Com
o aumento da tensão política, as divergências entre os guineenses são cada vez
mais notórias, sobretudo nas redes sociais. Analistas apelam à elevação do
nível cívico para evitar a fragmentação da sociedade.
Na
Guiné-Bissau, a política interessa a todos e há debates sobre as questões
políticas em todas as camadas da sociedade. Esse interesse aumenta sempre nas
vésperas e depois de todas as eleições, levando amigos, familiares e vizinhos,
em vários casos, a uma rutura.
Com
a tensão a subir devido à crise parlamentar em curso, as redes sociais
transformam-se em campo de batalha. E não são raras as ameaças e insultos entre
os defensores de personalidades e partidos políticos.
Para
o Presidente Umaro Sissoco Embaló, a solução é mesmo vigiar as comunicações
entre os cidadãos. No balanço
dos 100 dias da sua Presidência, esta terça-feira (07.07), o líder
guineense anunciou que dentro de dez dias entrará em funcionamento um
dispositivo adquirido no estrangeiro para monitorizar o que descreve como
"insultos sob a capa de anonimato nos órgãos de comunicação social ou nas
redes sociais". Quem prevaricar, promete, será chamado à justiça para
responder pelos seus atos.
O
jornalista Bacar Camará concorda com a ideia, que classifica como
"pertinente", mas considera que "seria difícil um chefe de
Estado designar-se para essas missões" quando se fala de
"moralização da sociedade".
Também
o jornalista e especialista em gestão de conflitos António da Goia defende a
regulamentação das redes sociais. "Você imagina uma pessoa que escreve com
perfil falso, você não sabe quem é. Mas noutros países, com a própria
tecnologia, com a recomendação e a lei, há controlo sobre o Facebook",
opina.
"Isto
é muito perigoso, é como dar uma bomba a uma pessoa e esta não tem dia de
explodir. O que assistimos nas redes sociais não tem nada a ver com a nossa
convivência democrática", acrescenta o jornalista.
Com
o debate político à volta da exigência do Conselho de Segurança da ONU para a
formação de um novo Governo na Guiné-Bissau, os cidadãos estão ainda mais
atentos à atuação no Parlamento guineense e os ânimos estão mais exaltados.
"É
o nível cívico que deve ser reforçado na perspetiva educacional. Irmãos, amigos
e vizinhos, que são uma família, entrando neste tipo de atitude, até de virar
as costas entre eles, isso já patenteia o nível de fanatismo. Isso não ajuda. Política é política e deve ser feita com razão", afima o sociólogo
Infali Donque.
Alta
preocupação
A
presidente do Fórum de Intervenção Social das Jovens Raparigas (FINSJOR),
Genabu Candé, também demonstra preocupação.
"Se
os políticos estão totalmente divididos e levam essa divisão para as famílias,
as coisas tornam-se muito difíceis. Tenho que apelar a todos os guineenses para
não deixarmos que as questões políticas dividam os nossos laços familiares e a
unidade nacional que sempre sonhámos", sublinha.
Nas
ruas de Bissau, os cidadãos ouvidos pela DW África reconhecem as consequências
das querelas políticas. "Neste momento, nós, guineenses, sabemos que há
muita divisão social", diz um estudante universitário. "O mais
importante é que os guineenses saibam o que devem fazer antes de pensar nos
políticos que trouxeram todo esse tipo de divisão. Entretanto, nós sabemos o
nível académico da nossa população, e isso é aproveitado pelos políticos",
conclui.
"Os
guineenses devem olhar para a nação pelo sentido nacionalista e patriótico
para, de facto, levarmos a cabo o progresso da Guiné-Bissau", diz, por sua
vez, um professor da capital. "Os diferendos políticos são fatores
estranguladores do nosso processo de desenvolvimento e devem ser eliminados de
facto", considera.
Iancuba
Dansó (Bissau) | Deutsche Welle
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