#Escrito e publicado em português do Brasil
Alguns agem às claras; outros
mantêm-se nas sombras. Juntos, executaram uma operação de enorme sucesso… para
os EUA. Ela desestruturou grandes empresas brasileiras, ameaça a Petrobras e
amesquinhou o papel do país no exterior
Natalia Viana e Rafael
Neves, na Agência Pública | em Outras Palavras
São de dois tipos os agentes do
FBI que atuaram na Lava Jato em solo brasileiro. Alguns são figuras públicas,
dão entrevistas e aparecem cada vez mais frequentemente em eventos elogiando o
trabalho da força-tarefa e dando conselhos a corporações sobre como seguir a
lei americana.
Outros tiveram atuação temporária
e são conhecidos por apelidos ou nomes tão comuns que é muito difícil encontrar
algo sobre eles em fontes abertas na internet. Essa é uma prática comum nos
escritórios do FBI no exterior, para evitar a exposição de agentes que realizam
operações secretas ou controversas em território estrangeiro. Hoje, a agência
mantém escritórios em embaixadas de 63 países e sub-escritórios em 27. Em 2011,
o FBI empregava 289 agentes e pessoal de apoio nesses escritórios no exterior.
Embora as duas maiores
investigações de casos de corrupção originados na Lava Jato pelo Departamento
de Justiça (DOJ) americano já tenham terminado, com os acordos bilionários da
Odebrecht e Petrobras, o FBI ainda tem muito a fazer para investigar corrupção
no Brasil, nas palavras do atual chefe do FBI no país, David Brassanini, em
palestra no 7º Congresso Internacional de Compliance, em maio de 2019, em São Paulo. A
cooperação foi descrita como “fluida, sem problemas e transparente”, pois seus
agentes já tinham familiaridade com a cultura e a sociedade brasileiras. “A
habilidade de desenvolver e entender as peculiaridades locais é grande. Não só
a questão da língua, mas em entender realmente como o Brasil funciona, entender
as nuances”, afirmou. Brassanini relatou também, no mesmo evento, que agentes
do FBI vêm a São Paulo “toda semana para tratar de diferentes casos que
envolvem FCPA e lavagem de dinheiro”.
Com base em documentos da Vaza
Jato entregues ao The Intercept Brasil e apuração em fontes abertas, a Agência
Pública localizou 12 nomes de agentes do FBI que investigaram os casos da Lava
Jato lado a lado com a PF e a Força-Tarefa, além da agente Leslie Backschies,
que hoje comanda o esquadrão de corrupção internacional do FBI. E descobriu que
essas investigações viraram símbolo de parceria bem sucedida e levaram à
promoção diversos agentes americanos. Segundo um ex-promotor do Departamento de
Justiça americano contou à Pública, a presença de agentes do FBI no Brasil foi
fundamental para o governo americano concluir suas investigações sobre
corrupção de empresas brasileiras.
Com base na lei americana Foreign
Corrupt Practices Act (FCPA), o Departamento de Justiça investigou e puniu com
multas bilionárias empresas brasileiras alvos da Lava Jato, entre elas a
Petrobras e a Odebrecht.
Embora haja policiais lotados
legalmente na embaixada em Brasília e no consulado em São Paulo , é proibido a
qualquer polícia estrangeira realizar investigações em solo brasileiro sem
autorização expressa do governo brasileiro, já que polícias estrangeiras não
têm jurisdição no território de outros países.
A colaboração do FBI com a Lava
Jato teve início em 2014 e foi fortalecida em 2015 e 2016, quando o foco da
operação eram Odebrecht e Petrobras. Em 2016, a Odebrecht aceitou pagar a maior multa
global de corrupção até então: US$ 2,6 bilhões a Brasil, Suíça e EUA. A parcela
devida às autoridades americanas, no valor total de US$ 93 milhões, foi paga à
vista. Hoje, a empresa está em processo de recuperação judicial.
Em 2018, a Petrobras aceitou
pagar a maior multa cobrada de uma empresa pelo Departamento de Justiça
americano: US$ 1,78 bilhão.
“O que ocorre no Brasil está
mudando o modo como olhamos os negócios e a corrupção no mundo inteiro”,
afirmou um dos maiores defensores da cooperação com os Estados Unidos, George
“Ren” McEachern, em entrevista à Folha de S. Paulo em fevereiro de 2018, sob o
título “Curitiba mandou a mensagem de que o Brasil está ficando limpo”.