Em
entrevista à DW, ativista tanzaniano acusa a Alemanha de racismo por não levar
tão a sério as vítimas do colonialismo alemão como as vítimas do holocausto. E
defende que o país deveria pedir desculpa aos descendentes.
O
ativista tanzaniano Mnyaka Sururu Mboro acusou a Alemanha de não levar a sério
os países africanos que foram ocupados pelos alemães no século XIX. Em
entrevista à DW, o fundador da Associação Pós-Colonial de Berlim diz que
a Alemanha
deveria pedir desculpa aos descendentes das vítimas das hostilidades
que cometeu em África, durante a ocupação colonial.
"Vê-se
que até agora os alemães não levam nada disto a sério. Ao menos um pedido de
desculpas aos descendentes. Mas acho que não nos levam a sério por causa da
nossa cor da pele, por sermos negros. Não nos levam tão a sério como aos
judeus. Porque o que nos aconteceu [na Tanzânia] foi a mesma coisa [que
aconteceu no Holocausto]", diz.
A
Tanzânia foi uma colónia alemã entre a década de 1880 até 1919, tornando-se
parte do império britânico até 1961, ano da sua independência.
Na terça-feira (07.07), Sururu Mboro sentou-se diante das câmaras
televisivas do canal alemão para recordar a estratégia chamada "terra
queimada" que fustigou a vida dos tanzanianos.
"Incendiavam-se
por todo o lado: casas, campos e florestas. E quando as pessoas corriam, eram
abatidas. E também o que faziam era fechar todos os poços e riachos com betão,
para que as pessoas não conseguissem sequer água para beber. Até
punham veneno na água. Sabe-se que nessa altura a maioria das pessoas
morreu – fala-se em mais de 300.000 pessoas, mas pode ser até mais de meio
milhão", conta.
O
ativista lembra ainda outros episódios sofridos pelo povo tanzaniano durante a
"Maji Maji", a grande guerra colonial que juntou vinte comunidades do
sul da Tanzânia contra os alemães, "fartas" do colonialismo.
"Evadiram aqueles que foram capturados nesta guerra. Os chefes, ou os
chamados líderes, foram levados para uma espécie de prisão em frente de uma
igreja. E foram enforcados."
Mboro
diz que a cada domingo chegavam a ser enforcadas cerca de 15 a 20 pessoas: "E antes
de serem enforcados tinham de entrar primeiro na igreja e confessar que o que
fizeram aos alemães [a rebelião] estava totalmente errado.”
O
ativista disse que os atores desses crimes ainda hoje são tidos como heróis na
Alemanha: "Vê-se que eles ainda estão presentes na sociedade alemã. Há aqui
seis ruas que estão a glorificar aqueles criminosos coloniais e temos vindo a
exigir-lhes para que parem com isso."
Comerciantes
de escravos enaltecidos?
Em
Berlim, uma das estátuas que gera discórdia é a de Friedrich Wilhelm, que está
localizado à porta do palácio barroco de Charlottenburg. O Duque da Prússia
apresenta-se no topo de um cavalo, triunfante, com quatro figuras acorrentadas
a olhar para ele.
O
forte que o monarca construiu no que é hoje o Gana tornou-se uma plataforma
para o comércio transatlântico de escravos.
Mnyaka
Mboro diz compreender a dor e a raiva que levaram alguns manifestantes nas
últimas semanas a alvos de monumentos relativos à história colonial nas suas
cidades, na Europa e na América. Mas conclui que "destruir estas estátuas
não vai funcionar" porque "toda a história não está lá. Tem de
haver um contexto".
Vários
outros monumentos a comerciantes de escravos e líderes coloniais permanecem no
seu local original em toda a Alemanha. O ativista da Associação Pós-Colonial de
Berlim preferia que se movessem esses monumentos para exposições como
"Revelado: Berlim e os seus monumentos", aberta aos visitantes desde
2016 na capital alemã.
Purgatório
de estátuas
Pouco
depois do fim da II Guerra Mundial, as potências Aliadas que ocupavam Berlim
ordenaram a remoção de monumentos ao carácter nacional e militar da Alemanha.
Muitos
deles estão agora expostos na Cidadela, uma fortaleza do século XVI no distrito
ocidental de Spandau, em Berlim, que foi utilizada pelo exército alemão durante
a II Guerra Mundial para testar armas químicas.
Agora
a Cidadela é um local histórico e um museu, onde os monumentos residem numa
espécie de purgatório de estátuas - nem destruídos nem venerados. Em vez disso,
constam da exposição "Revelado: Berlim e os seus monumentos".
"É
uma oportunidade para não esquecermos esta história, de não a deixarmos
desaparecer", diz Urte Evert, que tem sido a diretora do museu desde 2017.
"Em vez disso, podemos mostrar que há raiva, tristeza, até mesmo
violência. E espero que possamos fazer algo com isso, tornando estas obras
acessíveis como são".
Evert
acrescenta ainda que "cada monumento precisa de ser constantemente
discutido de novo” e que não existe uma forma estanque de olhar para eles.
Elisabeth
Jahn, bd, mc | Deutsche Welle
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