quarta-feira, 8 de abril de 2020

A NATO pega em armas para “combater o coronavírus”


Manlio Dinucci | Global Research, Abril 07, 2020

Os 30 Ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO (Luigi Di Maio, em representação da Itália), que se reuniram, em 2 de Abril, por videoconferência (1) encarregaram o General norte-americano Tod Wolters, Comandante Supremo Aliado na Europa, de “coordenar o apoio militar necessário para combater a crise do coronavírus”.

É o mesmo general que, no Senado dos Estados Unidos, em 25 de Fevereiro passado, declarou que “as forças nucleares apoiam todas as operações militares USA, na Europa” e que ele é “um defensor de uma política flexível do primeiro uso” de armas nucleares, ou seja do, ataque nuclear de surpresa. (2) (“ O Doutor Strangelove cuida da nossa saúde”, il manifesto, 24 de Março). (3)

O General Wolters é o Comandante Supremo da NATO, na qualidade de Chefe do Comando Europeu dos Estados Unidos, portanto, faz parte da cadeia de comando do Pentágono, que tem prioridade absoluta. Quais são as suas regras rígidas, confirma-o um episódio recente: o Capitão do porta-aviões Roosevelt, Brett Crozier, foi afastado do comando porque, perante a propagação do coronavírus a bordo, violou o segredo militar ao solicitar o envio de ajuda. (4)

“Como podemos propor a paz se usarmos a intimidação da guerra nuclear?”


“Que Páscoa estamos comemorando?”

Alex Zanotelli*

“Que sentido terão nossos pasques e esses salmos ainda cantantes se nos encontrarmos coniventes com os próprios faraós? Ó Igrejas!…. ”, Escreveu o poeta monge Davide Turoldo em seu Livro dos Salmos, que uso na minha oração diária. Essa pergunta explosiva de Turoldo para a nossa Páscoa, mas especialmente para a Páscoa deste ano, que não podemos celebrar solenemente em nossas igrejas pela emergência do coronavírus. É um momento importante para refletir sobre o que significa celebrar a Páscoa, especialmente para nós, igrejas ocidentais.

Como podemos celebrar a Páscoa, a festa da libertação da escravidão, quando vivemos em um sistema económico-financeiro que permite que poucos tenham quase tudo na pele de bilhões de pessoas pobres, com milhões de mortes por ano por ano? Os dados recentes da OXFAM são impiedosos: dois mil bilionários têm até quatro bilhões e meio da população mundial. Esse sistema permite que 10% da população mundial consuma 90% dos bens produzidos apenas pelo mercado, criando uma grave crise ambiental que já mata oito milhões de pessoas por ano. E por que estamos tão aterrorizados com o coronavírus, enquanto esse sistema mata muito mais a cada ano sem nos incomodar?

A crise ecológica representa uma ameaça à própria sobrevivência do Homo Sapiens, mas nossos governos são incapazes de tomar decisões sérias para mudar do carvão e do petróleo para o solar. Todo esse cenário não deveria nos assustar mais do que o Covid-19? E então esse sistema profundamente injusto só pode permanecer porque aqueles que o possuem estão armados até os dentes, especialmente com armas nucleares. “Armas nucleares - disse o grande bispo de Seattle, R. Hunthousen - protegem privilégios e exploração. Desistir deles significaria que devemos abandonar nosso poder económico sobre outros povos ". Para entender a importância capital das armas para defender esse sistema, basta reler os dados de gastos militares em 2019 preparados por Sipri. No ano passado, gastamos US $ 1,822 bilião em todo o mundo, equivalente a cerca de cinco bilhões de dólares por dia. A Itália gastou bons 27 biliões de dólares.

Coronavírus | "ESTAMOS DIANTE DO FIM DA CLASSE MÉDIA"


Entrevista a Daniel Estulin 

E depois que a pandemia do novo coronavírus acabar? O que vai acontecer? Muitas pessoas já se perguntam sobre isso. Para Daniel Estulin, autor de livros sobre o Clube Bilderberg e analista de inteligência russo, a crise sanitária é secundária. O que está em jogo aqui é o fim de um ciclo financista cuja quebra está sendo mascarada pela pandemia. É o fim da era iniciada com os acordos de Bretton Woods em 1944.

Como é que o mundo vai mudar depois do coronavírus?

