quinta-feira, 23 de abril de 2020

Coação dos EUA já não é disputa válida para a solidariedade internacionalista de Cuba



Depois de décadas mencionadas historicamente em termos da Revolução Cubana e anti-imperialismo ideológico, a pandemia de coronavírus lançou Cuba na arena internacional e como um formidável oponente ao capitalismo. Enquanto os países ocidentais lutam para lidar com os sistemas de saúde cada vez mais fracassados, responsáveis ​​por uma alta taxa de mortalidade entre os pacientes com coronavírus, Cuba está administrando a situação em casa e mantendo seu alcance internacionalista. Não mais isolada, Cuba e seus médicos são muito procurados pelos mesmos governos que se interessam pela política externa dos EUA.

Por enquanto, no entanto, os EUA estão travando uma batalha perdida. Desde 2018, o governo Trump iniciou uma campanha de difamação contra o governo cubano, alegando exploração dos médicos revolucionários que oferecem seus serviços globalmente e em áreas remotas.

Incapaz de conter a crescente necessidade de médicos cubanos nos países ocidentais, os EUA retaliaram , impedindo que suprimentos médicos do exterior chegassem à ilha. Os equipamentos médicos e as necessidades enviadas pelo empresário chinês e fundador do site Alibaba foram embargados pelos EUA por meio da Lei Helms-Burton, que regula o bloqueio ilegal imposto a Cuba em retaliação por seu compromisso com a revolução. Os EUA também estão pressionando os países a rejeitarem a assistência médica que Cuba está oferecendo para combater a pandemia - uma chamada que está enfrentando uma crescente rejeição à medida que mais países buscam a experiência de médicos que estiveram à frente da solidariedade médica internacionalista em tempos de pandemias ou problemas naturais. desastres.

Até agora, mais de 45 países solicitaram o medicamento cubano Interferon, desenvolvido na década de 1980 para tratar infecções respiratórias, o que se mostra crucial no controle do vírus e, a longo prazo, impede sua propagação.

Os EUA, que influenciam a opinião global através do terror estatal e da intervenção estrangeira, não são mais um ponto de referência. Talvez essa forma de socialismo em ação tenha sido prevista na década de 1960, quando os EUA estavam financiando a influência da direita para impedir que a revolução cubana influenciasse a América Latina. Contudo, Cuba permaneceu apenas firme em seus valores e comprometida com os princípios delineados pelo líder revolucionário Fidel Castro. Liderando pelo exemplo, e não pela coerção, Cuba eclipsou os EUA no cenário mundial.

Até o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, cuja lealdade aos EUA é parte integrante de sua política e cuja atitude em relação à pandemia de coronavírus tem sido de desdém, solicitou o retorno dos médicos cubanos ao país meses depois de expulsá-los por suposta subversão.

Os líderes do golpe boliviano rejeitaram a assistência médica cubana, afirmando que tal acordo "zombaria dos médicos bolivianos". A declaração foi rejeitada pelos médicos bolivianos que admitiram que o país carece dos recursos necessários para interromper a pandemia. Assim como a Venezuela, sob Hugo Chávez, Fidel e o ex-presidente boliviano Evo Morales assinaram acordos de cooperação médica em 2005, que incluíam 5.000 bolsas de estudo para formar médicos e especialistas.

No entanto, resta saber se os países que estão solicitando a ajuda de Cuba se unirão em solidariedade internacionalista com Cuba contra os EUA para o levantamento permanente do bloqueio ilegal. No momento, a comunidade internacional está enfrentando as consequências do capitalismo. No entanto, é possível que uma vez que a pandemia desapareça, os líderes mundiais recorram mais uma vez à busca da exploração económica. Isso reescreveria a narrativa do que estamos vivendo atualmente, o que significa que politicamente, a elite global descartará a solidariedade internacionalista como ajuda humanitária. É uma tática degradante atualmente usada para impedir que os oprimidos obtenham seus direitos políticos.

Cuba está operando a partir de princípios políticos socialistas que provam ser a resposta para os males que Fidel advertia incessantemente. O mundo faria bem em lembrar isso.

*Ramona Wadi é pesquisadora independente, jornalista freelancer, revisora ​​de livros e blogueira. Sua escrita cobre uma variedade de temas em relação à Palestina, Chile e América Latina.

