segunda-feira, 22 de março de 2021

Isentar, isentar, isentar… E esperar ‘recompensas’?

Sobre testar e a pandemia, as vacinas e a balbúrdia (dizemos nós) que por aqui vai (neste mundo), temos a seguir o Curto do Expresso. A lavra é de um editor-adjunto do jornal de referência lusa Expresso, a estimar. De nossa lavra (PG) só temos a salientar que as boas vindas ao testar, testar, testar pelo senhor editor-adjunto é excesso de otimismo de sua parte e até no vacinar, vacinar, vacinar o é. O querer muito, a boa vontade, infelizmente nunca é correspondida quando algo depende dos políticos. Esperemos ao menos que alguma percentagem do otimismo patente na prosa que aí vem, do querer e da vontade, seja tornada realidade.

De outra vontade e isenção escandalosa à EDP é a abordagem que se nos depara neste Curto. É taxativo que os portugueses não acham nadinha que a EDP deva ser isenta de cumprir o pagamento de imposto de selo. Muito menos se os valores são da casa de milhões de euros. Porque somos desconfiados lá vimos naquela isenção golpe, amizades, cunhas, favores e recompensas futuras dos que trabalharam para a “borla”. Estamos desconfiados, pois estamos. É que gato escaldado até tem medo de água fria. O mesmo será dizer que de golpadas estão os portugueses fartos e que os políticos são exímios nessas golpadas. Não todos, mas bastantes. Mais cedo que tarde constatamos que o fulano (político ou políticos) ascendeu a determinado ‘tachão’ por recompensa de ‘favores’ prestados… Ao longo das décadas desta espécie de democracia a falta de transparência tem sido descarada e sublime, nojenta e revoltante. Estamos desconfiados. Pois claro que estamos desconfiados. Isentar a EDP de pagar o devido imposto – na ordem de milhões de euros é de desconfiar da negociata, se assim concluirmos de facto. Dito, porque sentido e notado noutros “negócios” ao longo de décadas. Palavra de ordem: isentar, isentar, isentar. Sabido que quem paga são sempre os mesmos trouxas.

As práticas dúbias do bloco-central estão ativas (é um vício) pela socapa. Damos por elas e sente-se.

Registe-se que por nós, plebeus, estamos desconfiados, pois estamos.

Avançando, queremos convidar os que aqui nos lêem a inteirarem-se do constante no Curto que dá inicio a esta semana. Lavra de José Cardoso.

Registe-se que por nós, plebeus estamos desconfiados, pois estamos.

Deixamos aqui, a seguir, a prosa. A saudação e os votos de um bom dia e um queijo amanteigado - acompanhado de um vinho carrascão (forte) alentejano também aqui fica. Prazer dos que satisfazerem nossos votos é o que esperamos. Bom dia. Boa semana. Como é que faremos para que assim seja só depende de nós se soubermos adaptarmo-nos às circunstâncias (tretas).

Mário Motta | PG


Bom dia este é o seu Expresso Curto

Testar, testar, testar (agora é que é)

José Cardoso | Expresso

Aquilo que foi anunciado há muitos meses, ainda as vacinas estavam longe, como uma das medidas-chave para lutar contra a pandemia só agora avança em força. Refiro-me à palavra de ordem "testar, testar, testar".

As farmácias devem começar a vender hoje ou nos próximos dias autotestes à covid-19 e avança a vacinação de funcionários e professores de creches e escolas do 1.º ciclo.

VACINAR, VACINAR, VACINAR

Entretanto, é retomada esta segunda-feira em Portugal a inoculação com a vacina da AstraZeneca, que esteve suspensa durante alguns dias na maioria dos países da União Europeia depois de problemas de saúde registados (mas não foi descoberta qualquer ligação com a vacina) por algumas pessoas que a tinham tomado. Na quinta-feira, a Agência Europeia de Medicamentos tinha considerado a vacina segura.

O comentador Marques Mendes anunciou entretanto, este domingo à noite, no seu espaço de opinião na SIC, que a quarta vacina contra a covid-19, a da Johnson&Johnson, deve chegar na segunda quinzena de abril e permitirá vacinar 1 milhão e 250 mil pessoas em dois meses e meio.

Uma das questões que colocam mais dúvidas é quando é que cada país - e a Europa no seu conjunto - poderá alcançar a tão almejada imunidade coletiva. Ontem, o comissário europeu para o Mercado Interno, Thierry Breton, chegou-se à frente: "Temos uma data simbólica: 14 de julho".

Mas o que aconteceria se a união europeia se lançasse numa corrida para ver quem obtém mais vacinas e mais depressa? Ouça AQUI.

ARQUIVAR, ARQUIVAR, ARQUIVAR?