O que está por vir é uma crise de uma magnitude que só vimos duas vezes nos últimos dois mil anos. O primeiro foi entre os séculos IV e VI, quando surgiu o feudalismo. E o segundo momento veio com o nascimento do capitalismo, a partir do século XVI. O que estamos vivendo agora é o fim do capitalismo como o conhecemos, uma crise sistêmica planetária. O capitalismo precisa de expansão contínua, abrindo novos mercados, porque sem novos mercados o capitalismo morre. Isto é o que Karl Marx e Adam Smith disseram. O coronavírus está sendo usado como desculpa para procurar uma explicação para o colapso dos mercados planetários, quando isto é algo que começou muito antes. A Itália também é fácil de explicar. 114 bancos na Itália estão falidos. Ter um coronavírus é fantástico porque eles podem parar de pagar e botar a culpa pela falência no vírus.

O mundo está preparado para uma crise desta magnitude?

O modelo econômico chegou ao fim. Em 1991, os dois modelos existentes, o comunista e o capitalista, foram reunidos em um que durou até 2008, quando começou o início do fim. Em 2008 ainda havia formas de salvar o sistema, através da limpeza dos elementos parasitários, mas agora existem bolhas criadas pelos bancos, que aumentaram a dívida em 70%, que não podem ser eliminadas, ou podem ser eliminadas, mas isso seria através de uma guerra termonuclear ou bacteriológica ou com um coronavírus, uma força maior que na maioria dos contratos permite não pagar a dívida. O modelo negociado em Bretton Woods em 1944 só funciona com uma expansão ilimitada do capitalismo. Mas chegamos ao fim e o que estamos vendo agora são as consequências da quebra.

Portugal | Despedimentos em massa comprovam desprotecção


Apesar da intenção do Governo de reforçar os meios da ACT por forma a combater despedimentos ilegais, é a precariedade intrínseca dos vínculos laborais em muitas empresas que permite este desfecho.

São mais de 2000 os casos de despedimentos no sector industrial, muitos dos quais sem direito ao subsído de desemprego, agravando a já débil situação em que as suas famílias se encontram. Uma denúncia feita pelo Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Sul (SITE Sul/CGTP-IN), em nota divulgada à imprensa, na qual afirma que, na actual situação de grave crise sanitária, o Governo alterou leis para facilitar a vida às empresas, mas «esqueceu-se da protecção dos trabalhadores».

No distrito de Évora são mais de 400 os trabalhadores despedidos, entre os quais 90 da Gestamp (Vendas Novas), 75 da AIS (Montemor-o-Novo) e 50 da Fundição de Évora. No de Portalegre, as duas empresas da Hutchinson despediram mais de 200 trabalhadores. No distrito de Setúbal, perderam o seu emprego mais de 1400 trabalhadores, nomeadamente no Parque da Autoeuropa, onde ocorreram mais de 750 despedimentos, e na Refinaria de Sines, com mais de 300 (onde estão incluídos um dirigente e um delegado do sindicato).

Número de mortos sobe para 380. Covid-19 já infetou 13141 em Portugal


Há 245 doentes internados nos cuidados intensivos

Estão confirmadas 380 mortes devido à Covid-19 em Portugal, mais 35 nas últimas 24 horas. Há ainda 699 novos casos de contágio, elevando para 13141 o número de pessoas infetadas pela doença, segundo o último boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS).

Até ao momento, 196 pessoas conseguiram recuperar, mais 12 do que as contabilizados no último balanço.

Há 24481 casos em vigilância pelas autoridades de saúde e 5903 pessoas aguardam resultado laboratorial para saber se estão, ou não, infetadas.

A DGS indica ainda que 1211 doentes estão internados em hospitais, 245 dos quais em unidades de cuidados intensivos, segundo informações reportadas pelos Hospitais, Administrações Regionais de Saúde e Regiões Autónomas. A grande maioria dos doentes contagiados está a recuperar em casa.

No que toca aos óbitos, 208 foram registados no Norte, 96 no Centro, 68 na região de Lisboa e oito no Algarve. O Alentejo e as ilhas continuam a não registar mortes.

Entre os casos de contágio há mais mulheres (7484) do que homens (5657), mas a mortalidade é mais elevada entre os homens (204) do que entre as mulheres (176). A maioria das pessoas que morreram depois de terem contraído Covid-19 tinha mais de 80 anos (241 casos).

O Norte é a região que regista o maior número de casos confirmados (7836), seguida de Lisboa e Vale do Tejo (3424), da região Centro (1865), do Algarve (251) e do Alentejo (93). Há ainda 70 casos nos Açores e 52 na Madeira.

