Filomeno Manaças | Jornal deAngola | opinião
Os políticos Adalberto Costa Júnior, da UNITA, Abel Epalanga Chivukuvuku, do projecto PRA-JA Servir Angola, chumbado pelo Tribunal Constitucional, e Justino Pinto de Andradde, do Bloco Democrático, voltaram, na quarta-feira, a dar uma conferência de imprensa conjunta sobre as questões da actualidade do país. O tema do encontro com os jornalistas, desta vez, foi a proposta de revisão pontual da Constituição apresentada pelo Presidente João Lourenço.
A primeira conferência de imprensa do trio de políticos ocorreu a 18 de Fevereiro, na sequência do acto de rebelião protagonizado por um grupo de 300 cidadãos na vila de Cafunfo, a 30 de Janeiro, que consistiu numa tentativa, entretanto frustrada, de tomada de assalto e ocupação de um posto policial.
É normal, nas democracias, em qualquer parte do mundo, que políticos na
oposição estabeleçam alianças para fazer frente ao(s) partido(s) que esteja(m)
no poder, portanto, a governar. Até aqui, isso não é estranho, até porque temos
como exemplo no Parlamento angolano a CASA-CE, que é uma coligação de partidos
políticos, surgida em 2012, que, nas eleições realizadas nesse mesmo ano,
conseguiu fazer eleger oito (8) deputados, e, no pleito de 2017, duplicou o
número, passando para dezasseis (16).
Essas alianças reflectem, em certa medida, a dinâmica da actividade dos
partidos que fazem oposição, mais concretamente da sua forma de pensar os
acontecimentos políticos. Por outro lado, revelam também o peso, o quão forte é
a força política que está no comando dos destinos do país. A base das alianças
partidárias é, entretanto, fundamental para que o eleitor tenha uma percepção
clara dos propósitos das formações nelas envolvidas. E esses propósitos não
podem transmitir mensagens equivocadas em relação àquilo que é a História do
país, em relação aos factos marcantes da vida do país, e, no caso concreto de
Angola, em primeiro lugar, a luta contra o colonialismo português e toda a
sorte de humilhações que representava e, em segundo lugar, a luta para manter o
país como um Estado unitário, portanto, contra todas as tentativas de o dividir.
Mais grave do que isso é que, no aproveitamento político feito dos eventos de Cafunfo, sequer houve o cuidado de se demarcarem das pretensões de instalação de um protectorado
Se bem entendemos o que é um protectorado, tal significa o regresso do colonialismo ao país. Que Adalberto Costa Júnior, Abel Chivukuvuku e Justino Pinto de Andrade queiram ter algum protagonismo, é legítimo que assim seja, enquanto actores da cena política, mas, por favor, é preciso que saibam separar as águas. É que, diante desta realidade, somos obrigados a indagar-nos: além de Cafunfo, quantos mais protectorados a nova aliança política estaria pronta a apoiar?
A verdade é que muitos de nós ouvimos falar disso e não nos questionamos o real significado da palavra "protectorado”, sobre a questão de fundo que ele encerra, porque ao barulho dos acontecimentos se juntou o alvoroço feito pelo Adalberto, o Abel e o Justino, que atiraram mais achas à fogueira, pois o momento era propício para a oposição aparecer e capitalizar alguns apoios.
Mas, e então, a tão propalada defesa do carácter republicano das instituições
vai até ao ponto de alinhar com o ataque de um grupo de 300 cidadãos, afectos a
um movimento que defende um protectorado, contra uma dezena de agentes
policiais que foram obrigados a tudo fazer para não serem linchados? E aqui a
questão dos direitos humanos, que muitas vezes é colocada de forma obtusa,
impele-me a questionar: os agentes da autoridade, só pelo facto de envergarem
um uniforme, podem ser vítimas de sevícias sem reagir? Não são, também eles,
beneficiários dos direitos humanos?
Que a oposição esteja ansiosa por apear o MPLA do poder, é normal que nutra
esse desejo e que, no âmbito das disputas políticas, queira empenhar-se a
fundo. Mas, é preciso que haja alguma racionalidade. Há valores e princípios
que são intocáveis. O Estado unitário, o respeito pelas instituições que
representam a expressão do poder do Estado e o respeito pelos agentes da
autoridade são premissas de que não deve nunca abdicar quem quer ser Governo
amanhã.
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