessoais e de grupos afetos ao grande capital e aos lobies. Os EUA democráticos há muito que se extinguiram. A grande democracia exauriu-se perante a máfia que há décadas a governa governando-se. A bandidagem perdeu as estribeiras e proporciona ao mundo inteiro o triste espetáculo da pouca vergonha de uns quantos. O caráter de Al Capone e as suas práticas ressuscitam todos os dias da Casa Branca ao Congresso encarnado nos pseudo altos dignitários da nação, a começar pelo Presidente. Na atualidade um tal Trump, mas há mais daquele quilate, uns armados como no faroeste, outros nem por isso. Todos esses a pavonearem-se sem dignidade, sem o devido respeito pelos eleitores, pelos cidadãos dos EUA, pelo próprio país que querem e dizem ser grande - uma falácia. Assistimos em todo o mundo á maior ausência de vergonha no decorrer do apuramento do resultado das eleições. Todos vimos isso fora daqueles fronteiras, assim como todos os cidadãos dos EUA com dignidade também vêem. Vêem o que não merecem. Povo nenhum merece ver os seus líderes a personalizarem o triste espetáculo a que temos assistido. A refrega eleitoral pode vir a complicar-se muito mais. De um lado e de outro, democratas e republicanos, andam armados. É o dividirem para reinarem um povo alienado, fraccionado, que está a exibir os antagonismos que as duas formações partidárias têm semeado. A Grande América já não o é. Quem não sabe?! Pelo menos que se salve o grande povo naquela América Vergonhosa e Minúscula.
A seguir o Curto do Expresso. Para si. Bom dia.
MM | PG
Bom dia este é o seu Expresso Curto
Vitória de Biden é quase certa mas Trump ameaça impugnar resultados
Miguel Cadete | Expresso
A vitória de Joe Biden nas
eleições presidenciais dos Estados Unidos da América está muito próxima e pode
mesmo ser anunciada hoje. Segundo o “New York Times”, o ex-vice de Barack Obama
já assegurou 253 grandes eleitores dos 270 que são necessários para chegar a
Chefe de Estado contra apenas 214 para Donald Trump. Siga
aqui a contagem dos votos em direto.
A conquista por parte de Biden dos estados do Wisconsin e Michigan, anunciada
ontem à noite, pode ser decisiva, havendo
mesmo quem, como a Associated Press, coloque as contas num 264 contra 214,
tornando a disputa no Nevada (que vale seis eleitores) decisiva para
Biden chegar a Presidente. Nesse caso, a contagem de votos na Pensilvânia,
Carolina do Norte ou Geórgia já seria irrelevante.
A diferença entre as várias contagens acontece ora por ainda não terem sido
contabilizados muitos dos votos enviados pelo correio, um processo que ganhou
muito destaque nestas eleições devido à pandemia, ora porque Donald Trump está
a utilizar processos judiciais para pedir
a recontagem de votos ou impedir
o regular funcionamento do processo eleitoral.
Depois
de se ter declarado vencedor prematuramente, o
atual Presidente dos EUA, encontra-se perante um cada vez mais provável cenário
de derrota, e então pediu a recontagem de votos no Wisconsin, exigiu a sua
paragem no Michigan, suspeitou dos prazos de fecho das urnas na Pensillvânia e
quer impedir que sejam válidos os votos mais tardios na Geórgia. Além de uma
vitória na secretaria, dependente de regulamentação diversa de estado para
estado, Trump pretende prolongar o anúncio do vencedor destas eleições. A
ameaça de recorrer ao Supremo Tribunal, onde há uma maioria de conservadores,
de forma a parar a contagem dos votos foi outro sinal dado por Trump nesse
sentido.
Os menos crentes na democracia americana acreditam que os EUA podem ser, neste
momento, um barril de pólvora. Sobretudo
se Trump insistir na tese da fraude eleitoral e apelar a milícias e
grupos armados, abandonando o recurso às instituições judiciais para contestar
a contagem de votos. Na rede social Twitter, alguns dos seus posts foram mesmo
censurados.
