sexta-feira, 3 de julho de 2020

O AMOR, A TAP & Cª, O MUNDO


Hoje há amor no Curto do Expresso. Prosa sucinta mas que nos passa imagens não totalmente descritas de amor, porque o amor é algo de incalculável e de doses nunca quantificadas. Muito, pouco, assim-assim, nada. Isso não são medidas mas sim estimativas, quadros tantas vezes recheados de mentiras, de hipocrisias, de fazer de conta…

Bem, mas a “história de amor” do Curto de hoje é linda e, sabemos, que ocorre mais vezes na vida real do que aquelas que possamos imaginar. O amor existe. Vários fotogramas a comprová-lo são hoje aqui descritos com simplicidade e parcas palavras, porque o amor é mesmo assim, simples. O autor do “filme” é Jorge Araújo, explorado pelo tio Balsemão e suas máquinas neoesclavagistas inventadas pelos gestores e outros chefões de cabeças ocas  e dúbias colunas vertebrais acerca das humanidades que redundam em desumanidades. De tal modo que até se tornam barreiras ao amor quando só vêem um empregado(a), jornalista, serralheiro ou almeida, como propriedades suas… Sem tempo para as famílias e para o lazeres que nos conduzem a manifestações de amor… Afinal novas formas do moderno esclavagismo espicaçado à exaustão pelo neoliberalismo e capitalismo selvagem dos tempos que correm e que quase não nos deixam parar para pensarmos.

Importa embarcar na simples história de amor e de morte acima referida e a seguir descrita. Talvez haja os que vejam de perto aquilo que perdem por nem terem tempo para o amor e consideram, via lavagens cerebrais da pré-atualidade, que o amor é o sexo e não mais que isso.

Depois do amor vem a TAP. Assunto para lavar e durar. Cujo final sabemos onde desemboca. Vamos uma vez mais pagar a compra da TAP, apesar de já umas quantas vezes a terem vendido em “peças” ao desbarato. O último foi Passos Coelho, aquela avantesma horribilis que nos pôs à mingua, encostados à fome e a suportar os roubos fáceis e impunes de banqueiros e outros das laias dos Cavacos e trupes anexas de Salgados, Oliveiras e Costas e demais cáfilas predominantemente da era tenebrosa do cavaquismo.

Adiante que se faz tarde. Salte para o Curto. Seja testemunha do amor descrito pelo autor de hoje, do Expresso.

Bom dia.

MM | PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Amor é ficar sem chão e não ter medo de voar

Jorge Araújo | Expresso

Para sempre é muito pouco tempo. A vida é um relâmpago, passa num instante. E o tempo não sabe esperar.

A história de Betty e Curtis é prova disso. Dois antigos colegas de liceu que se apaixonaram. Casaram, tiveram dois filhos e, durante 53 anos, caminharam juntos pela estrada da vida.

Betty, de oitenta anos, foi a primeira a ser apanhada nas malhas do coronavírus. Dois dias depois, Curtis seguiu-lhe os passos e foi internado no mesmo hospital do Texas.

As enfermeiras da Unidade de Cuidados Intensivos sabiam que, na matemática dos sentimentos, um e um nem sempre são dois. Betty e Curtis não sabiam viver um sem o outro.

Por isso, todos os dias, levavam Curtis para a unidade de Betty. Os dois nas nuvens. Como sempre. Para sempre. A vida e a esperança nas linhas da palma das mãos.

Amor é ficar sem chão e não ter medo de voar.

De repente, Betty partiu para o corredor da morte. Curtis nem precisou de ouvir a notícia para ver os seus níveis de oxigénio baixarem. Desistiu de viver.

Juntos na vida, juntos na morte.

“Assim que ele sentiu que a nossa mãe não iria aguentar, ficou em paz com a decisão de deixar de lutar”, contou um dos filhos à CNN.

Betty e Curtis morreram com menos de uma hora de diferença. De mãos dadas.

Há coisas que a morte não consegue matar.


Tap. Conhece certamente a canção dos Azeitonas: “Anda comigo ver os aviões/ Levantar voo/ E rasgar as nuvens/ Rasgar o céu”. Foi escrita muito antes do coronavírus, agora a maioria dos aviões estão em terra e as companhias aéreas vivem com a corda na garganta.

A Tap há muito padecia de doença crónica, o coronavíros só veio empurrar a chamada companhia de bandeira para os cuidados intensivos. Foi quando o estado e os accionistas privados desenterraram o machado de guerra.

Nesta guerra, o argumento do ministro Pedro Nuno Santos é fácil de resumir: se os privados não querem mandar cantar um cego, então não podem ser os maestros da orquestra.

A novela vem de longe, mas esta semana as posições extremaram-se. O processo de nacionalização da empresa chegou mesmo a ser colocado em cima da mesa.

Ontem, ao final da noite, surgiu o fumo branco. Em conferência de imprensa, o ministro das Infraestruturas e o ministro das Finanças anunciaram que as negociações para a saída de David Neeleman tinham chegado a bom porto e que o estado ficava com a maioria do capital da empresa.

Chegada a hora de limpar armas, Pedro Nuno Santos fez o ponto de situação. Mas não é preciso ser bruxo para adivinhar que esta história ainda está longe do fim.

Efacec. A antiga princesa de Angola perdeu um dos seus anéis. O primeiro da sua valiosa ourivesaria pessoal. E se o Luanda Leaks continuar a fazer estragos, um destes dias terá mais dedos do que anéis.

Longe vão os tempos em que os poderosos deste país estendiam o tapete vermelho e se ajoelhavam à sua passagem.