CHOMSKY: UM ANTÍDOTO CONTRA A ULTRA DIREITA


Ela avançou porque capital financeiro tirou a máscara: bancos e corporações já aceitam aliar-se com os Trump e Bolsonaro. Mas a crise económica mostra que este arranjo é frágil e abre brechas para a construção de alternativas inovadoras

Noam Chomsky, em entrevista a Amy Goodman, no Democracy Now! | Tradução por Simone Paz e Gabriela Leite

Dissidente político, linguista e autor de renome mundial. Professor laureado no Departamento de Linguística da Universidade do Arizona e professor emérito do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, onde lecionou por mais de 50 anos. Na entrevista a seguir, responde aos cortes de Trump no financiamento à Organização Mundial da Saúde, fala sobre o aumento recorde das mortes nos Estados Unidos, e discute as condições em Gaza, a ascensão do autoritarismo no mundo todo e a resposta dos progressistas. “Esse é o típico comportamento dos autocratas e ditadores. Quando você comete erros colossais, que acabam matando milhares de pessoas, é preciso encontrar alguém para botar a culpa”, explica Chomsky. “Nos Estados Unidos, infelizmente, é o caso: há mais de um século, um século e meio, tem sido sempre mais fácil culpar o “perigo amarelo”.

Na quarta-feira, pouco antes de Bernie Sanders anunciar que se retiraria da corrida presidencial, perguntei ao dissidente político, linguista e autor Noam Chomsky sobre sua avaliação da campanha de Bernie Sanders nesta época de pandemia do coronavírus.

Se Trump for reeleito, será um desastre indescritível. Significa que as políticas dos últimos quatro anos, que tem sido extremamente destrutivas para a população estadunidense e para o mundo, não só vão continuar como, provavelmente, serão aceleradas. Para a saúde, isso já é péssimo. Mas o que significa para o meio ambiente, ou para a ameaça de uma guerra nuclear — que é um risco extremamente sério, do qual ninguém está falando — é indescritível.

Suponha que Biden seja eleito. Eu presumo que seria, basicamente, uma continuação do governo Obama: nada demais, mas, pelo menos, não tão destrutivo, e com a possibilidade de que um público organizado consiga fazer pressão e mudar o que está sendo feito.

Atualmente, é comum dizer que a campanha do Sanders falhou. Eu acho que dizer isso é um erro. Eu vejo como um sucesso extraordinário, que mudou completamente o terreno do debate e das discussões. Questões que, até alguns anos atrás, eram impensáveis, agora passaram para o centro das atenções.

O pior crime que ele cometeu, aos olhos do establishment, não foi a política proposta por ele, mas o fato de conseguir inspirar movimentos populares, que já tinham começado a se desenvolver — como o Occupy, Black Lives Matter e muitos outros — e transformá-los em movimentos ativistas, que não aparecem a cada dois anos só para dar força a um líder e depois voltar para casa, mas aplicam pressão constante, com ativismo constante e assim por diante. Isso poderia afetar um governo Biden.

PARAÍSOS FISCAIS EM TEMPO DE PANDEMIA


Nas vésperas de um Conselho Europeu decisivo e em plena crise de pandemia da COVID-19, multiplicam-se as notícias sobre os avultados dividendos distribuídos pelas maiores empresas em Portugal. Entre os destinos favoritos das empresas do PSI-20 está a Holanda, que se comporta como um offshore no centro da Europa. Dossier organizado por Francisco Louçã e Adriano Campos.

Nas vésperas de um Conselho Europeu decisivo e em plena crise de pandemia da COVID-19, multiplicam-se as notícias sobre os avultados dividendos distribuídos pelas maiores empresas em Portugal. No caso do PSI-20, são as mesmas empresas que deslocalizaram as suas holdings para o estrangeiro, evitando pagar parte dos seus impostos em Portugal. Entre os destinos favoritos, surge a Holanda, país que tem uma carga fiscal mais baixa e um acesso mais fácil à isenção de mais-valias e de tributação de dividendos, figurando na prática como um offshore dentro da União Europeia. O impasse na resposta à crise por parte da UE criado pelo governo holandês não impede que a elite económica em Portugal continue a engrossar os seus lucros por essa via, como refere Pedro Filipe Soares.

