Israel e os Emirados Árabes
Unidos, com mediação activa dos Estados Unidos, assinaram um acordo de paz para
pôr termo a uma guerra que não existia. A comunidade internacional, salvo
honrosas excepções, aplaudiu e respirou de alívio fingindo acreditar que Israel
vai desistir da anexação da Cisjordânia e viabilizar a solução dos dois estados.
MPPM*
Israel e os Emirados Árabes
Unidos, com mediação activa dos Estados Unidos, assinaram um acordo de paz para
pôr termo a uma guerra que não existia. A comunidade internacional, salvo
honrosas excepções, de consciência pesada quanto à questão palestina, aplaudiu
e respirou de alívio fingindo acreditar que Israel vai desistir da anexação da
Cisjordânia e viabilizar a solução dos dois estados. Mas Netanyahu, que poderá
ter muitos defeitos, mas não o de esconder o que pensa, já disse que concordou
em atrasar a anexação, como parte do acordo, mas que os planos continuam em
cima da mesa.
Israel e os Emirados Árabes
Unidos concordaram, na passada quinta-feira, em normalizar as suas relações num
acordo mediado pelo Presidente dos EUA. O acordo surgiu após uma conferência
telefónica entre o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Primeiro
Ministro israelita, Benjamin Netanyahu e o Xeque Mohammed bin Zayed Al Nahyan,
príncipe herdeiro de Abu Dhabi.
Os Emirados Árabes Unidos
tornaram-se o primeiro país do Golfo Arábico a alcançar um acordo sobre a
normalização das relações com Israel, culminando anos de contactos discretos
entre os dois países no comércio e na tecnologia.
O acordo prevê que Israel
suspenda os seus planos de anexar as áreas palestinas da Cisjordânia ocupada e
tem sido saudado como um passo histórico para a paz na região e para o fim do
“conflito israelo-palestino”. Mas nada se diz no acordo que comprometa Israel
com a viabilização da solução dos dois estados, como a retirada dos territórios
ocupados em 1967 ou sequer o congelamento da expansão dos colonatos. Na
realidade, houve o cuidado de assegurar que a Palestina e os palestinos estão
totalmente ausentes do acordo: as áreas que Israel pretende anexar são
referidas como “as áreas delineadas na Visão do Presidente para a Paz”!
O analista Omar Baddar disse à Al
Jazeera que o acordo não tem nada de histórico ou de inovador: «Israel não
“travou” a anexação da Cisjordânia – a anexação é já uma realidade de facto no
terreno. Israel apenas “suspendeu” o seu anúncio de uma realidade que já tinha
imposto ilegalmente aos palestinos. É falso dizer que Israel a suspendeu a
pedido dos EAU».
E de facto, dirigindo-se mais
tarde aos jornalistas em Telavive, o primeiro-ministro israelita Benjamin
Netanyahu disse ter concordado em “atrasar” a anexação como parte do acordo com
os EAU, mas que os planos continuam “em cima da mesa”.
Sobre o que esperam os EAU deste
acordo, a opinião de Lisa Goldman, co-fundadora do site 972Mag, é de que os EAU
estão «a reclamar uma vitória diplomática em troca do que é provavelmente uma
cooperação de segurança muito valiosa por parte de Israel».
Também para Trita Parsi,
vice-presidente executivo do Quincy Institute, o principal objectivo da decisão
dos EAU e de Israel de normalizar os laços é mente de Washington «militarmente
empenhado na região» com o espectro da ameaça do Irão.