segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

O novo velho continente e suas contradições: A nova esquerda na Europa

Publicado em português do Brasil

Celso Japiassu | Carta Maior

Ela está presente no Parlamento Europeu, onde faz ouvir a sua voz. Participou das mais recentes e disputadas eleições dos diversos países que formam a União Europeia. Esta nova esquerda, atuante e combativa, tem construído e fortalecido a confiança de que, como diz o tema do Fórum Social Mundial, um outro mundo é possível. Partidos como o espanhol Podemos, o grego Syriza, o França Insubmissa, o italiano Potere al Popolo ou o Bloco de Esquerda de Portugal têm compensado o clima de pessimismo que cobriu a Europa antes mesmo da pandemia que desestabilizou tudo, até as emoções de um mundo adoecido.

Em um continente que tem se inclinado para a direita, a ponto de possuir governos claramente neofascistas, tem também florescido uma esquerda combativa, moderna e consciente das contradições do mundo de hoje. Ela está presente no Parlamento Europeu, onde faz ouvir a sua voz. Participou das mais recentes e disputadas eleições dos diversos países que formam a União Europeia.

Esta nova esquerda, atuante e combativa, tem construído e fortalecido a confiança de que, como diz o tema do Fórum Social Mundial, um outro mundo é possível.

Partidos como o espanhol Podemos, o grego Syriza, o França Insubmissa, o italiano Potere al Popolo ou o Bloco de Esquerda de Portugal têm compensado o clima de pessimismo que cobriu a Europa antes mesmo da pandemia que desestabilizou tudo, até as emoções de um mundo adoecido.

Podemos (em catalão, Podem; em basco, Ahal Dugu) foi fundado em 2014. Neste mesmo ano participou das eleições europeias e obteve cinco cadeiras no Parlamento Europeu. Tem sido o partido mais seguido nas redes sociais e tem apresentado crescimento constante nas preferências eleitorais.

O partido mantem na sua representação e nos postos de direção a mesma proporção entre homens e mulheres. Recusa doações empresariais ou empréstimos bancários. O seu financiamento é feito por doações voluntárias. “A única dívida que temos é para com as pessoas, que são nossa fonte de financiamento”, diz Pablo Iglesias, o Secretário Geral e um dos cinco cofundadores do Podemos.

A coligação do Podemos com a Esquerda Unida deu origem ao Unidos Podemos, que por ironia da História possibilitou a formação do atual governo espanhol liderado pelo primeiro ministro Pedro Sanchez, do PSOE-Partido Socialista Operário Espanhol, um dos mais tradicionais partidos do país, fundado em 1879.


Grécia e França

O grego Syriza, Coligação da Esquerda Radical (em grego: Συνασπισμóς Ριζοσπαστικnς Αριστερáς, Synaspismós Rizospastikís Aristerás, abreviado SYRIZA), obteve nas últimas eleições, em julho de 2019, mais de 30 por cento dos votos e formou o novo governo do país. É uma frente comum de 13 diferentes partidos e organizações de esquerda que foi fundada em 2004. Transformou-se num único partido e em 2015 obteve uma expressiva vitória eleitoral dando posse a seu líder Alexis Tsipras como primeiro ministro. O crescimento da Syriza tem significado um protesto contra as políticas de austeridade e o crescimento dos partidos de extrema direita que têm assombrado a Grécia.

Inspirado pelo espanhol Podemos e pela campanha de Bernie Sanders nas presidenciais americanas, La France Insoumise resgatou as tradições francesas de esquerda num momento em que o país assiste com alguma perplexidade ao crescimento da extrema direita neofascista. Foi lançado em 2016 por Jean-Luc Mélenchon numa dissidência do Partido de Esquerda (Parti de Gauche-PG). Representando o novo partido, Mélenchon concorreu às eleições presidenciais de 2017 e obteve 19,58% dos votos.

