Diante
dos inúmeros desafios enfrentados pelos trabalhadores ligados aos espaços de
memória, escrevi este texto baseado em vivências adquiridas na prática
cotidiana, ao longo dos anos, das minhas atividades no Museu da Comunicação
Hipólito José da Costa (MuseCom) , localizado, em Porto Alegre (RS), Centro
Histórico, Rua dos Andradas, 959. Criado em 10 de setembro de 1974, o museu
completou seus 45 anos de atividades culturais junto à sociedade gaúcha. Nesta
instituição, trabalho há 27 anos, o que me credencia, de certa forma, a
discorrer sobre a relevância de espaços que guardam, preservam e disponibilizam
os seus acervos, de diferentes tipologias, ao público interessado e,
principalmente, aos estudantes que desenvolvem pesquisas acerca dos mais
diversos temas.
O produto cultural,
que resulta das atividades ligadas à pesquisa, é representado pela produção de
monografias, dissertações, teses, livros, entre outros trabalhos, no campo das
ciências humanas e das exatas. Todo o processo técnico, que é desenvolvido pelo
pesquisador, constitui-se num verdadeiro garimpo no passado remoto ou recente.
Entre outros aspectos importantes, no campo da pesquisa, é o acesso às fontes
históricas (acervos) que, nos espaços de memória, encontram-se inventariadas e
preservadas, viabilizando a produção científica das nossas universidades.
A missão do
pesquisador
A partir de um
olhar crítico, estes profissionais, em sua incansável e responsável tarefa,
desenvolvem pesquisas sobre os mais variados temas dentro de um recorte
histórico-temporal. Há também as pesquisas com o caráter revisionista, visando
a retificar e a elucidar determinados fatos, a partir de novos dados coletados
pelo pesquisador, em seu trabalho de mergulhar no passado, visando a
compreender o presente. Essas pesquisas valorizam de sobremaneira o papel do
pesquisador, e as fontes que lhe servem de base e sustentação em sua atividade.
O trabalho do pesquisador só se torna possível graças aos espaços de memória
que guardam, preservam e disponibilizam seus acervos ao público.
Os
regimes de repressão e a historiografia
No decorrer da
história do Brasil, devido a interesses oligárquicos, principalmente quando se
implantaram governos ditatoriais, foram criados mecanismos de repressão em
relação aos meios de comunicação e a qualquer forma de produção cultural que
fosse de encontro aos donos do poder.
O cerceamento
da liberdade de expressão resultou, durante o Estado Novo (1937-1945) e a
Ditadura Civil-Militar (1964-1985), na omissão e na invisibilidade de
determinados acontecimentos, por parte historiografia oficial, assim como na
manipulação de fatos importantes de acordo com os interesses do poder. Isto
dificulta bastante o papel do pesquisador, fazendo com que o seu trabalho
assuma um caráter desafiador.
De acordo com os
historiadores e a narrativa daqueles que sobreviveram ao terror da tortura, a
queima de arquivos e assassinatos, na calada da noite, eram práticas de rotina
nos períodos de regimes ditatoriais no Brasil. Estas práticas visavam a apagar
tudo que, de alguma forma, comprometesse ou colocasse em risco o sistema numa
insana “caça às bruxas”, que não deixou nada a dever aos inquisidores do Santo
Ofício.