Isabel dos Santos era a acionista maioritária da Efacec. Até ontem. O ministro Pedro Siza Vieira anunciou a nacionalização da empresa industrial ficando o estado provisoriamente com 71,5% das suas acções. Ao que tudo indica, o processo de reprivatização segue dentro de momentos.Mas o PCP já disse que está contra.

Benfica. Luís Filipe Vieira pode estar a viver o seu annus horribilis. Já não bastava ver o seu Benfica nas ruas da amargura, a ponto de ter de despedir o treinador Bruno Lago, agora parece estar a contas com a justiça.

A TVI, que foi quem ontem à noite deu a notícia, diz que o presidente encarnado vai ser acusado na Operação Lex.

OUTRAS NOTÍCIAS

Trump. A vida não está fácil para o atual inquilino da Casa Branca. Desde o início da pandemia, a sua popularidade tem caído em flecha. Há dois factos essenciais para compreender esta queda.

A primeira é a forma irresponsável como tem lidado com o vírus que já matou cerca de 128 mil americanos.

A segunda é a forma leviana como encarou os protestos anti-racistas, motivados pela morte de George Floyd, o pescoço de um homem negro sob o joelho de um polícia branco.

A quatro meses das eleições presidenciais, as sondagens não lhe são nada favoráveis. Trump regista uma taxa de rejeição de 56% do eleitorado.

E como um mal nunca vem só, os Rolling Stone ameaçam processar o presidente. Motivo: Trump usou numa acção de campanha a canção “You can’t always get what you want” sem autorização de Mick Jagger e companhia.

Esperança. Ainda é cedo para festejar, mas duas empresas farmacêuticas anunciaram resultados positivos nos primeiros testes de uma vacina contra o coronavírus.

Se os ensaios clínicos que se seguem confirmarem estes resultados, a produção da tão desejada vacina poderá começar no final de Julho. Mas não estão sós nesta corrida contra o tempo.

Automobilismo. Os bólides voltam a acelerar nas pistas de Fórmula Um. Esta manhã, começam os treinos no circuito de Spielberg, com vista ao Grande Prémio da Hungria, que terá lugar no domingo.

Lewis Hamilton segue na frente e pode conquistar o seu sétimo título mundial e igualar a proeza até agora nas mãos de Michael Schumacher.

O QUE EU ANDO A LER

É um dos melhores repórteres portugueses. E não é de hoje que o digo. Trago essa convicção há mais de vinte anos, desde que o conheci na redação do jornal O Independente.

O Miguel Carvalho tem três características essenciais a um repórter de excepção - é curioso, quando agarra uma história nunca mais a larga e escreve maravilhosamente bem.

Por essas e por outras, tem vindo a contar algumas das mais deliciosas histórias do jornalismo português. Histórias sempre com gente dentro, porque ele sabe bem que as pessoas são o mais importante.

Há uns anos, fiquei encantado com o seu “Quando Portugal Ardeu”, um livro sobre a violência política no pós 25 de Abril.

Agora, Miguel Carvalho volta à carga com uma história que promete cativar os leitores. Ao longo de mais de 600 páginas, leva-nos ao universo da maior diva da música portuguesa.

Fruto de uma apurada investigação, o grande repórter da Visão mostra-nos Amália Rodrigues como nunca antes a vimos.

E conta-nos como é que aquela que chegou a ser “apelidada de princesa da PIDE apoiou clandestinamente a resistência ao Estado Novo”. A vida tardou a fazer-lhe justiça e “a democracia demorou muito tempo a tirá-la do caixote do lixo da história”.

“Amália: Ditadura e Revolução” chegou esta semana às livrarias e já mora na minha mesa de cabeceira.

Ainda vou nas primeiras páginas, mas não tenho dúvidas de que vou devorar cada linha. Há poucas coisas tão saborosas quanto uma boa história bem contada.

O QUE EU ANDO A OUVIR

Dos anos em que fui jornalista da BBC guardo muitas memórias e uma relíquia. Uma relíquia que trouxe de Londres para Lisboa e que me tem acompanhado os passos. É a mala onde transportávamos as bobines para o noticiário nos estúdios da Bush House.

Desde então, é lá que guardo alguns dos meus vinis mais preciosos.

Ontem à noite, como de costume, decidi pôr um disco a tocar. Abri a mala para procurar um disco muito especial, “Angola 74”, de Barceló de Carvalho, Bonga. Neste disco, o famoso cantor angolano canta magistralmente a morna Sodade, mais tarde imortalizada pela diva Cesária Évora.

Não encontrei o disco, creio que o emprestei. E já dava a busca por perdida, quando os dedos tropeçaram noutra pérola, “Feiticeira de Cor Morena”, o mítico disco do Travadinha.

Travadinha foi um dos mais famosos tocadores de rebeca de Cabo Verde. Em miúdo, lembro-me bem de o ver tocar nos bares do Mindelo e de ficar impressionado. Mas, apesar do talento, fora de portas era um ilustre desconhecido.


O destino deu uma guinada no início da década de 80, quando a Associação de Amizade Portugal Cabo Verde lhe deu a mão. E ainda bem que assim aconteceu. Passados estes anos todos, o disco não ganhou uma única ruga.
A diferença das grandes obras está na forma como cruzam o tempo sem envelhecer. A qualidade do disco deve-se muito também ao minucioso trabalho do produtor.

O disco foi produzido por João Freire, um português que foi parar à Ilha do Sal na década de 70, antes da independência. Seduzido pelas ilhas, regressou nos anos 80, fotografou São Nicolau e emprestou o ouvido à música de Cabo Verde. O disco do Travadinha é mesmo uma pérola.

Tenha um resto de bom dia

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