La France Insoumise defende entre outras medidas uma reforma constitucional diminuindo os poderes do presidente da república, que considera um monarca constitucional pelas regras atuais. Advoga maior proteção para os trabalhadores, a implementação de um programa que conduza à utilização de uma energia cem por cento renovável, com o fechamento das centrais nucleares; a perda do mandato de representantes eleitos que descumpram promessas de campanha; a proteção de bens comuns como o ar, a água, alimento, moradia, saúde, energia e a própria moeda, que não podem se transformar em mercadorias. Defende também uma imediata retirada da França da OTAN de modo a evitar o envolvimento do país em guerras promovidas pelos Estados Unidos.

Itália e Portugal

Potere al Popolo-PaP (Poder para o Povo) é um movimento fundado na Itália em dezembro de 2017 e tem origem nas ações sociais de bairro, centros culturais e no chamado ativismo político de base. Recebeu a adesão do Partido da Refundação Comunista (em italiano Partito della Rifondazione Comunista, PRC ou simplesmente Rifondazione Comunista), do Partido Comunista Italiano e dos sindicatos filiados à Confederação de Sindicatos de Base (Cobas) e à União Sindical de Base (USB). Agregaram-se também em torno dele cerca de cem outras organizações, entre elas as de representação católicas e sociais e de defesa dos direitos de migrantes e dos trabalhadores precários. A porta voz Viola Carofalo diz que o PaP não é composto de políticos profissionais, mas de gente que faz política. Ela define o movimento como ativista de base, comitês e associações.

Jean-Luc Mélenchon, líder do França Insubmissa, considera Potere al Popolo o expoente da nova esquerda na Itália.

O Bloco de Esquerda em Portugal é hoje uma força política do país com 19 deputados na Assembleia da República e dois representantes no Parlamento Europeu. Francisco Louçã, um de seus dirigentes, talvez tenha sido quem melhor definiu a nova esquerda europeia: uma esquerda de luta para renovar a oposição e criar uma alternativa socialista que possa dirigir o país; recusar a civilização da injustiça e a globalização financeira para defender uma globalização da justiça; combater a OTAN e as guerras, organizar o movimento social, estabelecer os diálogos abertos que fazem a esquerda.

Alemanha

O alemão Die Linke (A Esquerda) surgiu em 2007 da fusão do Partido do Socialismo Democrático ( em alemão Partei des Demokratischen Sozialismus – PDS) com a Alternativa Eleitoral para o Trabalho e a Justiça Social (em alemão: Arbeit & soziale Gerechtigkeit – Die Wahlalternative, WASG). Tem diversas correntes internas das quais as mais expressivas são Esquerda Anticapitalista (Antikapitalistische Linke), Plataforma Comunista (Kommunistische Plattform, KPF), Forum do Socialismo Democrático (Forum demokratischer Sozialismus), Rede de Reforma da Esquerda (Netzwerk Reformlinke), Esquerda Emancipatória (Emanzipatorische Linke, Ema.Li) e a Esquerda Socialista (Sozialistische Linke).

Com 69 deputados, Die Linke é o quinto maior partido do Bundestag, o Parlamento alemão. Embora defenda o socialismo democrático, a imprensa do país o classifica como de extrema esquerda. Tem feito eventuais alianças com o Partido Comunista e o Partido Marxista-Leninista da Alemanha, que são independentes. O partido vê de forma negativa o regime da República Democrática Alemã, a antiga Alemanha Oriental, acusando a injustiça da política e do regime, a desconfiança do governo em relação ao seu próprio povo, a falta de democracia e de respeito pelos direitos civis além da incapacidade do sistema económico para satisfazer as necessidades de consumo da população.

O Partido da Esquerda Europeia (em inglês Party of the European Left (PEL), ou European Left), do qual já tratei algumas vezes nesta coluna, é a principal força de esquerda no Parlamento Europeu. Foi fundado em 2004, reúne socialistas, comunistas, ecologistas e diversos outros partidos de esquerda representando todos os 27 países que formam a União Europeia.

Em seu manifesto o PEL afirma que a Europa é um espaço de renascimento da luta por uma outra sociedade que vá além da lógica capitalista e patriarcal. O objetivo é o da emancipação humana, a libertação de homens e mulheres de todas as formas de opressão, exploração e exclusão.

Leia em Carta MaiorO Brics e a barbárie global das vacinas

Sem comentários:

Mais lidas da semana