Neste dossier sobre os paraísos fiscais em tempo de pandemia, Francisco Louçã e Mariana Mortágua explicam a origem e os mecanismos dos paraísos fiscais. A estimativa apresentada pela Tax Justice Network aponta para um montante entre 21 e 32 biliões de dólares localizados em jurisdições de sigilo em todo o mundo, e para fluxos financeiros transnacionais ilícitos entre 1 e 1,6 biliões de dólares. Segundo o mesmo relatório, os países africanos terão perdido mais de um bilião de dólares em fuga de capitais para estas jurisdições desde 1970, mas não é só nos países em desenvolvimento que o problema assume dimensões astronómicas. Um estudo da Comissão Europeia aponta para que, em média, entre 2001 e 2016, ativos financeiros equivalentes a 26% do PIB nacional tenham sido localizados em territórios offshore. Em Portugal, o recurso a paraísos fiscais ficou bem patente no caso da ESCOM (Grupo Espírito Santo).

Na União Europeia, favoreceu-se desde  há muito a lógica perversa da “competitividade fiscal” entre os países, que incentiva  a fuga para os paraísos fiscais e delapida as receitas dos Estados, como elucidam a Marisa Matias, o José Gusmão e o Vicente Ferreira. O facto de a Comissão Europeia apenas considerar como paraísos fiscais 12 territórios (todos fora da UE) diz tudo sobre a seriedade do combate à evasão fiscal na União. Não deixa de ser curioso que as Ilhas Caimão, o pequeno território britânico que, além das vistosas praias, ficou conhecido pelas mais de 100.000 empresas registadas (1/5 das quais no mesmo edifício), apenas passe a ser considerado para a lista negra dos paraísos fiscais da União após a conclusão do Brexit e a saída do Reino Unido. Para a União Europeia, parece que o combate pela justiça fiscal só se justifica se for como instrumento de retaliação. Em plena crise económica e de saúde pública, alguns países começaram já a tomar medidas, como a Dinamarca e Polónia que excluíram  empresas registadas em paraísos fiscais dos apoios públicos de emergência.

Esquerda.net – 22.04.2020

Portugal | A arbitrariedade não mata como o vírus, mas destrói vidas


Os grupos económicos estão a aproveitar o surto epidémico para acumular lucros e esmagar direitos de centenas de milhar de trabalhadores, com desemprego, cortes de salários e desregulação de horários.

No debate quinzenal realizado esta quarta-feira na Assembleia da República, as consequências do surto epidémico, nomeadamente no plano económico e social, a valorização do Serviço Nacional de Saúde e o processo de «desconfinamento» foram temas centrais na discussão.

Jerónimo de Sousa, a quem coube abrir o debate, lembrou que os impactos do surto epidémico «não se fazem sentir da mesma forma para toda a gente», nomeadamente para quem «vive do seu trabalho», para os micro, pequenos e médios empresários, e para os «pequenos produtores» e pescadores.

Segundo o líder do PCP, os grandes grupos económicos, designadamente na área da distribuição e a banca, «estão a aproveitar o surto epidémico como pretexto para acumular lucros, esmagar direitos», atingindo «centenas de milhar de trabalhadores» com desemprego, cortes de salários, desregulação de horários, e impondo «a ruína dos pequenos produtores», esmagando os preços e dificultando o escoamento da produção», e negando o acesso ao crédito ou impondo «condições ruinosas».

Jerónimo de Sousa sublinhou ainda o papel do Serviço Nacional de Saúde (SNS), «o grande instrumento de defesa da saúde e da vida dos portugueses» que, ao contrário do sector privado, assumiu «plenamente a sua importância no momento que estamos a atravessar sem fazer distinção entre ricos e pobres».

O PS, primeiro pela voz do deputado Porfírio Silva, elogiou a resposta dos professores e das escolas, bem como dos trabalhadores da saúde, dos lixos e das forças de segurança. De seguida, José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do PS, sublinhou o reconhecimento do seu grupo parlamentar às decisões firmes e sensatas do Governo e ao «grande esforço» do Executivo no equilíbrio entre as limitações impostas e o exercício das liberdades dos cidadãos.

