terça-feira, 1 de setembro de 2020

Recém-amigos: ex-agente do Mossad conta como Israel e EAU chegaram a acordo de paz


#Publicado em português do Brasil

Enquanto Israel possui relações conturbadas com a maior parte dos países árabes, ex-agente do Mossad, encarregado de estabelecer contato com os EAU, conta sobre as raízes da aproximação.

No último dia 13, Israel e os Emirados Árabes Unidos fecharam um acordo de paz histórico sob intermediação dos EUA.

Os lados se comprometeram em estabelecer cooperação em diferentes áreas, enquanto que o primeiro voo comercial a ser operado entre Abu Dhabi e Tel Aviv está programado para a semana que vem.

Contudo, segundo contou à Sputnik Internacional o ex-agente do Mossad David Meidan, as relações entre ambos os países tiveram uma guinada no final de 2005 e início de 2006.

"Até então, funcionários israelenses de tempos em tempos 'esbarravam' em seus colegas emiradenses. Nós os víamos em terceiros países, em cúpulas ou encontros, encontrávamos seus embaixadores, mas não havia nada muito sério", contou Meidan.

Rússia intercepta aviões de 4 países da OTAN sobre o Báltico


#Publicado em português do Brasil

Um jato Su-27 foi destacado para interceptar quatro aviões de guerra estrangeiros sobre o mar Báltico nesta segunda-feira (31), informou o Centro Nacional de Gerenciamento de Defesa da Rússia.

"Em 31 de agosto, os sistemas de controle do espaço aéreo russo detectaram quatro alvos aéreos se aproximando da fronteira do Estado da Federação da Rússia sobre as águas neutras do mar Báltico. Para identificar os alvos aéreos e evitar a violação da fronteira da Federação da Rússia, um caça Su-27 foi enviado", disse o centro em um comunicado ao qual a Sputnik teve acesso.

Entre os alvos identificados estavam um RC-135 da Força Aérea dos EUA, um Gulfstream da Suécia, um Challenger da Dinamarca e um P-3C Orion da Alemanha.

Depois que os aviões de guerra foram desviados da fronteira, o jato russo voltou à base. O Su-27 operou em total conformidade com os regulamentos internacionais do espaço aéreo e, segundo as autoridades russas, as aeronaves da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) não cruzaram a fronteira russa em nenhum momento. 

É a quarta vez em apenas uma semana que caças russos interceptam aeronaves americanas sobre o mar Negrohttps://t.co/fi2RJIehjn — Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) July 31, 2020

Há várias semanas, o Ministério da Defesa da Rússia tem relatado uma série de aproximações de aeronaves da OTAN ao longo das fronteiras russas sobre os mares Negro e Báltico. Em todas as ocasiões, os aviões de reconhecimento e os bombardeiros estrangeiros foram interceptados por caças russos.

Sputnik | Imagem: © AP Photo / Master Sgt. Charles Larkin Sr

EUA/NATO provocam Rússia com manobras militares perto de suas fronteiras


#Publicado em português do Brasil

Rússia considera 'extremamente perigosas' manobras dos EUA e Estônia perto de suas fronteiras

A Embaixada da Rússia em Washington qualificou as manobras militares dos EUA na Estônia, próximas da fronteira russa, como perigosas.

"A Federação da Rússia tem sugerido repetidamente aos EUA e seus aliados que limitem suas ações de treinamento e afastem a zona de manobras da linha de contato entre a Rússia e a OTAN. Consideramos as ações das Forças Armadas dos EUA na Estônia provocativas e extremamente perigosas para a estabilidade regional", declarou a embaixada.

O departamento diplomático russo sublinhou que os parceiros ocidentais realizam tais ações em meio ao agravamento da situação política na Europa.

"Para que esta exibição ostensiva de armas? Que sinal os membros da OTAN querem nos enviar? Quem de fato aumenta as tensões na Europa? Pergunta retórica: como reagiriam os americanos caso nossas tropas realizassem manobras como estas perto da fronteira dos EUA?", acrescentou a embaixada.

As manobras da OTAN decorrem de 1 a 10 de setembro em uma área perto da fronteira da Rússia.

Sputnik | Imagem: © REUTERS / Ints Kalnins

Bielorrússia | Quem quer derrubar o Presidente Lukashenko?