O populismo – que é anterior à investidura de Trump como Presidente - será
contudo a grande marca destas eleições na América, até pelo contágio que o fez
alastrar a outros continentes. E
esse poderá permanecer bem vivo na sociedade americana. David Dinis,
enviado especial do Expresso a estas eleições, encontrou já nove
obstáculos para normalizar esta América pós-Trump.
Em Portugal, uma provável mudança de Presidente dos EUA poderá ter repercussões
muito relevantes, basta lembrar o
recente ultimato do Embaixador de Washington m Lisboa no que respeita à relação
com a China. Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, “uma
administração Biden será uma mudança”, disse ontem em declarações à RTP.
Joe Biden também falou ontem, 20 horas depois do fecho das urnas, mas não se
anunciou vencedor ainda que tenha dito acreditar na vitória final. “Meus amigos
americanos, provaram de novo que a democracia é o coração deste país. Mais de
150 milhões votaram e isso é extraordinário. O governo do povo e para o
povo está vivo”, disse.
Estas foram as eleições presidenciais mais concorridas nos EUA nos últimos cem
anos. Tanto o candidato democrata como o candidato republicano terão somado
cinco milhões de votos ao resultado que obtiveram em 2016. Foram esse dez
milhões de votantes adicionais que também ajudaram à derrota
das sondagens nesta eleição. Joe Biden terá conseguido o desempenho bem
acima daquele obtido por Hillary Clinton nas áreas urbanas. Já Donald Trump
terá alcançado mais votos nas áreas rurais e menos povoadas. Não foram
reportados, até agora, distúrbios nas urnas nem problemas na contagem
electrónica dos votos.
A disputa promete, contudo, passar das urnas para os tribunais. E dos tribunais
para as ruas. Oiça a edição de hoje do podcast Expresso
da Manhã, conduzido por Paulo Baldaia, com participação especial neste
episódio dos enviados do Expresso Pedro Cordeiro (em Washington) e David Dinis
(
OUTRAS NOTÍCIAS
Em Portugal foi ontem registado um novo máximo de mortos em 24 horas atribuídos
à pandemia do novo coronavírus. Além dos 3570 novos casos confirmados, a
DGS anunciou a morte de 59 infetados com covid-
Rui Rio ainda não aceitou exigências do Chega e chumba geringonça açoriana. A
recusa da revisão da Constituição, como pretende o partido de André Ventura,
não foi aceite o que leva a acreditar que não existirá uma coligação
entre PSD, CDS, PPM, IL e Chega. José Manuel Bolieiro, o líder do PSD Açores,
tem até sábado para apresentar uma solução governativa.
Parlamento quer votar Estado de emergência esta sexta-feira. A data só ainda
não é definitiva porque o
decreto ainda não chegou da Presidência da República.
O Presidente da CIP está contra o Estado de Emergência devido ao impacto que
tem nas empresas. Segundo António Saraiva, está demonstrado “desde
março, que há outras soluções”. Também a Confederação do Comércio tem
dúvidas e alerta “para
o impacto nas empresas”. O PCP está, neste caso com os patrões, “estado
de emergência ou recolher obrigatório nada resolvem”, disse a Direção da
Organização Regional do Porto do PCP.
CUF assina acordo com SNS. O Hospital CUF do Porto vai receber doentes oriundos
do Serviço Nacional de Saúde, tal
como está previsto no acordo ontem assinado com a ARS do Norte. Ficou
determinado o pagamento de 1962 euros por cada episódio de internamento sem
ventilação ou com ventilação até 96 horas e de 12.861 euros nos casos mais
graves e que permanecem além de quatro dias no hospital com recurso a
ventilação. Já no
Hospital de Penafiel, a Ordem dos Enfermeiros diz que se vive um autêntico
clima de guerra.