TSF | Imagem: © António Cotrim/Lusa

Mais 757 mortes em Espanha. Número de óbitos sobe pelo segundo dia seguido


Espanha eleva para 14.555 e 146.690 o total de mortes e casos confirmados, respetivamente. Mais 4.813 pessoas recuperaram nas últimas 24 horas.

Espanha registou esta quarta-feira mais 757 mortes e 6.180 casos confirmados de infeção por covid-19, anunciou o Ministério da Saúde daquele país.

No total, registam-se 14.555 mortes e 146.690 casos confirmados em solo espanhol.Na véspera, Espanha tinha registado 743 mortes e 5.478 casos de covid-19.

Entre as pessoas infetadas, 48.021 já recuperaram. Mais 4.813 recuperaram nas últimas 24 horas.

Espanha é o segundo país com mais casos confirmados, sendo apenas superado pelos Estados Unidos (400 mil), e também o segundo com mais mortes, sendo apenas superado por Itália (17 mil).

Ainda assim, o ministério da saúde de Espanha estima que pelo menos 15 em cada 16 infetados não está sinalizado como tal, por isso, vai levar a cabo uma campanha massiva de testes para ter uma imagem mais real da incidência do covid-19 fora dos hospitais.

A maioria dos especialistas são unânimes ao considerar que o número real de contaminados em Espanha está muito acima dos números recolhidos pelas autoridades sanitárias e alguns estudos sugerem até que poderão já haver milhões de infetados, adianta o El País .

Também o número de mortos em Espanha poderá ser superior que o anunciado, uma vez que os dados de óbitos registados na Comunidade de Madrid na segunda quinzena de março (9.007) é superior ao dobro dos registados no ano passado (4.125), de acordo com o Instituto Nacional de Estatística espanhol, escreve o El País .

Boris Johnson "estável" na segunda noite nos cuidados intensivos


O chefe do governo britânico foi diagnosticado com covid-19 a 27 março. No domingo foi hospitalizado, mas devido ao agravamento do seu estado de saúde foi transferido para os cuidados intensivos.

Reino Unido tem mais de 55 mil infetados pelo novo coronavírus e o primeiro-ministro Boris Johnson é uma dessas pessoas. Passou a segunda noite nos cuidados intensivos no Hospital St. Thomas, em Londres, e está "estável", "confortável", mantendo-se animado, disse, esta quarta-feira, o ministro da Saúde britânico, Edward Argar, em declarações à BBC.

Boris Johnson foi diagnisticado com covid-19 a 27 de março, tendo ficado em isolamento em casa a trabalhar até domingo, dia em que, por conselho médico, foi hospitalizado por precaução devido à persistência de sintomas de covid-19, como febre. O seu estado de saúde agravou-se na segunda-feira, tendo sido transferido para a unidade de cuidados intensivos, onde recebeu oxigénio, mas não precisou de ficar ligado a um ventilador..

Quase 2.000 mortos em 24 horas nos EUA. Recorde diário a nível mundial


Os Estados Unidos registaram na terça-feira 1.939 mortes causadas pela covid-19 em 24 horas, o pior recorde mundial diário, de acordo com a contagem da Universidade Johns Hopkins.

O número total de mortes desde o início do surto nos Estados Unidos é agora de mais de 12.700.

Os Estados Unidos também são, de longe, o país do mundo com o maior número de casos confirmados: cerca de 396.000 pessoas infetadas no país, de acordo com a universidade norte-americana, que atualiza continuamente os dados.

A Espanha é o segundo país com maior número de mortes, registando 13.798 mortos, entre 140.510 casos de infeção confirmados.


A China, sem contar com os territórios de Hong Kong e Macau, conta com 81.740 casos e regista 3.331 mortes. As autoridades chinesas anunciaram esta quarta-feira 32 novos casos, todos oriundos do exterior, e pela primeira vez desde janeiro não reportou mortes.

Além de Itália, Espanha, Estados Unidos e China, os países mais afetados são França, com 10.328 mortos (78.167 casos), Reino Unido, 6.159 mortos (55.242 casos), Irão, com 3.603 mortos (58.226 casos), e Alemanha, com 1.607 mortes (99.225 casos).

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou cerca de 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 80 mil.

Dos casos de infeção, cerca de 260 mil são considerados curados.