Também Catarina Martins se congratulou pela resposta da Escola Pública, nomeadamente da comunidade escolar e das famílias. A líder do BE falou da necessidade de proibir empresas com apoios públicos de despedirem e criticou a distribuição de dividendos em várias empresas, nomeadamente na GALP e na EDP, empresa que terá distribuído dividendos acima dos seus lucros.

Catarina Martins sublinhou ainda o facto de «o estado social ser o melhor que o País tem» para reclamar medidas de emergência no acesso a apoios sociais, e também no apoio às empresas por parte da Banca.

Portugal regista 35 mortes nas últimas 24 horas e mais 371 novos casos. Planalto?


Portugal ultrapassa os 22 mil casos e os 800 mortos por Covid-19

Portugal interrompeu a tendência de quebra e ultrapassou a barreira dos 800 mortos. Com mais 371 casos, estão registados agora 22353 doentes com Covid-19.

Segundo os dados do boletim epidemiológico revelado esta quinta-feira pela Direção-Geral de Saúde, morreram 35 pessoas nas última 24 horas, elevando o total de vítimas mortais para 820. Com mais 371 casos registados, Portugal identificou até agora 22353 pessoas com Covid-19. O número de recuperados subiu de 1143 para 1201.

No dia em que passa dois números redondos, Portugal interrompe a tendência de quebra do número de vítimas mortais, registando o valor diário mais alto desde 11 de abril, 35 mortos, só superado pelos 37 anunciados a 3 de abril, o máximo num dia desde que começou a pandemia.

Com 35 mortos nas últimas 24 horas, Portugal quebrou, ainda, uma sequência de sete dias, com 30 ou menos vítimas mortais registadas por Covid-19.

Estão internados 1095 doentes, menos 51 que na quarta-feira, enquanto o número de pessoas nos Cuidados Intensivos desceu três, de 207 para 204.

Morreram mais mulheres (414) do que homens (406) e a maioria tinha mais de 80 anos (551), o que equivale a 72,3% do total de vítimas mortais. A faixa etária imediatamente anterior concentra 22% do número de vítimas mortais (168), enquanto entre os 60-69 anos há 71 mortos (9,3%).


Sem qualquer vítima com menos de 39 anos, há nove mortos no escalão entre os 40 e os 49 anos e 21 na faixa etária dos 50 aos 59 (2,8% do total).

A maioria dos 820 mortos de Covid-19 em Portugal ocorreu na região Norte (475 óbitos, mais 21 do que na quarta-feira), seguindo-se a região Centro (179, mais quatro) e a região de Lisboa e Vale do Tejo (146, mais oito). O Algarve regista 11 mortos, e os Açores mais dois, para um total de oito, enquanto no Alentejo há uma vítima mortal.

Por concelhos, Lisboa continua a ser o mais afetado, com 1266 casos positivos registados, seguida agora por Vila Nova de Gaia (1161), que ultrapassou o Porto, onde estão registados 1099 doentes com Covid-19. Segue-se Braga, com 950, e os concelhos vizinhos da Invicta, Matosinhos (929) e Gondomar (894).


Outros concelhos limítrofes do Porto como Maia (763) e Valongo (535) estão também entre os mais afetados pela pandemia. Ovar, que esteve mês e meio sob cerca sanitária, regista 532, logo seguido de Sintra, na região de Lisboa, com 514.

Jornal de Notícias

Portugal | REGRESSAR À VIDA


Rafael Barbosa | Jornal de Notícias | opinião

Devem ser poucos os portugueses que nunca assistiram à homilia televisiva da hora de almoço (que também passa à hora de jantar). Todos os dias, Graça Freitas, Marta Temido e António Lacerda Sales trazem-nos as novas sobre a pandemia.

