domingo, 12 de julho de 2020

EUA | E se Trump se recusar a deixar o cargo?


A pouco mais de quatro meses de vista das eleições presidenciais, com a pandemia da covid-19 no auge e o rescaldo do movimento “Black Lives Matter”, vários são os cenários que já começam a aparecer nos meios de comunicação norte-americanos.

Arnaldo Xarim* | Tornado

Com as sondagens a darem cada vez maior favoritismo ao candidato democrata e com a recente notícia de uma semana difícil para Trump que termina com sondagem preocupante da Fox News que dá vantagem de 12 pontos ao seu adversário, começaram também a ressurgir alguns comentários e análises sobre os possíveis cenários pós-eleitorais, num país que ainda há bem pouco tempo se revelou especialmente vulnerável em matérias de fiabilidade do seu sistema eleitoral.

É verdade, o farol da democracia mundial tem o seu presidente eleito por um colégio eleitoral e não pelo voto directo da sua população. E ocasiões houve em que o candidato eleito pelo colégio foi o que recebeu menor número de votos dos eleitores (a farsa vai ao pormenor de pôr o eleitores a votar num candidato quando na realidade estão a eleger os delegados estaduais ao Colégio Eleitoral), como sucedeu em 1876 quando o candidato republicano, Rutherford B. Hayes, foi eleito apesar do seu oponente, o democrata Samuel J. Tilden, ter obtido quase 300.000 votos a mais; novamente em 1888, o candidato democrata Grover Cleveland obteve cerca de 100.000 votos a mais que o republicano Benjamin Harrison que viria a ser eleito; mas a pior e mais discrepante situação ocorreu em 2000 quando o democrata Al Gore foi preterido a favor do republicano George W Bush apesar de ter obtido mais 500.000 votos no total nacional.

A explicação para estas discrepâncias resulta da distribuição estadual dos representantes poder distorcer o somatório de votos individuais dos cidadãos; o facto de todas as vezes terem sido os candidatos republicanos a beneficiar será meramente acidental, ainda que no caso de George W Bush nunca se possa esquecer que a maioria dos membros do tribunal da Florida que decidiu a seu favor tenha sido nomeada durante a presidência de George Bush (pai).

"A ciência fez uma viragem para o obscurantismo" -- Richard Horton


MPR

Há alguns anos o doutor Richard Horton, editor chefe de revista de medicina The Lancet, cometeu um verdadeiro sacrilégio ao pôr em dúvida a validade de uma boa parte das investigações científicas. Escreveu isso na sua própria revista [1] , mas por razões óbvias este tipo de publicação passa desapercebida porque a medicina continua a arrastar a sua origem sagrada.

Os ignaros não apreciarão as palavras de Horton:

"Grande parte da literatura científica, talvez a metade, simplesmente é falsificada. Está podre pela natureza estreita das amostras estudadas, pelos efeitos observados virtualmente imperceptíveis, pelas análises exploratórias e protocolos experimentais inúteis e pelos conflitos de interesses flagrantes, que se somam à obsessão por seguir as tendências duvidosas que estejam na moda naquele momento. A ciência fez uma viragem rumo à obscuridade".

Não seria possível resumir melhor o estado ruinoso da ciência actual em especializações muito diversas, tanto mais ruinoso quanto mais mediático for.

Países africanos devem preparar-se para aceleração da pandemia, diz instituto


Os países africanos devem preparar-se para proteger os mais vulneráveis, na eventualidade de uma aceleração da pandemia de Covid-19 no continente, aconselha o Instituto Tony Blair. 

O estudo “Planeando o Pior e Esperando pelo Melhor: Previsão da Covid-19 para a África Subsaariana”, do Instituto para a Transformação Global, fundado pelo antigo primeiro-ministro britânico, contém uma análise de cinco combinações de intervenção governamental e compara os respetivos impactos com base na trajetória de 18 países da África Subsaariana, incluindo Angola e Moçambique.

Os autores, OB Sisay, Maryam Abdullah e Elizabeth Smith, concluem que a melhor opção é uma combinação de 20% de distanciamento social e 80% de proteção de pessoas vulneráveis, isto é, restringindo o movimento ou limitando os contactos entre pessoas com o uso de máscaras ou evitando ajuntamentos e manter idosos, diabéticos, hipertensos, entre outros, em isolamento.