Thierry Meyssan*

A imprensa ocidental põe em destaque Svetlana Tikhanovskaïa que ela apresenta como vencedora da eleição presidencial bielorrussa e arrasa o Presidente cessante Alexandre Lukashenko, o qual acusa de violência, de nepotismo e de truncagem eleitoral. No entanto, uma análise desse país atesta que a política do seu presidente corresponde ao interesse dos cidadãos. Por trás desta querela fabricada levanta-se o espectro do Euromaidan ucraniano e de uma ruptura provocada com a Rússia.

Um dos objectivos do Golpe de Estado do Euromaidan (Ucrânia, 2013-14) era o de cortar a Rota da Seda na Europa. A China reagiu a isso modificando o traçado e fazendo-a passar pela Bielorrússia. Desde logo, Minsk tenta proteger-se de uma igual desestabilização realizando uma política mais equilibrada vis-a-vis do Ocidente, participando tanto em manobras militares com Moscovo como aceitando fornecer armas ao Daesh(EI), o qual Moscovo combate na Síria.

No entanto apesar das tergiversações de Minsk, a CIA interveio por ocasião da eleição presidencial de 2020. Svetlana Tikhanovskaïa desafiou o Presidente cessante, Alexandre Lukashenko, que disputava um sexto mandato. Ela não passou de 10 % dos votos, gritou por fraude e fugiu para a Lituânia, para onde o Francês Bernard-Henri Lévy se precipitou a fim de a acolher. Unânime, a imprensa ocidental denunciou o «ditador» e deu a entender que a Srª Tikhanovskaïa havia saído vitoriosa aquando do escrutínio.

A realidade é, porém, muito mais complexa.

A extrema direita tem uma estratégia na Alemanha


#Publicado em português do Brasil

Tentativa de invasão ao Parlamento mostra que a direita antidemocrática tem um plano: sua narrativa já está se infiltrando no centro da sociedade alemã. E notas de repúdio de políticos não bastam, opina Hans Pfeifer.

Parecia uma ação espontânea e meio descoordenada: uma multidão rompeu as barreiras diante do Reichstag, a sede do Parlamento alemão em Berlim, subiu em disparada pelas escadas e pressionou em direção à entrada do edifício histórico. Cantava suas palavras de ordem e agitava as bandeiras do Reich alemão – a bandeira dos antidemocratas.

A "tempestade", porém, não durou muito. Os manifestantes foram mantidos sob controle por alguns poucos policiais. Em seguida, a área foi esvaziada. Portanto, não há com o que se preocupar, certo? Pelo contrário: a extrema direita na Alemanha há tempos vem perseguindo um plano.

Muitos dos extremistas de direita modernos têm uma nova virtude: paciência. Eles não tentam com todas as suas forças ocupar o Reichstag. Eles já ficam satisfeitos com as imagens simbólicas da tentativa por si só e com as bandeiras de seus apoiadores tremulando.

Pandemia expõe desigualdade social na Alemanha


#Publicado em português do Brasil

Surtos recentes atingem camadas mais carentes da população: imigrantes e funcionários de frigoríficos. Covid-19 chama atenção para exclusão no setor imobiliário e condições precárias de trabalho na indústria da carne.

Mais de 1.500 casos do novo coronavírus num frigorífico no estado da Renânia do Norte-Vestfália, mais de 100 num conjunto residencial em Berlim e 120 infecções entre residentes de um prédio em Göttingen, na Baixa Saxônia, são os mais recentes surtos de covid-19 na Alemanha. Apesar de registrados em diferentes cidades, os três têm algo incomum: atingem as camadas mais carentes da população.

No primeiro, mais de um quinto dos trabalhadores do frigorífico Tönnies, localizado no distrito de Gütersloh, contraiu o coronavírus. O local foi fechado, e milhares de funcionários deveriam entrar em quarentena, mas a empresa não foi capaz de fornecer os endereços de todos os empregados, pois grande parte deles é terceirizada, vinda de países do Leste Europeu com contratos temporários.

Alguns conjuntos residenciais onde vivem esses trabalhadores temporários foram cercados por grades para impor a quarentena obrigatória. As condições de moradia nesses locais não são as melhores, com muitos moradores para poucos metros quadrados, impossibilitando o distanciamento social. Soma-se a isso o medo de ficar sem receber salários com o fechamento do frigorífico.