Quantos casos suspeitos, infetados, mortos, recuperados, internamentos, quantos em cuidados intensivos. No início, associavam os números a subidas abruptas, depois destacaram os sinais de acalmia na curva, até chegarem ao planalto atual, que, um dia, nos conduzirá de novo ao sopé da montanha e à tranquilidade. Ou talvez não. Porque a conferência de Imprensa não retrata, nem de perto, a dimensão da catástrofe. Há muito mais vidas diminuídas ou destruídas do que aquelas que ali se reportam. E também mereciam um "briefing" diário, com números, curvas e gráficos, embora diferentes protagonistas. Siza Vieira, para nos atualizar sobre a subida abrupta do número de empresas e trabalhadores em lay-off (mais de um milhão e a subir a uma velocidade na ordem das dezenas de milhares por dia). Ana Mendes Godinho, para nos mostrar a curva dos despedimentos massivos (houve 65 mil novos pedidos de subsídio de desemprego no último mês). Mário Centeno, para destacar a quebra nas receitas dos impostos, seja no IRS, no IRC, ou no IVA, ou seja, as receitas que o Estado já não tem para pagar as despesas que assumiu. Suspeito que nesta conferência de Imprensa, que não existe, estaríamos longe de ver sinais de acalmia na curva e ainda mais longe da chegada ao planalto. Suspeito também que, existisse este esclarecimento diário, e os portugueses já teriam percebido que a quarentena não só não trouxe a cura como arrastará muita gente para a miséria. Protejam-se, portanto, os grupos de risco (88% das vítimas mortais têm 70 ou mais anos) e regressemos à vida. Abram-se creches, escolas, fábricas, restaurantes, cabeleireiros, lojas. Disfarce-se o medo com máscara, luva, viseira e desinfetante. A luta contra o vírus do empobrecimento e da miséria só se vence com um regresso massivo ao trabalho. Já agora, com salários decentes.

*Chefe de Redação

Portugal | Recibos verdes pagam mais à segurança social do que ganham em apoios

Ana Godinho, ministra do trabalho e segurança social, ri de quê?  (pg)
Mesmo com adiamentos, pouco fica para sobreviver, queixam-se os independentes. Só quem declara mais de 2820 euros mensais recebe ajuda máxima de 438,81 euros.

Os trabalhadores independentes estão a ser surpreendidos com valores de apoio à perda total de atividade durante o mês de março muito inferiores ao que esperavam. Além de ser preciso faturar acima de 2820 euros para conseguir receber o correspondente a um indexante de apoios sociais (IAS, 438,81€), ainda há que contar que só estão a ser pagos 20 dos 31 dias de março. Quem não pedir diferimento do pagamento das contribuições obrigatórias pode, na prática, nem ter ajudas suficientes para pagar a taxa de 21,4% dos recibos verdes.

"Tenho a receber 110€ de apoio. Tenho a pagar 151,03€ de contribuições. Fico com menos 41,03€", queixou-se um trabalhador independente, que pediu redução de 25% na contribuição a pagar no primeiro trimestre e não pediu diferimento do pagamento mensal. O apoio acaba por ser calculado sobre a base de incidência mensal reduzida em 25%. E não recebe 100%.

"Os valores são muito inferiores ao esperado. Deviam ser iguais à base de incidência contributiva, com um valor máximo de um IAS. Mesmo quem ganha o suficiente para atingir esse valor [cerca de 2820€] só está a ter indicação de pagamento de 292,54€ e ninguém percebe o motivo", denunciou Daniel Carapau, do movimento Precários Inflexíveis. O grupo que representa trabalhadores independentes recebeu "dezenas de pedidos de esclarecimento" nos últimos dias, sem resposta segura para dar. "O decreto já mudou três vezes. E em abril já vai haver outras regras. Ninguém se entende", resumiu Carapau.

As regras foram publicadas a 13 de março, mas só agora o Governo explicou os cálculos. "Em março, o apoio é atribuído aos trabalhadores independentes com paragem total de atividade ou paragem da atividade do respetivo setor, e corresponde ao período de 20 dias, desde 12 de março a 31 de março [o Decreto-Lei n.o 10-A/2020, de 13 de março, produziu efeito à data da sua aprovação, dia 12]", explicou ao JN fonte do Instituto da Segurança Social.

Presidente timorense defende extensão do estado de emergência


Díli, 23 abr 2020 (Lusa) -- O Presidente timorense defende a extensão do estado de emergência em Timor-Leste durante mais 30 dias por considerar que continuam a ser necessárias as medidas que têm ajudado a conter o número de casos no país.