Esta estratégia, calcularam, pode ajudar a cortar para metade o número de morts (52%), reduzir o número de casos de infeção em 31%, reduzir o pico de hospitalizações em 66% e o uso de camas em cuidados intensivos em 67%.

Ativista diz que Alemanha não leva a sério vítimas do colonialismo


Em entrevista à DW, ativista tanzaniano acusa a Alemanha de racismo por não levar tão a sério as vítimas do colonialismo alemão como as vítimas do holocausto. E defende que o país deveria pedir desculpa aos descendentes.

O ativista tanzaniano Mnyaka Sururu Mboro acusou a Alemanha de não levar a sério os países africanos que foram ocupados pelos alemães no século XIX. Em entrevista à DW, o fundador da Associação Pós-Colonial de Berlim diz que a Alemanha deveria pedir desculpa aos descendentes das vítimas das hostilidades que cometeu em África, durante a ocupação colonial.

"Vê-se que até agora os alemães não levam nada disto a sério. Ao menos um pedido de desculpas aos descendentes. Mas acho que não nos levam a sério por causa da nossa cor da pele, por sermos negros. Não nos levam tão a sério como aos judeus. Porque o que nos aconteceu [na Tanzânia] foi a mesma coisa [que aconteceu no Holocausto]", diz.

Divisões políticas ameaçam unidade social na Guiné-Bissau


Com o aumento da tensão política, as divergências entre os guineenses são cada vez mais notórias, sobretudo nas redes sociais. Analistas apelam à elevação do nível cívico para evitar a fragmentação da sociedade.

Na Guiné-Bissau, a política interessa a todos e há debates sobre as questões políticas em todas as camadas da sociedade. Esse interesse aumenta sempre nas vésperas e depois de todas as eleições, levando amigos, familiares e vizinhos, em vários casos, a uma rutura.

Com a tensão a subir devido à crise parlamentar em curso, as redes sociais transformam-se em campo de batalha. E não são raras as ameaças e insultos entre os defensores de personalidades e partidos políticos.

Para o Presidente Umaro Sissoco Embaló, a solução é mesmo vigiar as comunicações entre os cidadãos. No balanço dos 100 dias da sua Presidência, esta terça-feira (07.07), o líder guineense anunciou que dentro de dez dias entrará em funcionamento um dispositivo adquirido no estrangeiro para monitorizar o que descreve como "insultos sob a capa de anonimato nos órgãos de comunicação social ou nas redes sociais". Quem prevaricar, promete, será chamado à justiça para responder pelos seus atos.

O jornalista Bacar Camará concorda com a ideia, que classifica como "pertinente", mas considera que "seria difícil um chefe de Estado designar-se para essas missões" quando se fala de "moralização da sociedade".

Angola é um país de "ditadura", diz advogado de ativistas detidos em Cabinda


Defesa dos ativistas da União dos Cabindenses para a Independência detidos há mais de uma semana por "rebelião" vai impugnar as medidas de coação. Advogado e ativistas ouvidos pela DW criticam sistema judicial angolano.

A 28 de junho, Maurício Gimbi e André Bônzela, presidente e vice-presidente da União dos Cabindenses para a Independência (UCI), foram detidos por rebelião, ultraje ao Estado e associação criminosa.

Estavam à espera de transporte quando se depararam com "supostos polícias mascarados e à paisana". Aí foram "brutalizados", conduzidos para a investigação criminal e "postos diretamente nas celas", onde estiveram nos primeiros três dias em "condições desumanas". A descrição é do advogado dos arguidos, Arão Tempo.

"Não deveriam ter sido submetidos a esse tipo de tratamento. E mesmo assim, no local onde foram detidos foram brutalizados. Essa atitude foi arbitrária e condenável", aponta.

No dia 30, os dois foram ouvidos pelo Ministério Público. No mesmo dia, foi detido João Mampuel, chefe do gabinete presidencial da organização política UCI, existente há um ano. A defesa dos acusados prepara-se para impugnar as medidas de coação e pedir a libertação imediata dos arguidos "por não terem cometido qualquer crime", defende Arão Tempo.

