sexta-feira, 3 de julho de 2020

Brasil | Todos os agentes do FBI na Lava Jato


#Escrito e publicado em português do Brasil

Alguns agem às claras; outros mantêm-se nas sombras. Juntos, executaram uma operação de enorme sucesso… para os EUA. Ela desestruturou grandes empresas brasileiras, ameaça a Petrobras e amesquinhou o papel do país no exterior

Natalia Viana e Rafael Neves, na Agência Pública | em Outras Palavras

São de dois tipos os agentes do FBI que atuaram na Lava Jato em solo brasileiro. Alguns são figuras públicas, dão entrevistas e aparecem cada vez mais frequentemente em eventos elogiando o trabalho da força-tarefa e dando conselhos a corporações sobre como seguir a lei americana.

Outros tiveram atuação temporária e são conhecidos por apelidos ou nomes tão comuns que é muito difícil encontrar algo sobre eles em fontes abertas na internet. Essa é uma prática comum nos escritórios do FBI no exterior, para evitar a exposição de agentes que realizam operações secretas ou controversas em território estrangeiro. Hoje, a agência mantém escritórios em embaixadas de 63 países e sub-escritórios em 27. Em 2011, o FBI empregava 289 agentes e pessoal de apoio nesses escritórios no exterior.

Embora as duas maiores investigações de casos de corrupção originados na Lava Jato pelo Departamento de Justiça (DOJ) americano já tenham terminado, com os acordos bilionários da Odebrecht e Petrobras, o FBI ainda tem muito a fazer para investigar corrupção no Brasil, nas palavras do atual chefe do FBI no país, David Brassanini, em palestra no 7º Congresso Internacional de Compliance, em maio de 2019, em São Paulo. A cooperação foi descrita como “fluida, sem problemas e transparente”, pois seus agentes já tinham familiaridade com a cultura e a sociedade brasileiras. “A habilidade de desenvolver e entender as peculiaridades locais é grande. Não só a questão da língua, mas em entender realmente como o Brasil funciona, entender as nuances”, afirmou. Brassanini relatou também, no mesmo evento, que agentes do FBI vêm a São Paulo “toda semana para tratar de diferentes casos que envolvem FCPA e lavagem de dinheiro”.

Com base em documentos da Vaza Jato entregues ao The Intercept Brasil e apuração em fontes abertas, a Agência Pública localizou 12 nomes de agentes do FBI que investigaram os casos da Lava Jato lado a lado com a PF e a Força-Tarefa, além da agente Leslie Backschies, que hoje comanda o esquadrão de corrupção internacional do FBI. E descobriu que essas investigações viraram símbolo de parceria bem sucedida e levaram à promoção diversos agentes americanos. Segundo um ex-promotor do Departamento de Justiça americano contou à Pública, a presença de agentes do FBI no Brasil foi fundamental para o governo americano concluir suas investigações sobre corrupção de empresas brasileiras.

Com base na lei americana Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), o Departamento de Justiça investigou e puniu com multas bilionárias empresas brasileiras alvos da Lava Jato, entre elas a Petrobras e a Odebrecht.

Embora haja policiais lotados legalmente na embaixada em Brasília e no consulado em São Paulo, é proibido a qualquer polícia estrangeira realizar investigações em solo brasileiro sem autorização expressa do governo brasileiro, já que polícias estrangeiras não têm jurisdição no território de outros países.

A colaboração do FBI com a Lava Jato teve início em 2014 e foi fortalecida em 2015 e 2016, quando o foco da operação eram Odebrecht e Petrobras. Em 2016, a Odebrecht aceitou pagar a maior multa global de corrupção até então: US$ 2,6 bilhões a Brasil, Suíça e EUA. A parcela devida às autoridades americanas, no valor total de US$ 93 milhões, foi paga à vista. Hoje, a empresa está em processo de recuperação judicial.

Em 2018, a Petrobras aceitou pagar a maior multa cobrada de uma empresa pelo Departamento de Justiça americano: US$ 1,78 bilhão.

“O que ocorre no Brasil está mudando o modo como olhamos os negócios e a corrupção no mundo inteiro”, afirmou um dos maiores defensores da cooperação com os Estados Unidos, George “Ren” McEachern, em entrevista à Folha de S. Paulo em fevereiro de 2018, sob o título “Curitiba mandou a mensagem de que o Brasil está ficando limpo”.