Diário de Notícias | Lusa

O CAPITALISMO NO SEU MELHOR, BUNKERS À ESCOLHA


Ricos e célebres investem em bunkers de luxo

Muitas pessoas ricas e célebres não esperaram instruções oficiais para se porem ao abrigo do coronavírus. Elas investiram em massa nos bunkers da Vivos Group. Esta sociedade da Califórnia especializou-se na construção de pequenas fortalezas de luxo onde famílias ricas podem sobreviver a uma catástrofe. Nos EUA, empresas que oferecem kits de sobrevivência e abrigos de socorro registam vendas recordes.

Algures no sudoeste de Dakota do Sul, perto das Black Hills, encontra-se uma zona com 23 quilómetros quadrados composta por centenas de bunkers recobertos de terra. Antigamente era um local onde o exército americano armazenava explosivos e munições, durante a Segunda Guerra Mundial.

Feitos de betão e aço, os 575 bunkers eram habitados por centenas de trabalhadores do exército. Mas em 2016 o complexo foi rebaptizado "Vivos xPoint", depois de a empresa Vivos Group comprar os locais. Os bunkers foram objecto de um relooking luxuoso e aguardam novos habitantes que querem sobreviver ao "fim do mundo".

O coronavírus e a China. Carta aberta a "Repórteres Sem Fronteiras"


Quem esteja atento aos media portugueses tem agora um guia seguro para identificar jornalistas que são a voz do dono norte-americano: são os que todos os dias escrevem qualquer coisa a denegrir a República Popular da China. Os EUA estão manifestamente alarmados com o dramático contraste entre a sua desastrosa abordagem da pandemia e a forma como a China a enfrentou. “Repórteres sem Fronteiras” há muito que desempenha esse servil e anti-jornalístico papel.


Em 24 de Março recebi um email de Daniel Bastard contendo um comunicado de imprensa de RSF intitulado “Se a imprensa chinesa fosse livre, talvez o coronavírus não se tivesse tornado uma pandemia”. Em 25 e 26 de Março, recebi de Cédric Alviani outro texto da RSF intitulado “Esses heróis da informação que a China sufocou”.

Caros senhores Bastard e Alviani,

Que as autoridades chinesas tenham cometido erros quando o surgimento inopinado de um novo vírus, ninguém contesta, em particular o governo de Pequim, que decidiu já responsabilizar as autoridades da metrópole de Wuhan e da província de Hubei.

Vocês aproveitam esses acontecimentos dramáticos para condenar sem apelo um regime que não vos agrada. A indignação de geometria variável é uma constante em RSF.

São bem os herdeiros do vosso fundador e ex-secretário-geral, o pouco recomendável Robert Ménard, cujo compromisso com RSF foi seguido pelo acesso à prefeitura de Béziers graças ao apoio de Marine Le Pen.

Que o novo secretário-geral de RSF, Christophe Deloire, tenha declarado em 2006 dessolidarizar-se de Ménard, isso não o impediu, em 2019, de ir buscar o Prémio Dan David a Tel Aviv, num país que se pode dar ao luxo de assassinar jornalistas palestinianos.

Quanto ao inefável Pierre Haski, vosso presidente, cujos sentimentos anti-chineses são bem conhecidos, conseguiu uma vez a proeza de numa só frase enunciar três mentiras sobre a China.

Nestes momentos talvez decisivos para o futuro de vivermos juntos no planeta Terra, há melhores coisas a fazer do que brincar a reescrever a história com “ses”. “Se China, etc. e, por que não: “se os Estados Unidos respeitassem o direito internacional”, “se as multinacionais não dominassem a política” ou “se o Irão não fosse vítima de sanções”, etc.

Portugal | Os nossos heróis ganham 650 euros


Pedro Ivo Carvalho | Jornal de Notícias | opinião

É a frase final numa reportagem televisiva. Um murro impetuoso no estômago. A jornalista questiona: "Não me leva a mal se lhe perguntar quanto é que ganha?". Patrícia Brilhante Dias, assistente operacional nos Cuidados Intensivos do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, esboça um sorriso constrangido: "Tiro à volta de 640 euros, 650, anda à volta disso".

Um salário que anda à volta disto é tudo menos honroso para uma classe profissional que, em plena pandemia, foi justamente alcandorada pelos portugueses ao patamar da heroicidade. Um herói nacional não pode ganhar 650 euros. É indigno em qualquer contexto, é vergonhoso no atual.