Os argumentos são vincados por Francisco Guterres Lu-Olo na carta do pedido de autorização ao Parlamento Nacional para renovação do estado de emergência, em vigor até 26 de abril, até ao próximo dia 26 de maio, documento ao qual à Lusa teve acesso.

"É convicção de muitos, entre eles do chefe do Estado, que o decretamento do estado de emergência e das medidas que foram possíveis adotar desde esse decretamento em muito contribuiu para o baixo número de casos de covid-19 em território nacional", referiu Lu-Olo no texto.

"Porém, não podemos baixar a guarda. Muito pelo contrário. É minha convicção que a renovação do estado de emergência solicitada pelo Governo se impõe", escreveu.

Governo timorense aprova subsídio a famílias de menos rendimentos


Díli, 23 abr 2020 (Lusa) -- O Governo timorense aprovou hoje um subsídio extraordinário de 100 dólares (92,6 euros) durante três meses para as famílias timorenses, como medida de resposta ao impacto da covid-19 na economia nacional.

A medida, que segundo o Governo pretende responder aos "impactos prejudiciais nos meios de subsistência das famílias de baixo rendimento de todo o país", dará o apoio a agregados que estejam registados no Livro da Família até 31 de março.

Serão abrangidos todos os agregados familiares "compostos por pelo menos um cidadão" desde que "nenhum dos seus elementos aufira mensalmente e de forma regular um montante mensal superior a 500 dólares americanos" (462,14 euros).

A medida, apresentada pela ministra da Solidariedade Social e Inclusão, Armanda Berta dos Santos, insere-se no pacote de medidas socioeconómicas do Governo para lidar com o impacto da pandemia da covid-19.

A aprovação ocorreu apesar de diferenças de opinião dentro do executivo sobre a universalidade ou não da sua aplicação, com fontes do executivo a admitirem à Lusa não haver dados precisos nem sobre o número de famílias nem sobre como determinar o limite de 500 dólares num país onde grande parte da economia é informal e onde quase não há declarações de rendimentos.

Ingrediente-chave para o tratamento da Covid-19 pode estar em Macau


Ivermectina é o nome do princípio activo produzido pela Hovione Macau que, segundo uma equipa de investigadores de Melbourne, na Austrália, pode ser a solução no tratamento da Covid-19. É nos laboratórios de Macau que a empresa portuguesa produz para todo o mundo o fármaco usado principalmente como desparasitante, e que poderá servir também para travar o novo coronavírus. 

Há uma embalagem transparente com cinco gramas de um pó branco em exposição dentro de uma das caixas de luz de um dos laboratórios da Hovione Macau. É a ivermectina, e nem Eddy Leong, director-geral das operações de Macau da farmacêutica portuguesa, nem Philip Lee, líder da equipa de controlo de qualidade, se atrevem a adivinhar um preço para aquele pacote. “Quanto mais branco, mais puro”, diz apenas Philip ao PONTO FINAL.

No laboratório de cromatografia, que serve para os profissionais da Hovione Macau purificarem as substâncias com as quais trabalham, há dez aparelhos HPLC nas bancadas, ventiladores a sair do tecto e quatro cientistas de luvas, óculos e bata branca. Nesta sala, explica Philip Lee, confirma-se a qualidade das amostras e verifica-se o nível de impurezas. Aqui são analisadas amostras dos cerca de 15 fármacos produzidos pela Hovione Macau.

O laboratório imediatamente ao lado tem um propósito semelhante. Aqui, os aparelhos pousados nas bancadas chamam-se Mastersizer 3000 e servem para analisar o tamanho das partículas de cada amostra. “Para que, por exemplo, cada partícula tenha o tamanho certo para ser absorvida pelo corpo humano”, explica Philip Lee. Ao lado, há dois UV Spectrometer. “O da direita é novo, foi comprado já este ano”, frisa Philip. Estes aparelhos são usados para analisar a qualidade das partículas através da luz ultravioleta. Na sala, mais microscópios, balanças, fornos, tubos de ensaio, lâmpadas e tubos brancos vindos do tecto.