Orgãos da ONU nunca responsabilizaram Israel por violações dos princípios


Conselho de Segurança e Assembleia Geral nunca responsabilizaram Israel por violações dos princípios da ONU

The Jordan Times 1 de julho de 2020

Setenta e cinco anos atrás, 50 países assinaram a Carta da ONU numa conferência em San Francisco em cerimónias com a participação de 3.500 delegados e 2.500 representantes da média e observadores de organizações não-governamentais.  Representando 80% da população mundial, os signatários prometeram estabelecer uma organização que preservaria a paz e promoveria a igualdade, o Estado de Direito Internacional e a justiça e liberdade sociais.  A Carta entrou em vigor em 24 de outubro daquele ano.

Há poucas dúvidas de que alguns países emergentes da morte e devastação da Segunda Guerra Mundial, pelo menos temporariamente, se comprometam com esses princípios.  Mas os compromissos não resistiram por muito tempo ao teste do tempo.  Os quatro membros permanentes, EUA, Reino Unido, França e Rússia, tinham interesses que assumiam a soberania sobre os princípios e conflitavam com a Carta.

A Palestina é, obviamente, o caso mais dramático.  As ações ocidentais violaram consistentemente a Carta da ONU e o direito internacional.  Apesar da intervenção de cinco países árabes, à Palestina foi negada a independência devido à determinação da Grã-Bretanha, dos EUA e da França de dividi-la entre os dois terços da população indígena árabe palestina e os um terço dos colonos judeus.

Depois que a Grã-Bretanha declarou sua intenção de encerrar seu domínio na Palestina, a política de pressão levou a questão à Assembleia Geral da ONU em novembro de 1947, após meses de investigações e disputas.  Uma votação simples realizada no dia 22 revelou que 24 países apoiavam a partição, 16 se opunham e os restantes se abstiveram ou ficaram indecisos.  Essa votação ficou aquém dos dois terços necessários para adotar a resolução de partição proposta.  No dia 26, quando uma segunda votação foi realizada em comissão, o resultado foi 25 a favor e 13 contra.

Contra a anexação da Cisjordânia por Israel -- petição


O mundo vê a fascisação de Israel por Netanyahou e diz que se pratica a tortura de palestinos nas prisões

“Existe um processo de fascisação dirigido por Netanyahou. O poder dele tem muitas características de um poder fascista e a chave que mostra que se entra no fascismo aberto são os direitos dos palestinianos. 

Quando os palestinianos de Israel defendem seus direitos de cidadãos estão defendendo também a democracia israelita.” - Dominique Vidal

Assine a petição contra a consumação deste novo crime do Estado nazi-sionista e pelo reconhecimento do Estado da Palestina:

Portugal | Lisboa do covid-19: O jogo do passa culpas


Para os que tenham dúvida sobre a atual impotência do poder político para resolver o que está acontecer na região de Lisboa, basta começar o dia a ler o jornal Público. Lá estão Fernando Medina e Duarte Cordeiro, até há bem pouco tempo companheiros na governação da capital, desta feita num jogo de passa culpas que nem as falinhas mansas são capazes de disfarçar.

Paulo Baldaia | TSF | opinião

Medina, citado pela entrevista (mais uma) que deu à RTP, salientando que "a situação que hoje enfrentamos precisa de ser atendida com grande sentido de urgência e com grande mobilização de recursos". O autarca de Lisboa volta a queixar-se do pouco que as autoridades de saúde estão a fazer e critica a interrupção da realização de inquéritos epidemiológicos ao fim de semana". Fernando Medina tem razão, não é suposto o vírus "descansar aos fins de semana!".

No online, as notícias estão próximas, na edição impressa é preciso recuar oito páginas, a partir da coluna onde está a queixa repetida do autarca, para encontrar uma entrevista em página dupla ao secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, responsável governamental pelo combate à pandemia na região de Lisboa. Lá está a resposta pronta sobre o problema dos transportes públicos, para apontar o dedo à gestão da Área Metropolitana de Lisboa, que é presidida por Medina. Duarte Cordeiro tem razão, era suposto que houvesse melhor gestão no transporte dos trabalhadores que vivem na periferia e trabalham na capital.