A crucificação de Julian Assange


Preso, perseguido e à beira de um colapso mental, ele resiste. Os EUA praticam tortura e aliados ocidentais apoiam — para dar exemplo. Não é só sua vida que está em risco: também o futuro do jornalismo e do direito à dissidência

Andrew Fowler | em entrevista a John Kendall Hawkins, no CounterPunch | Outras Palavras | Tradução: Simone Paz

Andrew Fowler é um jornalista investigativo australiano muito premiado, ex-repórter dos programas Foreign Correspondent e Four Corners, da ABC, e autor de “O homem mais perigoso do mundo: Julian Assange e a luta do WikiLeaks pela Liberdade” [The Most Dangerous Man in the World: Julian Assange and WikiLeaks’ Fight for Freedom — sem edição em português]. Esta é uma edição atualizada de seu relato de 2011 sobre a ascensão e a prisão política de Assange. Grande parte desse relato explicava como Assange moveu-se de forma aparentemente inevitável em direção a um posicionamento contra o imperialismo norte-americano. Ele foi um tônico para a indiferença expressa por tantos estadunidenses nas traumáticas consequências do 11 de setembro e da ascensão do estado de vigilância. O personagem Alan Shore (James Spader), do seriado Boston Legal, fez um bom resumo:


Esta versão atualizada discute a tortura que Assange vem sofrendo na prisão de Belmarsh, na Grã-Bretanha. Aqui, um filme urgente e necessário sobre o assunto.

Seu livro inclui, também, as últimas notícias sobre a espionagem abrangente que a UC Global mantinha de Assange e seus visitantes na embaixada do Equador em Londres, no último ano em que ele recebia “asilo” lá. A UC Global é uma empresa de segurança espanhola que foi contratada para proteger a embaixada. Desde então, descobriu-se que estava repassando dados para a inteligência americana, provavelmente a CIA. Fowler sugere tal conexão na versão atualizada de seu livro, citando duas violações de dados (hacking) de Assange a servidores do governo dos EUA; ele descreve que, para cada uma dessas violações, a CIA enlouqueceu, como se tivesse sido atingida por um inimigo estrangeiro. No último (novo) capítulo do livro, “The Casino”, Fowler descreve como a CIA ficou ultrajada quando Assange publicou suas ferramentas de hacking, conhecidas como Vault 7, no Wikileaks: “Sean Roche, o vice-diretor de inovação digital da CIA, lembra a reação dentro da CIA. Disse que recebeu uma ligação de outro diretor, que estava sem fôlego: ‘Era o equivalente a um Pearl Harbor digital’”.

Portugal | Divisão de tachos


Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião

Uma fórmula eleitoral excêntrica e medrosa. Assim se classificou, nesta mesma coluna, mas em 2017, a proposta do Governo de transformar as comissões de coordenação e desenvolvimento regional (CCDR) numa espécie de proto-regiões.

Já então se percebia que um colégio eleitoral de autarcas (presidentes e vereadores, deputados municipais e líderes das juntas) não era o melhor exemplo de democracia.

Ainda assim, podia ser visto como um mal menor. Mesmo com o pecado original, talvez a intenção fosse boa: caminhar no sentido da regionalização, atribuindo às CCDR, logo numa primeira fase, a gestão de todos os fundos europeus destinados às regiões, e não apenas as "migalhas" dos programas operacionais regionais.

Durou pouco. Uns dias depois, o ministro Eduardo Cabrita lá veio esclarecer que afinal as CCDR ficariam com o que já tinham e nada mais. Começava a ser mais difícil encontrar utilidade nesta reforma administrativa, mas talvez ainda se pudesse dizer que caminhava na direção correta: um pequeno passo é melhor do que passo nenhum.

Mas isso foi só até ser conhecido, este verão, o articulado completo. O colégio eleitoral mantém-se, mas o Terreiro do Paço dá com uma mão, para tirar com a outra: escolhe um dos vice-presidentes (pelos vistos, para garantir a paridade de género) e pode demitir o presidente. Ou seja, os futuros líderes regionais são eleitos por uma assembleia de autarcas, mas na verdade, não é perante o seu eleitorado que terão de responder, antes perante o fiscal instalado no trono imperial.

Como estamos em Portugal, as coisas podem sempre piorar. Para acabar de vez com qualquer pretensão democrática, PS e PSD negociaram nos bastidores e decidiram distribuir as presidências: esta para mim, aquela para ti. Ou seja, este tacho para mim, aquele para ti. Se alguém acha que algum dia PS e PSD avançarão com a regionalização do país, talvez seja melhor esperar sentado. Na hora da verdade, fala sempre mais alto a manutenção do poder a partir do centro. Nem que seja só para ficar com umas migalhas.

*Chefe de Redação

Auditoria revela perdas de 4.042 milhões no Novo Banco


A auditoria externa ao BES e ao Novo Banco revelou perdas líquidas de 4042 milhões de euros no Novo Banco. Governo fala em "insuficiências e deficiências graves" até 2014.