Remodelação no executivo de Hong Kong com substituição de cinco responsáveis


Pequim, 22 abr 2020 (Lusa) - O Governo chinês nomeou hoje cinco novos secretários do Executivo de Hong Kong, região semiautónoma da China, que no ano passado foi abalada durante meses por protestos pró-democracia.

O Conselho de Estado da China anunciou a nomeação dos cinco novos responsáveis pela execução das linhas do Governo local nas áreas da Tecnologia, dos Serviços Financeiros, dos Assuntos Internos, da Função Pública e dos Assuntos da China continental.

De acordo com o Governo central, a mudança teve como base as recomendações da chefe do Executivo, Carrie Lam, e surge depois de uma remodelação similar nos dois gabinetes de Pequim que supervisionam os assuntos de Hong Kong.

O atual mandato de cinco anos de Lam termina em junho de 2022.

China anuncia 28 ME adicionais nas contribuições para a OMS


Pequim, 23 abr 2020 (Lusa) - A China anunciou hoje que vai aumentar a sua contribuição para a Organização Mundial da Saúde (OMS) no equivalente a 28 milhões de euros, depois de os Estados Unidos terem suspendido a sua parte do financiamento.

"Este dinheiro será usado para prevenir e controlar a epidemia de covid-19 e apoiar o desenvolvimento dos sistemas de saúde nos países em desenvolvimento", afirmou Geng Shuang, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros.

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, suspendeu as contribuições para a OMS, no início da semana passada, acusando a organização de estar sob influência de Pequim.

Trump também denunciou a "má administração" pela organização internacional da pandemia do novo coronavírus.

"Apoiar a OMS num momento crítico na luta global contra a epidemia significa defender os ideais e princípios do multilateralismo e defender o estatuto e a autoridade das Nações Unidas", afirmou Geng Shuang, em conferência de imprensa.

O vírus covid19 + Modi organizam uma catástrofe social na Índia


A combinação da actual pandemia com o governo de extrema-direita de Narendra Modi, juntando-se às extremas desigualdades que já caracterizavam a sociedade indiana, criam condições de uma situação catastrófica que devastará o segundo país mais populoso do mundo.


Os vírus e as bactérias não discriminam nem exterminam uma população, certos sistemas político-económicos fazem-no. E na Índia, o coronavírus e as medidas do seu ultra-direitista primeiro-ministro, Narendra Modi deram as mãos para afundar definitivamente o país. Em 24 de Março, às 20:00, e com mais de um mês de atraso na reação à epidemia, Modi fez um discurso na televisão (não uma conferência de imprensa), para anunciar que dentro de quatro horas o país ia ficar paralisado durante três semanas, e pediu aos cidadãos que não saíssem das suas casas, sem lhes revelar o que tinha planeado para os “proteger” da agressiva partícula que segundo os dados oficiais, que parecem uma piada macabra, havia infectado umas 500 pessoas e matado 10. O epidemiologista Ramanan Laxminarayan afirma que na Índia entre 30 e 50 milhões de pessoas poderiam ser infectadas com o vírus e cerca de 2 milhões poderão morrer.

Era noite e milhares de pessoas “possidentes” das grandes cidades arrasaram os supermercados abertos enquanto dezenas de milhares de trabalhadores migrantes fugiram para as estações de autocarro e comboio para regressar às suas aldeias. Neste país, trabalhar a partir de casa é para os trabalhadores de colarinho branco, e estes migrantes sobrevivem com o que ganham dia a dia com a força dos seus braços, sem seguro de desemprego, sem uma rúpia poupada e, se as empresas iam fechar, pelo menos encontrariam nas suas aldeias comida e um tecto debaixo do qual dormir. Mas muitos não chegaram a tempo: as redes interestaduais de autocarros e comboios estavam fechadas. A Indian Railways, comboios que ligam todo o país, desligou os seus motores pela primeira vez em 150 anos, obrigando crianças, idosos, mulheres (algumas grávidas) e homens desesperados a caminhar em chinelos, no calor do sol e na escuridão da noite, centenas de quilómetros, sobrevivendo com água e bolachas, enquanto Modi enviava voos especiais a vários países para repatriar os seus cidadãos retidos no estrangeiro. Entre os viajantes, o jornalista Salik Ahmad encontrou Kajodi Devi, uma idosa de uns 90 anos cuja família vivia de venda de brinquedos nos semáforos de um subúrbio de Delhi, e agora se dirigia a pé para o seu Rajasthan natal, a 420 km de distância.