Andamos nisto há vários dias, com o poder político, que há bem pouco tempo entendia não haver problema e que o aumento de novos casos correspondia ao aumento de testes, a reconhecer que há um problema sério, mas a gastar energias num jogo de passa culpas que não apressa as soluções que é preciso encontrar.

O AMOR, A TAP & Cª, O MUNDO


Hoje há amor no Curto do Expresso. Prosa sucinta mas que nos passa imagens não totalmente descritas de amor, porque o amor é algo de incalculável e de doses nunca quantificadas. Muito, pouco, assim-assim, nada. Isso não são medidas mas sim estimativas, quadros tantas vezes recheados de mentiras, de hipocrisias, de fazer de conta…

Bem, mas a “história de amor” do Curto de hoje é linda e, sabemos, que ocorre mais vezes na vida real do que aquelas que possamos imaginar. O amor existe. Vários fotogramas a comprová-lo são hoje aqui descritos com simplicidade e parcas palavras, porque o amor é mesmo assim, simples. O autor do “filme” é Jorge Araújo, explorado pelo tio Balsemão e suas máquinas neoesclavagistas inventadas pelos gestores e outros chefões de cabeças ocas  e dúbias colunas vertebrais acerca das humanidades que redundam em desumanidades. De tal modo que até se tornam barreiras ao amor quando só vêem um empregado(a), jornalista, serralheiro ou almeida, como propriedades suas… Sem tempo para as famílias e para o lazeres que nos conduzem a manifestações de amor… Afinal novas formas do moderno esclavagismo espicaçado à exaustão pelo neoliberalismo e capitalismo selvagem dos tempos que correm e que quase não nos deixam parar para pensarmos.

Importa embarcar na simples história de amor e de morte acima referida e a seguir descrita. Talvez haja os que vejam de perto aquilo que perdem por nem terem tempo para o amor e consideram, via lavagens cerebrais da pré-atualidade, que o amor é o sexo e não mais que isso.

Depois do amor vem a TAP. Assunto para lavar e durar. Cujo final sabemos onde desemboca. Vamos uma vez mais pagar a compra da TAP, apesar de já umas quantas vezes a terem vendido em “peças” ao desbarato. O último foi Passos Coelho, aquela avantesma horribilis que nos pôs à mingua, encostados à fome e a suportar os roubos fáceis e impunes de banqueiros e outros das laias dos Cavacos e trupes anexas de Salgados, Oliveiras e Costas e demais cáfilas predominantemente da era tenebrosa do cavaquismo.

Adiante que se faz tarde. Salte para o Curto. Seja testemunha do amor descrito pelo autor de hoje, do Expresso.

Bom dia.

MM | PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Amor é ficar sem chão e não ter medo de voar

Jorge Araújo | Expresso

Para sempre é muito pouco tempo. A vida é um relâmpago, passa num instante. E o tempo não sabe esperar.

A história de Betty e Curtis é prova disso. Dois antigos colegas de liceu que se apaixonaram. Casaram, tiveram dois filhos e, durante 53 anos, caminharam juntos pela estrada da vida.

Betty, de oitenta anos, foi a primeira a ser apanhada nas malhas do coronavírus. Dois dias depois, Curtis seguiu-lhe os passos e foi internado no mesmo hospital do Texas.

As enfermeiras da Unidade de Cuidados Intensivos sabiam que, na matemática dos sentimentos, um e um nem sempre são dois. Betty e Curtis não sabiam viver um sem o outro.

Por isso, todos os dias, levavam Curtis para a unidade de Betty. Os dois nas nuvens. Como sempre. Para sempre. A vida e a esperança nas linhas da palma das mãos.

Amor é ficar sem chão e não ter medo de voar.

De repente, Betty partiu para o corredor da morte. Curtis nem precisou de ouvir a notícia para ver os seus níveis de oxigénio baixarem. Desistiu de viver.

Juntos na vida, juntos na morte.

“Assim que ele sentiu que a nossa mãe não iria aguentar, ficou em paz com a decisão de deixar de lutar”, contou um dos filhos à CNN.