"Porque a própria Constituição da República aqui em Angola dá liberdade de expressão e de reuniões. Todos têm o direito de exprimir, divulgar e compartilhar livremente os seus pensamentos, ideias e opiniões pela palavra, imagem ou qualquer outro meio. Bem como o direito e a liberdade de informar, de se informar e de ser informado sem impedimentos nem discriminação", atenta o advogado.

Angola | Dia Mundial da População: Famílias crescem sem controlo no Bié


Este sábado, assinalou-se a data que marca os esforços da ONU pelo desenvolvimento sustentável através do planeamento familiar. Mas, na província angolana do Bié, muitas famílias crescem desordenadamente.

Teresa Chimbotia tem 28 anos e é mãe de seis filhos. Engravidou pela primeira vez quando tinha 15 anos de idade, o que a obrigou a abandonar a escola e dedicar-se aos filhos e ao marido.

Viúva e sem fonte de renda estável, Teresa Chimbotia sobrevive da venda ambulante na província angolana do Bié. "Fiz o meu primeiro filho aos 15 anos, porque os meus pais faleceram muito cedo e isso obrigou-me a arranjar marido na adolescência. Em 2015, o meu marido faleceu também", diz.

Isabel Amilcar, de 26 anos, é mãe de três filhos. A angolana conta que engravidou quando tinha 20 anos de idade, mas não deixou de estudar na altura. No entanto, com as dificuldades económicas e sociais e a chegada do primeiro filho, viu-se obrigada a arranjar um emprego e a abandonar os estudos. Isabel Amilcar esperava outro futuro.

"Quando fiz o primeiro filho, continuei a estudar, mas, mais tarde, tive dificuldades, porque o bebé ficava doente e precisava de medicamento, roupa, comida. Tive que abandonar os estudos, porque era muito difícil, e tive que me tornar  uma mamá 'zungueira'. Isso deixa-me muito triste, porque teria sido enfermeira ou professora. Estraguei o meu pão", lamenta.

Essa é a realidade de muitas famílias angolanas no Bié. A taxa de fecundidade na província já foi apontada como uma das mais altas do país, com 8,6 filhos por mulher. Em comparação, na capital Luanda, a mesma taxa é de 4,5 filhos, segundo relatórios do Governo referentes a 2015 e 2016.

Angola | UM PEQUENO PASSO NA DIRECÇÃO DA MUDANÇA DE PARADIGMA


“O relacionamento dos factores físico-geográfico-ambientais com os factores humanos em Angola, reproduz a nível do território do país a similar à escala da mais ampla situação continental.

Em Angola há riscos das áreas desérticas, ou desertificadas por acção humana, poderem avançar e tomar de assalto a Região Central das Grandes Nascentes, por que os impactos da terapia neoliberal não foram sustidos nos seus apetites mais vorazes em relação à preservação da vitalidade da água interior, quando não se podem perder de vista as projecções geoestratégicas de desenvolvimento sustentável.

Urge adoptar uma geoestratégia a muito longo prazo de desenvolvimento humano, com fundamento no relacionamento dos factores físico-geográfico-ambientais com os factores humanos, tendo como base a distribuição da água interior do país e o facto do centro geográfico do“quadrado” angolano coincidir com a Região Central das Grandes Nascentes, conforme tenho vindo a sublinhar de há alguns anos a esta parte (http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/01/geoestrategia-para-um-desenvolvimento.html).

Urge agregar a essa geoestratégia as universidades do país, que precisam ser incentivadas para a investigação multissectorial e tendo em conta que a inteligência nacional precisa ser equacionada nessa via, pondo fim à ignorância que os angolanos possuem do seu próprio território e espaço vital.”

In “PELA VIDA PARA TODA A HUMANIDADE E PELO RESPEITO PELO PLANETA!” –  https://paginaglobal.blogspot.com/2017/08/pela-vida-para-toda-humanidade-e-pelo.html

Uma crise é uma bela oportunidade


Na década de 90, Mandela enfrentou as farmacêuticas violando as patentes dos medicamentos antissida. Precisamos de saber salvar vidas de novo agora.