Os casos de vacinação indevida contra a covid-19 podem dar em nada. Quem o disse foi a própria ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, numa entrevista dada este domingo ao jornal Público. "Não será muito fácil fazer a avaliação do ponto de vista criminal", disse. E se a ministra o diz...

A PANDEMIA CÁ

Os números mais recentes estão AQUI e os gráficos e mapas nacionais mais atualizados AQUI.

A PANDEMIA LÁ

Alemanha e a Bélgica devem apertar e/ou prolongar o confinamento, ao aumento do número de casos. O Reino Unido bateu um novo recorde de vacinação diária: 873.784 pessoas. Ao mesmo tempo, especialistas britânicos advertiram o primeiro-ministro de que levantar as restrições a férias no estrangeiro nos próximos meses poderá desembocar num novo confinamento no próximo inverno. Em Itália foi autorizada a vacinação em farmácias.

OUTROS ASSUNTOS

EUROPA E PRESIDÊNCIA PORTUGUESA

Alemanha, Áustria, Suíça, Portugal, Reino Unido, Polónia, Finlândia e Suécia. Pelo menos nestes países europeus houve manifestações este sábado contra as medidas restritivas que têm sido impostas desde o arranque da pandemia, os efeitos na economia e o impacto na liberdade individual. A chamada fadiga da pandemia é geral e muitos são os que desesperam face a uma vida que tarda em voltar ao normal e ao empobrecimento que as restrições vão provocando.

O problema é que, por maior que seja o cansaço, a capacidade das infraestruturas de saúde nos vários países não é elástica e ainda vai ser preciso esperar bastante até que as vacinas cheguem, pelo menos, aos grupos de risco. O facto de muitas destas manifestações terem sido acompanhadas por ausência de máscara ou distanciamento físico não ajuda a que estes protestos suscitem grande empatia. Até porque muitos têm estado associados a movimentos negacionistas da pandemia ou a grupos de extrema-direita.

Este descontentamento acontece numa altura em que vários países europeus assistem a um disparar dos números, consequência dos efeitos das novas variantes e à semelhança do que aconteceu em Portugal no arranque do ano. Com a subida de casos, começam a verificar-se retrocessos em alguns estados-membros nos processos de desconfinamento.

FAÇA-SE LUZ, FAR-SE-Á LUZ?

A história de a EDP ter encontrado um estratagema para não pagar impostos devidos pela venda de barragens no Douro não dá mostras de amainar. Este domingo, o líder do PSD voltou à carga, acusando o ministro do Ambiente de se "mostrar descaradamente como advogado de defesa da EDP". No máximo, a cena do próximo capítulo será (se não ainda esta segunda-feira) amanhã, terça-feira, no Parlamento, onde o ministro Matos Fernandes promete levar documentos que "provam bem" que deputados do PSD que fizeram acusações mentiram.

EM BRAGA, HOUVE LUZ

O Benfica conseguiu este domingo alimentar o sonho de ir na próxima época às competições europeias, ao vencer o Braga (2-0) e passar para terceiro lugar da classificação da I Liga, onde tem agora 51 pontos, menos três que o Futebol Clube do Porto (que venceu em Portimão por 2-1) e menos 13 do que o líder, o Sporting (que ganhou por 1-0 ao Vitória de Guimarães)

DIA DA ÁRVORE, DIAS DAS ÁRVORES

Ontem, domingo, foi Dia da Árvore, e o Presidente Marcelo aproveitou para realçar a importância da floresta.

DIA DA POESIA, POESIA DOS DIAS

E foi também Dia da Poesia, que o Presidente Marcelo também aproveitou, como pode confirmar AQUI. Sabia que pode ler Camões em crioulo?

DIA DA ÁGUA

E hoje é Dia da Água.

JÁ ESTAVA COM SAUDADES?

Donald Trump deverá regressar em breve às redes sociais, no caso uma criada por ele próprio, depois de ter sido banido do Twitter - onde era um fala-barato - por incitamento ao assalto ao Capitólio.

QUE AZAR DE UM RAIO!

salvadorenha Katherine Díaz, campeã nacional de surf, era uma grande esperança para os jogos olímpicos. Morreu quando se preparava para entrar na água, para um treino, ao ser atingida por um raio.