Betty e Curtis morreram com menos de uma hora de diferença. De mãos dadas.

Há coisas que a morte não consegue matar.

Portugal nacionaliza parte detida por Isabel dos Santos na Efacec


O Governo de Portugal aprovou o decreto de lei para nacionalizar "71,73% do capital social da Efacec". Lisboa diz que a empresa "constitui uma referência internacional em setores vitais para a economia portuguesa".

O anúncio foi feito na conferência de imprensa do Conselho de Ministros desta quinta-feira (02.07), em Lisboa, pela ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva.

"A intervenção do Estado procura viabilizar a continuidade da empresa, garantindo a estabilidade do seu valor financeiro e operacional e permitindo a salvaguarda dos cerca de 2.500 postos de trabalho", justificou a ministra, tendo os detalhes sido apresentados depois pelo ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira.

De acordo com o comunicado do Conselho de Ministros, "a intervenção do Estado deve ainda ser feita por período restrito no tempo e com vista à resolução temporária da respetiva situação, estando prevista a sua imediata reprivatização, a executar no mais curto prazo possível".

Auditoria social em Timor-Leste revela problemas que persistem no setor educativo


Díli, 03 jul 2020 (Lusa) - As condições das infraestruturas e instalações escolares, falta de professores e docentes envelhecidos, carências de manuais e demasiados alunos por turma, são alguns dos problemas detetados nas escolas timorenses, segundo um relatório de 'auditoria social'.

Os desafios são apontados no Relatório de Auditoria Social, preparado pelo Fórum das Organizações Não Governamentais de Timor-Leste (FONGTIL) e pela Rede Nacional de Auditoria Social (ReNAS), em parceria com o Governo.

A análise resulta de uma parceria entre as duas organizações e o Governo com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços públicos e para a efetividade das políticas públicas, através da sua adaptação ao contexto social, económico, político, ambiental e cultural.

Dez organizações estiveram envolvidas na implementação da auditoria no ano passado, centrando-se nos setores da educação, agricultura, infraestruturas básicas e inclusão social, especialmente no que toca a pessoas portadoras de deficiência.

Governo de Macau expressa “veemente apoio” à lei para Hong Kong aprovada por Pequim


O governo macaense concluiu, no início de 2009, a legislação para a manutenção da segurança nacional. Louva agora a imposição desta legislação no território vizinho.

O Governo de Macau manifestou o seu “veemente apoio à legislação” aprovada por Pequim para Hong Kong, elogiando a “defesa resoluta da segurança nacional”.

“Esta medida reveste-se de extrema importância para a estabilidade social de Hong Kong”, dizem em comunicado as as autoridades da Região Administrativa especial de Macau (RAEM),que também beneficia de um estatuto semi-autónomo, à semelhança do antigo território administrado por Portugal.

“A defesa da segurança nacional garante a estabilidade do país a longo prazo, bem como a prosperidade e estabilidade das duas regiões administrativas especiais, sendo, por isso, uma exigência natural, que abrange os deveres de todo o povo chinês, incluindo os compatriotas de Hong Kong e Macau”, pode ler-se na nota.

Activistas pró-democracia admitem criar um parlamento de Hong Kong no exílio


Dissidentes no Reino Unido discutem resposta à imposição da nova lei de segurança nacional na região administrativa especial chinesa. Washington e Londres movimentam-se contra Pequim.


Um grupo de activistas pró-democracia de Hong Kong residentes no Reino Unido está a discutir a possibilidade de criar um parlamento da região administrativa especial chinesa no exílio. O plano faz parte de uma resposta à entrada em vigor da nova lei de segurança nacional no território, imposta pela República Popular da China, que os críticos dizem pôr em causa o estatuto de semiautonomia e a independência judicial de Hong Kong.

Em declarações à Reuters, o activista Simon Cheng, residente em Londres, explicou que mesmo que se trate de uma instituição representativa “não-oficial”, um parlamento fora de portas transmite uma mensagem firme da diáspora em defesa da democracia e da liberdade no antigo território britânico – transferido de volta para a China em 1997.

“Um parlamento ‘sombra’ pode enviar um sinal muito claro para Pequim e para as autoridades de Hong Kong, de que democracia não está à sua mercê”, defendeu Cheng, um antigo funcionário do Governo britânico que diz ter sido espancado e torturado pela polícia secreta chinesa e que fugiu para o Reino Unido há dois anos. 