"O relatório descreve um conjunto de insuficiências e deficiências graves de controlo interno no período de atividade até 2014 do Banco Espírito Santo no processo de concessão e acompanhamento do crédito, bem como relativamente ao investimento noutros ativos financeiros e imobiliários", de acordo com o comunicado, divulgado esta terça-feira de madrugada, pelo Ministério das Finanças.

Devido à grande abrangência temporal, "que incide sobre um período muito alargado da atividade do Banco Espírito Santo até 2014 relativamente ao qual estão em curso processos criminais, e à necessidade de salvaguarda dos interesses financeiros do Estado, o relatório será remetido pelo Governo à Procuradoria-Geral da República considerando as competências constitucionais e legais do Ministério Público", indica o Governo.

O relatório, elaborado pela empresa de auditoria Deloitte, analisou atos de gestão no Banco Espírito Santo e no Novo Banco, desde 1 de janeiro de 2000 até 31 de dezembro de 2018, e incidiu sobre "283 operações que integram o objeto da auditoria, abrangendo, portanto, quer o período de atividade do Banco Espírito Santo, quer o período de atividade do Novo Banco".

Surto envolto em “secretismo” em lar do Porto mata 16 pessoas


Número de vítimas no Lar Residência Montepio foi avançado pelo jornal Público. Nem a ARS Norte nem a instituição queriam avançar detalhes sobre a situação, que terá começado em agosto

m surto de covid-19 detectado no início de agosto num lar de luxo no Porto, a Residência Montepio, fez 48 infectados (29 utentes e 19 profissionais). Destes, 16 pessoas morreram. Os números oficiais foram avançados pela Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte ao jornal Público.

Segundo o jornal, a ARS resistiu a divulgar a informação e só o fez quando o Público confirmou a morte de 14 das 24 pessoas que tiveram de ser internadas junto de fonte do Hospital S. João. Este "secretismo" referido pelo Público estendeu-se também à direção do lar, que na sexta-feira não avançou quaisquer vítimas mortais ou pessoas infectadas.

O lar teria 109 utentes e boas instalações para os acolher. Ainda assim, a taxa de letalidade situa-se agora nos 55%, mais alta do que no lar de Reguengos de Monsaraz (onde ficou pelos 20%). António Fonseca, presidente da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto, a que pertence Cedofeita, onde está localizado o lar do grupo Montepio, explicou que a instituição não pediu qualquer colaboração e que as informações sobre o surto circulavam “em circuito fechado”.

“Como autarca preocupa-me esta falta de informação numa instituição que deveria dar o exemplo. O lar está inserido numa zona habitacional e a comunidade está exposta sem saber”, disse.

Expresso | Imagem: Christian Hartmann

Avante com um risco (des)necessário?


Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Filipe Garcia | Expresso

Imagino um qualquer surfista de ondas grandes, a reboque de uma moto de água, a acelerar em paralelo à praia, pronto para descer uma das ondas da Praia do Norte. Imagino a namorada, a mãe ou mesmo os amigos mais razoáveis, no Forte, aquele que nas fotos nos dá a verdadeira escala da loucura que por ali se pratica, em surdina ou nem por isso, a repetir: “Não vás. Não desças. Olha que morres.” A verdade é que eles vão, surfam o que nunca se imaginou possível e, na esmagadora maioria das vezes, até escapam sem auxílio médico. É verdade que já quase morreram surfistas na praia da Nazaré, não menos verdade é que todos eles garantirão, a familiares, fãs e patrocinadores, que estão prontos para escapar à onda seguinte, aguentar o impacto e voltar a tentar.

Ontem ficámos a saber as regras que a Direção-Geral da Saúde sugeriu ao PCP para a organização da Festa do Avante, a tal que assinala a rentrée do ano político dos comunistas. Uma irresponsabilidade, gritam unsum direito, gritam os outros - e muitos, suspeito, apenas suspiram por em tempos de pandemia ainda se cumprirem alguns dos rituais a que se foram habituando. É verdade que o slogan nunca foi o de um comício, congresso ou convenção, que o qualificativo foi sempre o de Festa. Nem por isso deixou, sempre, de ser o grande marco no ano político de um dos partidos definidores da democracia portuguesa.

Porque arriscam a vida os surfistas de ondas grandes? Dizem que nasceram para descer ondas que mais se parecem com tsunamis, que só se sentem felizes com a vida em risco. Dizem também que cumprem todas as normas de segurança, que estão treinados, prontos para tudo o que mar lhes possa trazer. Dizem que tem de ser. Corajosos ou loucos, com ou sem razão, há mesmo quem precise de correr riscos que aos outros parecem desnecessários.

