domingo, 7 de março de 2021

Entre Deus e o Diabo. A história de André Ventura antes de ser líder do Chega

Fundamentalista religioso, usou cilício e autoinfligiu-se castigos corporais. A história de André Ventura antes de ser líder do Chega é um manual de como subir na vida

Nos gabinetes dos políticos costuma haver fotos com líderes e figuras históricas, retratos assinados de Papas e Presidentes em molduras de prata, mas em cima desta secretária nem sequer há uma imagem da família. André Ventura só tem uma foto na mesa, junto ao ecrã do computador, onde aparece ao lado do seu confessor e diretor espiritual, o padre Mário Rui Pedras, pároco de São Nicolau, uma igreja na Baixa lisboeta conhecida pelo conservadorismo — é um dos raros templos onde ainda são celebradas missas em latim — e que no último 1º de Maio apelou a um “sobressalto católico”, numa homilia noticiada por o sacerdote ter dito que é “a ‘geringonça’ que manda neste país” (a propósito da manifestação da CGTP). Este pequeno sinal revela muito sobre o líder do Chega, o primeiro deputado de um partido da direita radical, populista, com retórica exacerbada, racista e xenófoba, que parte da esquerda quer ilegalizar. Em pouco mais de dois anos, colocou-se no centro da discussão, misturou o estilo ofensivo de Trump e Bolsonaro com a escola dos debates desportivos, contribuiu para a quase extinção do CDS e está a baralhar as contas do PSD para o dia em que for preciso formar um Governo. O homem que há quatro anos era conhecido apenas pelos comentários da bola deve à religião aquilo em que se tornou, ou não passaria de mais um indignado taxista da linha de Sintra, a dizer mal de ciganos, de pretos e dos resultados do Benfica.

Tornou-se, aos 38 anos, no representante de uma massa de eleitores revoltados sem ideologia e num refúgio para ultraconservadores ou radicais de extrema-direita que não tinham teto político. Tal como tem acontecido com populistas noutros países — o estilo é semelhante mas as indignações variam com os preconceitos nacionais —, Ventura vai crescendo e já recolheu quase 500 mil votos nas presidenciais à custa de ressentimentos que indignam subúrbios, zonas onde moram ciganos e alguns bairros de classes altas. No dia 25 de fevereiro, minutos antes de descer do plenário e mostrar ao Expresso a foto emoldurada com o padre Mário, tinha feito Ana Catarina Mendes, líder parlamentar do PS, levar as mãos à cabeça enquanto esbracejava contra o Governo durante o debate sobre o estado de emergência, citando Pedro Passos Coelho, para embaraço do PSD e gargalhada da esquerda: “‘Não se põe um país a pão e água por mera precaução, deve-se fazê-lo apenas por patriotismo.’ Tenho medo, pena e vergonha que António Costa não aprenda com Passos Coelho aquilo que é gerir um país em tempos de crise”, proclamou. Depois, baixou ao gabinete, onde também há uma foto de Passos Coelho em cima de um armário, e falou durante 40 minutos sobre o seu percurso pessoal antes de fundar o Chega. A seguir, saiu à pressa para apanhar um avião com destino à Madeira, onde foi em campanha como candidato único à liderança do partido que fundou (cujas eleições são este sábado, dia 6 de março)… (CONTINUA)

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Artigo  da autoria de Vítor Matos, jornalista do Expresso, publicado ontem, 6 de Março. Texto exclusivo para assinantes do jornal Expresso. Imagem de José Fernandes, no enfoque de André Ventura com o castelo de Guimarães em fundo, um fascista armado em D. Afonso Henriques, por enquanto de espada embainhada mas suspirando pelo nazi-fascismo e respetiva xenofobia e racismo, de que tem dado já avultadas mostras.

MM | Redação PG

Para continuar, aceda AQUI ao artigo e ao Expresso

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