“Queremos instituir grupos civis não-oficiais, que reflictam verdadeiramente as opiniões da população de Hong Kong”, acrescentou o activista.

Apesar de a discussão sobre uma representação no exílio ainda estar numa fase muito precoce, activistas como Cheng acreditam que o apoio à ideia pode crescer nos próximos tempos, particularmente junto da comunidade de Hong Kong no Reino Unido, que deverá aumentar ainda mais, na sequência da promessa do Governo de Boris Johnson de abrir caminho à nacionalidade britânica para cerca de 3 milhões de cidadãos da região administrativa.

Para além disso, receando serem alvo de perseguição ao abrigo da nova lei, muitos grupos pró-democracia suspenderam as suas actividades em Hong Kong e transferiram-nas para países como Reino Unido, Austrália e Japão, ou para Taiwan, pelo que se espera um aumento de iniciativas de pressão mediática à China, como a de Cheng.

“Estamos a desenvolver formas alternativas de lutar pela democracia. Temos de ser espertos ao lidar com a expansão do totalitarismo: eles [China] estão a ser mais musculados na repressão, por isso nós temos de ser mais subtis e ágeis”, disse o activista à Reuters.

Hidden: retratos de escravatura dos tempos modernos


TRÁFICO DE SERES HUMANOS

Em todo o mundo, segundo a ONU, há mais de 40 milhões de escravos, que geram, anualmente, cerca de 120 mil milhões de euros. O fenómeno tem um nome que é conhecido de todos: tráfico humano. A fotógrafa norte-americana Matilde Simas dedica o seu trabalho, há vários anos, a este flagelo e partilha, agora com o P3, as histórias e os rostos destas vítimas.

Ana Marques Maia* | Imagem: Matilde Simas

A queniana Sarah (nome fictício), mãe solteira de duas crianças pequenas, nunca pensou que, um dia, a sua história de vida viria a engrossar uma estatística de proporções alarmantes. Desempregada e desesperada por encontrar trabalho, foi traficada por alguém em quem confiava. “Ela viajou com esse amigo sob a promessa de um emprego como empregada doméstica”, narra a fotógrafa Matilde Simas, a autora da série Hidden, em entrevista ao P3.

Sarah entrou numa camioneta nos arredores da capital do Quénia e foi conduzida, durante quatro horas, até outra cidade, Mombaça. À chegada, foi lentamente compreendendo que o emprego que a esperava não era o que lhe fora prometido; não se tratava de trabalho doméstico, mas sim de trabalho sexual. Foi conduzida até a uma casa rodeada de arame farpado, guardada por homens armados e cães. Finalmente percebeu: não podia escapar. “Um ano depois, graças à ajuda de um cliente, conseguiu fugir. Pediu dinheiro nas ruas, durante semanas, até obter o suficiente para comprar três bilhetes para o regresso a Nairobi.”

Sarah é uma das muitas vítimas de tráfico de seres humanos que a fotógrafa norte-americana retratou no Quénia, um país que é considerado um ponto nevrálgico no que concerne a este problema na África Oriental. Em todo o mundo, segundo dados da Organização das Nações Unidas, há mais de 40 milhões de escravos. O trabalho que realizam gera cerca de 120 mil milhões de euros anualmente. “Com alto rendimento e baixo risco, a comercialização de seres humanos transformou-se no maior sector criminal do mundo, suplantando venda de armas e de tráfico de droga”, explica a fotógrafa. “Como é possível?”

À semelhança de Sarah, as mulheres que Simas retratou só se aperceberam de que eram vítimas de algum tipo de violência quando “já era tarde demais”, quando já não conseguiam soltar-se da “armadilha” que havia sido montada especificamente para elas. “Os traficantes de pessoas estão treinados para perscrutar a vulnerabilidade dos outros e usam técnicas avançadas de manipulação para persuadir e controlar as suas vítimas”, diz a norte-americana. O tráfico humano ocorre quando alguém exerce controlo sobre outra pessoa, com recurso a violência física ou psicológica, com o objectivo de a explorar comercialmente.

Mais lidas da semana