Este
sábado, assinalou-se a data que marca os esforços da ONU pelo desenvolvimento
sustentável através do planeamento familiar. Mas, na província angolana do Bié,
muitas famílias crescem desordenadamente.
Teresa
Chimbotia tem 28 anos e é mãe de seis filhos. Engravidou pela primeira vez
quando tinha 15 anos de idade, o que a obrigou a abandonar a escola e
dedicar-se aos filhos e ao marido.
Viúva
e sem fonte de renda estável, Teresa Chimbotia sobrevive da venda ambulante na
província angolana do Bié. "Fiz o meu primeiro filho aos 15 anos, porque
os meus pais faleceram muito cedo e isso obrigou-me a arranjar marido na
adolescência. Em 2015, o meu marido faleceu também", diz.
Isabel
Amilcar, de 26 anos, é mãe de três filhos. A angolana conta que engravidou
quando tinha 20 anos de idade, mas não deixou de estudar na altura. No entanto,
com as dificuldades económicas e sociais e a chegada do primeiro filho, viu-se
obrigada a arranjar um emprego e a abandonar os estudos. Isabel Amilcar
esperava outro futuro.
"Quando
fiz o primeiro filho, continuei a estudar, mas, mais tarde, tive dificuldades,
porque o bebé ficava doente e precisava de medicamento, roupa, comida. Tive que
abandonar os estudos, porque era muito difícil, e tive que me tornar uma
mamá 'zungueira'. Isso deixa-me muito triste, porque teria sido enfermeira ou
professora. Estraguei o meu pão", lamenta.
Essa
é a realidade de muitas famílias angolanas no Bié. A taxa de fecundidade na
província já foi apontada como uma das mais altas do país, com 8,6 filhos por
mulher. Em comparação, na capital Luanda, a mesma taxa é de 4,5 filhos, segundo
relatórios do Governo referentes a 2015 e 2016.
Mas
nem todas as famílias vivem esta situação. Ana Aurélio tem 26 anos e conseguiu
trilhar por outro caminho, apesar de todas as dificuldades que teve que
enfrentar. Engravidou aos 20 anos e, sem o apoio familiar ou do parceiro,
enfrentou tudo sozinha. Trabalhou em vários estabelecimentos, mas continuou a
frequentar o último ano do curso médio de Agronomia para que não faltasse o
mínimo ao seu filho.
Hoje
funcionária pública colocada no Departamento Provincial do Instituto de
Desenvolvimento Agrário do Bié e estudante do 1º ano do curso superior de
Agronomia, Ana Aurélio dá um conselho aos mais jovens.
"Quero
dizer que, para não passarem onde eu passei, é preciso ter muita calma e muita
cautela, porque os adolescentes e nós, jovens, não conseguimos nos controlar. E
para os que estão nesta fase, quero desejar muita força, que não desistam e
que, independentemente das coisas, a vida continua", sublinha.
Emancipação
da mulher
Convidado
a analisar a falta de planeamento familiar na província, o sociólogo
Adilson Luassa defende a necessidade de se trabalhar na emancipação da mulher
jovem.
O
especialista aponta aspetos culturais, a pobreza e a falta de eficácia nas
políticas de educação sexual como os principais fatores que estão na base do
crescimento populacional desordenado.
"Alteramos
este quadro, primeiro, ao emancipar a nossa mulher. Isso começa por
trabalharmos a mentalidade da juventude, invertendo o quadro e o modo de pensar
sobre o lar, os filhos e a sociedade de uma forma geral", diz.
"Outro
aspeto é a educação sexual. Não podemos deixar os métodos anticoncecionais, bem
como políticas que visam o alto nível de reprodução", acrescenta.
O
Dia Mundial da População, criado pelas Nações Unidas, assinala-se anualmente a
11 de julho. O objetivo é alertar para questões como o planeamento familiar.
José
Adalberto | Deutsche Welle
1 comentário:
- Nice article thanks this post share
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