quarta-feira, 8 de abril de 2020

Portugal espera mais mortos e prepara-se com urnas e câmaras de frio


Hospitais, agentes funerários e até municípios ampliam resposta para acolher cadáveres. Experiência com os incêndios de Pedrógão serve de exemplo.

"Antecipar o pior, esperando o melhor". O lema do presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, resume o que se estará a passar um pouco por todo o país em termos do reforço da capacidade de frio para acolher cadáveres. E dos stocks de urnas nas funerárias para dar resposta a uma eventual subida do número de mortes por Covid-19.

A Autoridade Nacional de Proteção Civil fez o levantamento das existências junto dos agentes funerários. Do Norte ao Sul, o Ministério da Justiça está a reforçar a capacidade frigorífica, no âmbito do Plano de Emergência Nacional. "Já se procedeu ao reforço em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Castelo Branco, Faro, Portimão e Vila Franca de Xira.

Continuará a proceder-se ao reforço noutros locais, sempre que necessário", informou ontem fonte do ministério. "Está programada uma monitorização diária da capacidade das câmaras frigoríficas das delegações, em Lisboa, Porto e Coimbra, e gabinetes médico-legais e Forenses, instalados em hospitais, existindo partilha de câmaras frigoríficas", acrescenta a tutela.

No Hospital de Braga, está instalado desde ontem um camião-frigorífico. Junto à morgue, estarão também duas câmaras refrigeradoras, uma do Ministério da Justiça (Instituto de Medicina Legal) e outra do Ministério da Saúde, segundo fonte hospitalar.

"STOCK" DE URNAS

O autarca de Cascais antecipou-se às autoridades de saúde e comprou um contentor frigorífico, que está instalado desde 31 de março. Carlos Carreiras entendeu que deveria preparar o município para um cenário de catástrofe, depois do que aconteceu com os incêndios de Pedrógão, em que os corpos tiveram de ser acondicionados num camião-frigorífico. "Quando foram os fogos [a falta de capacidade de frio], foi um problema porque o número de cadáveres era muito elevado", explica, garantindo que o município "mais do que duplicou a capacidade".

"Com as restrições dos funerais, poderemos desta forma guardar os cadáveres enquanto não forem enterrados ou cremados. No limite, também servirá para as famílias aguardarem para poderem fazer mais tarde o funeral", acrescenta o autarca.

Ana Peixoto Fernandes, Delfim Machado e Inês Banha | Jornal de Notícias

Na imagem: Camião-frigorífico foi instalado no Hospital de Braga // Foto: Paulo Jorge Magalhães/Global Imagens

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