O "sumidouro" do capitalismo indiano


Prabhat Patnaik [*]

A desgraça para a qual centenas de milhares de trabalhadores migrantes foram subitamente atirado pela decisão do governo de Narendra Modi de anunciar um confinamento de três semanas – com um aviso prévio de quatro horas e zero planeamento – destacou um aspecto crucial da economia indiana. Este consiste no facto de que a aldeia, com a sua economia baseada na agricultura e no sistema familiar, continua a permanecer a base de apoio de dezenas de milhões de trabalhadores urbanos, os quais estão expostos de modo perene às vicissitudes da vida sob o capitalismo.

Quando subitamente eles foram destituídos de rendimento e de casa, sendo literalmente lançados às ruas, a ideia avassaladora nas suas mentes foi retornar às suas aldeias, ainda que isso envolvesse caminhadas de centenas de quilómetros. Em entrevistas a jornalistas, muitos disseram que com o retorno à aldeia poderiam pelo menos conseguir algum emprego na ceifa de cereais. A aldeia, em suma, e o sector agrícola, permanecem o "sumidouro" do capitalismo indiano.

Ao contrário do mito propagandeado pelos seus porta-vozes, o capitalismo não absorve todos os pequenos produtores que ele desloca. A acumulação de capital é invariavelmente acompanhada por mudanças tecnológicas que poupam trabalho em tal extensão que impede a absorção de todos aqueles que ela desloca, juntamente com o aumento natural da força de trabalho. Ela é portanto invariavelmente caracterizada pela existência de um "sumidouro", um espaço que reúne toda a população miserável, os destituídos. No capitalismo metropolitano este "sumidouro" era fornecido pelas regiões temperadas de colonização branca para as quais ocorria a migração em massa da Europa. Nestas novas terras, os migrantes conseguiam obter um razoável padrão de vida ao, por sua vez, deslocarem os habitantes originais, os ameríndios, da sua terra.

Cloroquina eleva risco de morte por covid-19, apontam estudos


Após experiências no Brasil com altas doses de medicamento contra a malária terminar com a morte de 11 pacientes, pesquisa nos EUA também sugere ineficácia da cloroquina contra a doença e maior mortalidade.

Paralelamente ao desenvolvimento de uma vacina, cientistas de todo o mundo estão pesquisando se medicamentos já existentes também são eficazes contra o vírus Sars-Cov-2. Nas últimas semanas, fez-se grande alarde em torno do Resochin, cujos princípios ativos cloroquina e seu derivado hidroxicloroquina são empregados há décadas na prevenção e tratamento da malária.

Em experiências de laboratório e em dois estudos clínicos na China e na França – embora envolvendo um número pequeno de casos – a cloroquina teria inibido a multiplicação do novo coronavírus em culturas celulares. Assim, a substância poderia teoricamente ser empregada como antiviral em casos graves de covid-19.

No entanto, segundo uma pesquisa mais recente nos Estados Unidos – ainda não submetidas a avaliação independente (peer review) –, o medicamento antimalária não seria apenas em grande medida ineficaz no combate ao coronavírus. Na comparação direta, a taxa de mortalidade entre pacientes de covid-19 mostrou-se significativamente mais elevada após um tratamento com hidroxicloroquina: 28%, contra 11%, nos pacientes que receberam o tratamento padrão. Ao todo, os pesquisadores americanos estudaram os registros médicos de 368 internados em  hospitais para militares veteranos.

Quando a hidroxicloroquina foi tomada com o antibiótico azitromicina – combinação favorecida pelo cientista francês Didier Raoult, cujo estudo sobre o assunto em março provocou uma onda de interesse global pela droga, a taxa de mortalidade verificada foi de 22%. A hidroxicloroquina, com ou sem azitromicina, era mais provável de ser prescrita para pacientes com doenças mais graves, mas os autores descobriram que o aumento da mortalidade persistiu mesmo depois de feitos ajustes estatísticos nas taxas mais altas de uso.

Mais lidas da semana