Nem sempre os cidadãos entendem as reivindicações de médicos e de enfermeiros - não falo dos assistentes operacionais nem dos técnicos de diagnóstico e terapêutica, porque esses, sendo vitais, não têm ascendente mediático. E essa circunstância faz com que os debates sobre saúde nasçam e morram muitas vezes no regaço desse maniqueísmo. Mas a crueza dos números é inabalável: o nosso sistema de saúde é globalmente eficiente na resposta, mas terrivelmente mal pago.

O salário médio anual dos profissionais de saúde em Portugal ronda os 29 mil euros, o que nos atira para a cauda da Europa. Os gregos recebem 32 mil euros, os espanhóis 54 mil euros, os franceses 95 mil euros. Os norte-americanos quase multiplicam por dez as remunerações médias: 250 mil euros. O desequilíbrio na balança (esforço versus recompensa) pode, consequentemente, vir a revelar-se desastroso a médio e a longo prazo, em particular junto dos elementos mais frágeis da cadeia de responsabilidade.

Por isso, de pouco valem os vídeos-tributo nas redes sociais ou as palmas à varanda depois do jantar. Só homenageamos verdadeiramente os profissionais de saúde em Portugal pagando-lhes melhor. Decentemente. Aprendendo alguma coisa com o que eles valem hoje e com o que poderão valer no futuro. Melhorando as condições em que servem o país.

Vendo no seu exemplo de abnegação, a que não devemos dissociar a tremenda exposição ao risco num contexto de falta de material de proteção, um sinal categórico de que exorbitaram em larga medida o alcance das suas funções. Urge, por isso, converter o critério do nosso reconhecimento. A dívida de gratidão não chega. As palmas diluem-se no esquecimento. Depois disto, não podemos continuar a viver abaixo das nossas possibilidades.

*Diretor-adjunto

Portugal espera mais mortos e prepara-se com urnas e câmaras de frio


Hospitais, agentes funerários e até municípios ampliam resposta para acolher cadáveres. Experiência com os incêndios de Pedrógão serve de exemplo.

"Antecipar o pior, esperando o melhor". O lema do presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, resume o que se estará a passar um pouco por todo o país em termos do reforço da capacidade de frio para acolher cadáveres. E dos stocks de urnas nas funerárias para dar resposta a uma eventual subida do número de mortes por Covid-19.

A Autoridade Nacional de Proteção Civil fez o levantamento das existências junto dos agentes funerários. Do Norte ao Sul, o Ministério da Justiça está a reforçar a capacidade frigorífica, no âmbito do Plano de Emergência Nacional. "Já se procedeu ao reforço em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Castelo Branco, Faro, Portimão e Vila Franca de Xira.

Continuará a proceder-se ao reforço noutros locais, sempre que necessário", informou ontem fonte do ministério. "Está programada uma monitorização diária da capacidade das câmaras frigoríficas das delegações, em Lisboa, Porto e Coimbra, e gabinetes médico-legais e Forenses, instalados em hospitais, existindo partilha de câmaras frigoríficas", acrescenta a tutela.

No Hospital de Braga, está instalado desde ontem um camião-frigorífico. Junto à morgue, estarão também duas câmaras refrigeradoras, uma do Ministério da Justiça (Instituto de Medicina Legal) e outra do Ministério da Saúde, segundo fonte hospitalar.

"STOCK" DE URNAS

O autarca de Cascais antecipou-se às autoridades de saúde e comprou um contentor frigorífico, que está instalado desde 31 de março. Carlos Carreiras entendeu que deveria preparar o município para um cenário de catástrofe, depois do que aconteceu com os incêndios de Pedrógão, em que os corpos tiveram de ser acondicionados num camião-frigorífico. "Quando foram os fogos [a falta de capacidade de frio], foi um problema porque o número de cadáveres era muito elevado", explica, garantindo que o município "mais do que duplicou a capacidade".

"Com as restrições dos funerais, poderemos desta forma guardar os cadáveres enquanto não forem enterrados ou cremados. No limite, também servirá para as famílias aguardarem para poderem fazer mais tarde o funeral", acrescenta o autarca.

Ana Peixoto Fernandes, Delfim Machado e Inês Banha | Jornal de Notícias

Na imagem: Camião-frigorífico foi instalado no Hospital de Braga // Foto: Paulo Jorge Magalhães/Global Imagens

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