O arranque do PS para mais um Orçamento

Em Coimbra, debaixo do mote de “Recuperar Portugal”, os socialistas lançaram ontem o seu ano político. No ar ainda pairava o fantasma de uma hipotética crise política quando o primeiro-ministro abriu os trabalhos. Da esquerda à direita, com ecos no Palácio de Belém, não foi fantasma que colhesse apoio - Disse "crise política"? "Ultimato" de Costa faz ricochete à esquerda e à direita – e foi um António Costa diferente o que discursou: agora apostado em promover acordos duradouros, em voltar a reunir consensos em torno de uma luta que quer mobilizadora. Como não poderia deixar de ser, estivemos lá e sobre a cimeira socialista pode ler como Costa deixou a dramatização à porta e como foi a rentrée assética com apelos mais amigáveis à esquerda.

Novo Banco. 4.000 milhões de perdas e "insuficiências e deficiências graves"

"Um conjunto de insuficiências e deficiências graves de controlo interno no período de atividade até 2014 do Banco Espírito Santo no processo de concessão e acompanhamento do crédito, bem como relativamente ao investimento noutros ativos financeiros e imobiliários", assim diz o comunicado divulgado esta madrugada pelo Ministério das Finanças sobre a auditoria à gestão de BES e Novo Banco entre 1 de janeiro de 2000 e 31 de dezembro de 2018. O resultado: mais de 4.000 milhões de perdas para o Novo Banco, entre a resolução do BES, em agosto de 2014, e dezembro de 2018 - e o relatório a caminho da Procuradoria Geral da República.

A crise prolongada do capitalismo


Prabhat Patnaik [*]

Há uma visão habitual de que a actual crise do capitalismo, que resultou numa contracção maciça da produção e no aumento do desemprego, deve-se à pandemia e que uma vez ultrapassada esta as coisas voltarão ao "normal".

Esta visão é totalmente errada por duas razões. A primeira, que tem sido frequentemente discutida nesta coluna, tem a ver com o facto de que, mesmo antes da pandemia, a economia mundial estava a desacelerar. Na verdade, desde a crise financeira de 2008, após o colapso da bolha habitacional, a economia real do mundo nunca se recuperou plenamente. Pequenas recuperações foram seguidas rapidamente por colapsos e as baixas taxas de desemprego nos Estados Unidos, que haviam despertado o triunfalismo de Donald Trump, eram em grande medida explicáveis pela reduzida taxa de participação do trabalho após 2008. De facto, se assumirmos a mesma taxa de participação do trabalho em 2020 (pouco antes da pandemia), tal como a que prevalecia na véspera da crise financeira, então a taxa de desemprego nos EUA chega a ser de 8% – a comparar com os menos de 4% mencionados em números oficiais. [NT]

Esta desaceleração, por sua vez, foi o resultado do funcionamento do capitalismo neoliberal que aumentou maciçamente a fatia do excedente económico no produto, tanto dentro dos países como a nível mundial, ao manter inalterado o vector das taxas salariais reais, mesmo quando o vector das produtividades laborais aumentou; e este aumento na fatia do excedente, ou esta passagem de salários para excedente, reduziu o nível da procura agregada por bens de consumo e, por conseguinte, da procura agregada global, uma vez que os trabalhadores gastam mais no consumo por unidade de rendimento do que aqueles que auferem excedentes.

A pandemia verificou-se neste contexto, de modo que, mesmo depois de ter terminado, o mundo continuará preso à crise de superprodução que já o havia engolfado bem antes da pandemia. Para sair desta crise é necessário utilizar as despesas do Estado, desde que tais despesas sejam financiadas ou por impostos sobre os capitalistas ou por um défice orçamental. Despesas do Estado financiadas por impostos sobre os trabalhadores não ajudarão, uma vez que os trabalhadores consomem o grosso dos seus rendimentos de qualquer forma, de modo que a procura do Estado apenas substitui a procura dos trabalhadores sem aumentar a procura agregada.

Mas nem défices orçamentais nem impostos sobre capitalistas são do agrado do capital financeiro, de modo que a despesa do Estado como uma medida anti-crise está descartada. Isto significa que, mesmo depois de a pandemia estar acabada, não só a crise continuará como o fará sem quaisquer medidas que a contrariem, pelo menos enquanto o capitalismo perdurar. A crise portanto indica um beco sem saída para o capitalismo neoliberal.

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