Quando se percebeu como a pandemia era grave, alguns laboratórios nacionais ofereceram testes a 200 euros, ou mais. Ainda estão a ser feitos a 125 euros para o público em geral. Em março, para garantir mais capacidade, o Governo pagava 100 euros por teste aos privados. Quando, há duas semanas, alcançámos a fasquia de um milhão de testes, 40% dos quais no privado, ficámos a saber que os laboratórios poderão ter recebido entre 40 e 50 milhões de euros e, como o Serviço Nacional de Saúde os realiza com um custo que é menos de metade e neles não será diferente, terão obtido um lucro generoso. Entretanto, os hospitais privados tinham-se lançado à cata de doentes e anunciaram que cobrariam 130 euros ao Estado por cada um, até o ministério lhes fechar essa porta. Uma crise é mesmo uma oportunidade de negócio.

Ficou famosa a frase de Rahm Emanuel “nunca desperdiçar uma crise séria” (no “Wall Street Journal”, 18 de novembro de 2008). Era então chefe de gabinete de Obama, uma das pessoas mais poderosas em Washington, estava-se em pleno colapso financeiro do subprime, a recessão viria logo a seguir. O dito tem sido citado como um bondoso apelo à correção dos erros, mas o que se passou depois não dá demasiado crédito a tanta expectativa. “O que quero dizer com isto é que é uma oportunidade para fazer coisas que pensámos que não poderíamos fazer antes”, acrescentou então Emanuel. Mas, se medirmos os resultados dessa oportunidade, foram magros. Nem houve modificação substantiva da forma de regulação da finança, nem as políticas sociais foram suficientes, ainda hoje os EUA se debatem com o risco de dezenas de milhões de pessoas sem proteção na saúde. Há poucas semanas, a 25 de março, Emanuel escreveu no “Washington Post” uma nova versão do mesmo apelo: “Vamos assegurar que esta crise não é desperdiçada”, sugerindo que o mesmo não pode dizer dos resultados da anterior.

Há quase 50 anos, Milton Friedman, um economista ultraconservador que viria a ganhar o Nobel e tinha sido alcandorado à fama por um programa de televisão, publicou um livro, “Capitalismo e Liberdade”, em que explicava que “só uma crise, seja real seja percebida como tal, conduz a uma verdadeira viragem”. A sugestão era mais fria, aproveite-se a crise para fazer o que é impensável por ser impopular. Não precisamos de ir muito longe para nos lembrarmos de como a aterragem da troika na Portela foi sentida como a oportunidade de impor o que nenhum programa eleitoral suportaria, o que o primeiro-ministro pouco depois admitiu inocentemente ser o programa para “empobrecer Portugal”.

O velho e o novo

«A crise consiste precisamente no facto de que o velho está a morrer e o novo ainda não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece». A afirmação de Antonio Gramsci, proferida nas primeiras décadas do século XX, ganha hoje flagrante actualidade, à medida que se aprofunda a crise do capitalismo e, com ela, (res)surgem muitos destes sintomas.


«A crise consiste precisamente no facto de que o velho está a morrer e o novo ainda não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece». A afirmação de Antonio Gramsci, proferida nas primeiras décadas do século XX, ganha hoje flagrante actualidade, à medida que se aprofunda a crise do capitalismo e, com ela, (res)surgem muitos destes sintomas.

Em 2019, 26 capitalistas concentravam uma riqueza equivalente à da metade mais pobre da população mundial, ou seja, 3,8 mil milhões de pessoas. Se a cada dois dias surgia um novo multimilionário, essa mesma metade perdia diariamente 500 milhões de dólares. No mesmo mundo em que alguns têm fortunas superiores à riqueza criada anualmente por países inteiros, 2,2 mil milhões de seres humanos continuam sem acesso a água potável.

Covid-19 | Restrições à informação impostas por Governos já custaram muitas vidas


"Morreram pessoas porque os Governos mentiram" Relator da ONU critica gestão pandémica

David Kaye deu o exemplo de países como a China, Bielorrússia, Camboja, Irão, Egito, Índia, Myanmar e Turquia.

O relator especial das Nações Unidas para a liberdade de expressão, David Kaye, considera que as restrições à informação impostas por Governos durante a pandemia de Covid-19 custaram muitas vidas.

A preocupação de David Kaye foi manifestada ao Conselho de Direitos Humanos.
"Morreram pessoas porque os governos mentiram, ocultaram informações, prenderam jornalistas, não revelaram a verdadeira gravidade da ameaça ou criminalizaram indivíduos com o pretexto de que tinham divulgado informações falsas", disse Kaye ao Conselho, atualmente reunido em Genebra.

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