Paulo Baldaia* | Diário de Notícias | opinião
O episódio do apoio do primeiro-ministro a um candidato à presidência do Benfica mostrou, uma vez mais, que os interesses dos homens do futebol prevalecem sobre o interesse geral. O mais importante acabou por ser a defesa de Luís Filipe Vieira. Já António Costa podia ser tratado como acabou por ser, enxotado como cão com pulgas. Não é de excluir (é até muito provável) que a expulsão dos políticos da comissão de honra tenha sido concertada, mas imaginar que o primeiro-ministro se deixou subalternizar deve deixar-nos ainda mais perplexos. Política e futebol são como água e azeite, não se misturam. Como a água, a política é mais densa e sempre que alguém insiste em misturá-los acontece que o futebol, como o azeite, fica por cima. A perversidade destas relações revela-se nisso mesmo, na pouca importância dos representantes do povo quando aceitam fazer parte do séquito.
As ligações de políticos no ativo a clubes de futebol não começou agora e não é um exclusivo de António Costa e do Benfica. Recentemente, por exemplo, vários autarcas entraram para o conselho superior do FCP e isso inibe-os (é suposto) de tomar decisões em que o clube tenha interesse. E, assim sendo, não estão a cumprir com eficácia a função para a qual foram eleitos. Tudo isto é verdade, mas não deveria servir para sossegar os espíritos dos cidadãos adeptos do clube de António Costa e Filipe Vieira. Tanto mais que este episódio tem uma gravidade acrescida.