quinta-feira, 4 de junho de 2020

Boaventura: as hierarquias que estão em xeque


Fracasso norte-americano revela como se tornou frívola a arrogância do norte diante do sul. E a ideia de uma natureza disponível e consumível – típica da bíblia que o ocidente adotou – desaba sob o peso do sistema que ela própria concebeu

Boaventura de Sousa Santos* Outras Palavras | Imagem: Michael A. McCoy

Dizia Santo Agostinho: “O que é o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei. Se alguém me perguntar, eu não sei”. O enigma do tempo deriva do facto de o tempo, por ser mudança, não se deixar aprisionar em medições estanques. Há sempre um antes e um depois que fica fatalmente de fora de qualquer medição. Foi por esta razão que as ciências sociais e as humanidades inventaram as estruturas – modos de pôr o tempo entre parêntesis. Mas a grande razão do enigma é que o tempo, enquanto mudança, é ambíguo, já que tanto significa mutação como cristalização da mutação. Vejamos as duas perguntas seguintes. Por quanto tempo nos vamos lembrar da pandemia? Como vai a pandemia caracterizar o “nosso” tempo? A primeira pergunta aponta para mudança e a segunda para cristalização da mudança. Por essa razão, o facto de, eventualmente, nos esquecermos da pandemia não significa que a pandemia se esqueça de nós. Lembrar-se-á sempre pela marca que imprimirá às consequências, adaptações e hábitos que decorrerão dela, mesmo que nós as atribuamos a outras causas.

Qual será a marca da pandemia do novo coronavírus? A resposta é, por enquanto, especulativa, mas merece a pena ensaiá-la. Penso que vai provocar um abalo tectónico no nosso modo de ver e sentir a sociedade em duas linhas de fratura: a hierarquia temporal entre o antes e o depois, e a hierarquia natural entre o inferior e o superior. As opções serão a prazo dramáticas e, no melhor dos casos, duas novas ordens temporais emergirão com destaque: contemporaneidade e complementaridade. Nas suas versões hegemónicas (liberal e marxista), o pensamento eurocêntrico é dominado pelo evolucionismo, nos termos do qual a relação entre o antes e o depois é sempre uma relação entre o pior e o melhor. Esta ideia tem sido expressa de muitas formas: civilização, progresso, desenvolvimento, globalização. Foi esta ideia que, sobretudo a partir do século XIX, consolidou a divisão do mundo entre o norte e o sul. Os países do sul global, que em grande parte estiveram sujeitos ao colonialismo europeu, foram considerados países de povos primitivos, atrasados, do terceiro mundo, subdesenvolvidos. A hierarquia temporal foi a justificação para a hierarquia económica, social, política, cultural e epistémica.

Governo alemão anuncia pacote de estímulo de 130 bilhões de euros


Merkel afirma que resposta "corajosa" é necessária para impulsionar a economia do país, abalada pela pandemia de covid-19. Medidas anunciadas incluem auxílios à indústria e às famílias e incentivos ao consumo.

Os partidos que integram a coligação de governo da Alemanha chegaram a um acordo no fim da noite desta quarta-feira (04/05) um pacote de estímulo de 130 bilhões de euros para ajudar na recuperação económica do país, após os efeitos gerados pela pandemia de covid-19.

O anúncio foi feito pela chanceler federal alemã, Angela Merkel, após dois dias de intensas negociações entre representantes de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), de sua legenda-irmã na Baviera, a União Social Cristã (CSU), e do Partido Social-Democrata (SPD).

O governo alemão vinha pressionado há semanas para encaminhar medidas de estímulo após as graves consequências da paralisação das atividades económicas do país devido à pandemia.

Portugal | Alemão é suspeito por desaparecimento de Madeleine


Homem de 43 anos, condenado por vários crimes sexuais, vivia no Algarve quando a menina britânica desapareceu em 2007. Investigadores alemães tratam caso como homicídio e chegaram a suspeito após denúncia.

Pouco mais de 13 anos após o desaparecimento da menina britânica Madeleine McCann em Portugal, o Departamento Federal de Investigações (BKA) da Alemanha anunciou nesta quarta-feira (03/06) que está investigando um alemão de 43 anos suspeito de envolvimento no caso. As autoridades alemãs abriram um inquérito por homicídio.

O suspeito está preso por outro crime. Além de ter passagem por tráfico de drogas, ele foi condenado diversas vezes por crimes sexuais, inclusive contra crianças, e estava na região portuguesa do Algarve, onde Madeleine desapareceu, quando o crime ocorreu. O alemão teria vivido regularmente no Algarve entre 1995 e 2007, entre outros, numa casa que fica entre Lagos e Praia da Luz.

"Durante esse período, ele trabalhou em diversas ocupações na região Lagos, entre outros no setor da gastronomia", afirmou o BKA em nota. Um porta-voz do departamento também participou de um programa de televisão da emissora pública ZDF e pediu a ajuda da população para solucionar algumas lacunas sobre o crime. Dados de celular mostram que o suspeito estava na Praia da Luz próximo ao horário e local do crime.

Portugal | Os jovens não são inconscientes. São jovens


Inês Cardoso | TSF | opinião

Começámos o tempo de estranheza que vivemos a olhar para os mais velhos - e por vezes a policiar os seus passos e saídas à rua. Nos últimos dias o olhar virou-se para os jovens e temos ouvido sucessivos apelos para que respeitem as regras de isolamento social. Já no fim de semana, Marcelo Rebelo de Sousa pediu mais contenção, referindo-se a festas em que os jovens não pensam no risco que julgam não correr. 

Também a ministra da Saúde realçou o aumento de contágios entre os jovens adultos, admitindo ser necessário reforçar a comunicação com esta faixa. Vão sendo divulgadas operações policiais que dão conta de festas privadas e a Câmara de Cascais proibiu entretanto a venda de bebidas alcoólicas nas bombas de combustíveis do concelho, entre as 20 e as 8 horas da manhã, depois de se terem formado filas e até incidentes nalguns postos.

Os indicadores mostram ser necessário estar atento aos mais jovens, mas não faz sentido um discurso acusatório ou proibitivo. Estamos há quase três meses com medidas restritivas de contacto social. Os bares e discotecas estão encerrados desde 16 de março. O mesmo aconteceu com as escolas. Seria anormal se os mais novos quisessem pacificamente aceitar um isolamento que é contra a natureza de ser humano.

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