Na manchete do “Público” lê-se que um milhão e meio de consultas ficaram por
fazer devido à pandemia. O Ministério da Saúde também alertou para o facto de 150
mil cirurgias terem sido canceladas.
Na capa da revista “Sábado” noticia-se que o
Ministério Público está a investigar o ministro da Economia, Siza Vieira, e o
secretário de Estado João Galamba devido aos negócios do hidrogénio
Prossegue o julgamento do hacker Rui Pinto. Ontem esteve no tribunal Nélio
Lucas, fundador da Doyen, que assumiu que a empresa nunca perdia dinheiro. No
entanto, foi encontrado um
buraco de 31 milhões de euros nas contas da Doyen em Malta.
“Idiot Prayer”, o concerto a solo que Nick Cave deu durante o período de
quarentena vai ser exibido em Portugal esta quinta-feira, 5 de novembro. O
espectáculo foi transmitido em streaming, a partir da sala londrina
Alexandra Palace sem qualquer público a assistir. Saiba
em que salas pode ver o filme aqui.
FRASES (Especial Eleições EUA)
“O pobre Biden
é um embaraço mantido em bom recato. No fundo é um adereço anacrónico, uma
promessa desvitalizada de regresso a um business as usual passado, a uma era
pré-Trump, mas também pré-Obama”. Sérgio Sousa Pinto, colunista do
Expresso
“Não
sei quando se cansará Trump da sua obsessiva narrativa segundo a qual foi
roubado e o vencedor foi ele”. Henrique Monteiro, colunista do Expresso
“Se
Trump perder, serão, até 20 de janeiro, dois meses e meio de inferno. Não estou
otimista, mas esperemos que seja a provação mais rápida. O mundo precisa de se
ver livre deste incendiário”. Daniel Oliveira, colunista do Expresso
“Como
dizia há dias Fareed Zakaria, há que ter esperança no lado solar da América”. Henrique
Raposo, colunista do Expresso
O QUE ANDO A LER
Em tempo de renhidas eleições nos Estados Unidos da América não é descabido
recuar a um dos mais lendários debates na televisão portuguesa. Para a história
ficou aquele que opôs Mário Soares e Álvaro Cunhal, então líderes do PS e do
PCP, capaz de prender o país ao pequeno ecrã, numa época em que apenas existiam
dois canais de televisão, ambos da RTP.
A refrega teve lugar a 6 de novembro de 1975, entre as eleições para a
Assembleia Constituinte e as eleições legislativas de 1976. Dias antes tinha
sido assaltada a Embaixada de Espanha
Para a história ficou também a tirada de Álvaro Cunha, repetida meia dúzia de
vezes, em resposta às provocações de Mário Soares, empenhado em conter o
totalitarismo comunista: “Olhe que não, olhe que não!”. Estas visões
antagónicas do mundo ou da democracia deram origem a muito mais do que um
debate. Dividiram o país até há bem pouco tempo e marcaram decisivamente a
sociedade portuguesa desde o 25 de Abril de 1974.
Agora deram também origem a um livro, que leva por título o famoso dito de
Cunhal. “Olhe que Não, Olhe que Não” é uma edição da Tinta-da-China que chega
amanhã às livrarias, da autoria de José Pedro Castanheira e José Maria Brandão
de Brito. Ao todo são 312 páginas que passam a pente fino um país em convulsão,
saído do Estado Novo e a aprender a lidar com a democracia. A promoção do livro
aponta a data como o “ato fundador da democracia mediática” portuguesa, apesar
de meses antes os mesmos oponentes terem ensaiado este histórico debate aos
microfones da Antenne 2 francesa.
E se a televisão então foi fundamental para a discussão livre e plural, que
dizer hoje, passados 45 anos, da utilização das redes sociais e da sua
perversão no que respeita ao debate político. Éramos mais inocentes em 1975?
Por hoje é tudo. Acompanhe toda atualidade no site do Expresso.
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