FRASES

"O Ministro do Ambiente a pressionar a AT [Autoridade Tributária], a mostrar-se descaradamente como advogado de defesa da EDP e a contradizer o que o primeiro-ministro disse na Assembleia da República”
Rui Rio, líder do PSD, sobre o caso das barragens que a EDP vendeu

"Estava muita coisa em jogo, muitos interesses. Em Portugal temos a perceção de que os lugares de cima estão para os ditos três grandes. Vai ter de mudar."
António Salvador, presidente do SC Braga, criticou desta forma a arbitragem do jogo em que a sua equipa perdeu por 2-0 frente ao Benfica, ontem à noite, descendo para o 4.º lugar da Liga

“Se o Estado quiser ser acionista dos CTT é fácil, é comprar ações”
João Bento, presidente executivo dos CTT

O QUE ANDO A LER

Nesta rubrica, vou fazer desta vez uma pequena provocação (ou será que não?).Como podemos falar dos livros que não lemos? Segundo um postulado implícito na nossa cultura, é necessário ter lido um livro para se falar dele com alguma propriedade. No entanto...

No entanto, há quem defenda que é perfeitamente possível manter uma conversa apaixonante sobre um livro que não seu leu, incluindo - e talvez sobretudo - com alguém que também não o leu. Mais: há também quem advogue que para se falar de um livro com rigor talvez seja mesmo conveniente que este não tenha sido lido na totalidade ou, porventura, nem sequer tenha sido aberto.

Para se falar dos livros que não lemos, há várias técnicas e truques.Umberto Eco, por exemplo, diz que não é, de todo, necessário ter um livro nas mãos para se falar dele em pormenor, com a condição de ouvir e de ler o que outros leitores dizem sobre ele. Já Oscar Wilde afirmava que o tempo máximo indicado para a leitura de um livro são seis minutos. Wilde defendia, aliás, que há uma categoria de livros que, sendo tão maus, seria importante dissuadir as pessoas de ler, "uma necessidade eminente de uma época como a nossa, uma época que lê tanto que não tem tempo para admirar e que escreve tanto que não tem tempo para refletir".

Para muitos escritores e adeptos da não-leitura - como Paul Valery, que até foi membro da Academia Francesa - ser culto não é ter lido este ou aquele livro (que será sempre um grão de areia, por muitos e muitos que sejam lidos), é saber orientar-se na totalidade dos livros, tercapacidade para situar cada elemento relativamente aos outros.

É em suma, ter uma boa "visão geral" do mundo da literatura, como a do bibliotecário de "O homem sem qualidades". Apesar de nunca ter aberto um livro, esta personagem secundária do romance do escritor austríaco Robert Musil não se coibia de conhecer e de falar dos livros da gigantesca biblioteca de que era organizador e guardião.E quando o general Stumm, que o visita, fica abismado com o seu conhecimento, o bibliotecário responde-lhe: "Meu general, quer saber como é que consigo conhecer cada um destes livros? Nada me impede de lho dizer: é porque não leio nenhum".

Perante o espanto do interlocutor, o homem explica: "O segredo de todo o bom bibliotecário é o de apenas ler, de entre toda a literatura que lhe é confiada, os títulos e os índices".Se "meter o nariz nos livros, nunca poderá ter uma visão geral". O bibliotecário de Musil lia muito, mas os catálogos sobre os livros, não os próprios livros.

Títulos, índices, resenhas, críticas, ler o que outros escrevem e ouvir o que outros dizem - eis, em suma, a fórmula para falarmos dos livros que não lemos.

E a primeira condição condição para se falar de um livro que não seu leu é - segundo o romancista David Lodge, não sentir vergonha de o fazer.

Posto isto, devo dizer que o que está escrito acima não são deambulações minhas - tirei tudo do livro "Como falar dos livros que não lemos?", de Pierre Bayard, com que topei ao vaguear o olhar pela estante depois de me lembrar que estava a chegar a minha vez de servir o Expresso Curto. Nem o autor é um desses vivaços que escrevem sobre tudo-e-mais-alguma-coisa-ou-sobre-coisa-nenhuma para terem nome e/ou proveito nem o livro é uma obra das do tipo autoajuda ou "saiba como impressionar os amigos".

Pierre Bayard é (além de psicanalista) professor de Literatura Francesa na Universidade Paris VIII e já publicou mais de uma dúzia de obras. E este seu livro é um interessante ensaio sobre "as diferentes maneiras de... não ler um livro e as estratégias a adotar para sair airosamente das situações delicadas em que é preciso falar de livros que não se leram" - para citar, já agora, o que está escrito na badana.

Aliás, Bayard não tem pejo em dizer que, sendo professor de Literatura na Universidade, não pode fugir à obrigação de comentar livros que, a maior parte das vezes, nem sequer chegou a abrir.

Como eu também ainda nao tinha aberto "Como falar dos livros que não lemos?", peguei nele e fui lê-lo (ou será que não...?)

Deixo o caro leitor com a dúvida. E com a certeza de que, se quiser estar bem informado, convém navegar por AQUI, por ALI, por ACOLÁ e por ALÉM.

Tenha um bom dia e uma semana melhor.

Gostou do Expresso Curto de hoje?

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