#Publicado em português do Brasil
Celso Japiassu | Carta Maior
A representação ao Tribunal
Penal Internacional denuncia também o boicote do governo Bolsonaro ao Sistema
Único de Saúde (SUS) e a expulsão dos médicos cubanos, enfatizando a crise
sanitária que tem desestabilizado o país. Além de não ter apresentado qualquer
plano para enfrentar a pandemia, diz a denúncia, Bolsonaro impediu que o
Congresso Nacional tomasse iniciativas nesse sentido.
Caso o tribunal aceite a denúncia, Jair Bolsonaro poderá vir a fazer parte de
uma nata de criminosos já julgados e sentenciados pelo Tribunal Penal
Internacional.
O Tribunal Penal Internacional (International Criminal Court) está em processo
de análise da denúncia contra Jair Bolsonaro, acusado de incitar o genocídio e
promover ataques sistemáticos contra os povos indígenas do Brasil, além da
exposição dos cidadãos brasileiros à covid-19, estimulando o contágio e a
proliferação do vírus. O tribunal, sediado em Haia, na Holanda, informou que
está fazendo essa análise o mais rapidamente possível mas ainda levará algum
tempo até a eventual decisão de abertura de julgamento. As penas previstas
variam de até 30 anos de prisão a prisão perpétua em casos extremos. Há também
a possibilidade de outras penas como multas e perda de bens.
A denúncia contra o presidente
brasileiro foi feita pela Comissão Arns e o Coletivo de Advocacia
A ação com mais de setenta páginas enumera uma série de ações, pronunciamentos
e omissões de Bolsonaro tanto em relação aos indígenas quanto ao meio ambiente,
responsáveis pelo país bater novos recordes de desmatamento e por aumentar as
ameaças contra povos originários.
O Tribunal Penal Internacional foi criado por 106 países, entre eles
o Brasil, para o julgamento de acusados de crimes de interesse internacional,
como genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra. As acusações
contra Bolsonaro inserem-se nos objetivos do tribunal.
Outros julgamentos
Caso o tribunal aceite a denúncia, Jair Bolsonaro poderá vir a fazer parte de uma nata de criminosos já julgados e sentenciados pelo Tribunal Penal Internacional.
Augustin Bizimungu, de Ruanda, comandante do Estado Maior do Exército, foi considerado culpado pelo assassínio de 800 mil pessoas da etnia tutsi. Estimulou o genocídio com seus discursos radicais. Condenado a 30 anos de prisão.
Ante Gotovina foi general do exército da Croácia e condenado a 24 anos de prisão por crimes de guerra e contra a humanidade junto à população sérvia. Foi julgado responsável pela morte de civis e soldados que depuseram armas. Seu julgamento durou quase um ano.
Gaspard Kanyarukiga, empresário e
chefe de milícia de Ruanda, foi condenado a 30 anos de prisão por envolvimento
no massacre de dois mil tutsis. Foi considerado culpado dos crimes de
genocídio, extermínio e crimes contra a humanidade.
O ex-tenente-coronel Vujadin Popovic e o ex-coronel Ljubisa Beara foram
condenados a prisão perpétua pelos crimes de genocídio, extermínio, homicídios
e perseguições durante a guerra da Bósnia, na ex-Iuguslávia. Outros cinco
oficiais também foram condenados no mesmo processo.
Radovan Karadzic foi presidente da autoproclamada República Sérvia. Capturado
depois de passar doze anos como fugitivo, respondeu perante o Tribunal Penal
Internacional por crimes de guerra, genocídio e crimes contra a humanidade
durante a Guerra da Bósnia e o cerco de Sarajevo. Foi sentenciado a 40 anos de
prisão, recorreu e sua pena foi aumentada para prisão perpétua.
Dragomir Milosevic, general servo-bósnio, condenado a 33 anos de prisão por
terrorismo, crimes de guerra, assassinato, atos desumanos e crimes contra a
humanidade. Responsável pelo ataque a um mercado de Sarajevo que causou a morte
de 34 civis e outros 78 ficaram feridos.
Existem outras dezenas de casos de genocidas numa galeria de criminosos
condenados pelo Tribunal Penal Internacional da qual Bolsonaro poderá vir a
fazer parte, se forem julgadas procedentes as alegações que deram motivo à
denúncia apresentada pela Comissão Arns e o Coletivo de Advocacia
Boicote
A representação ao Tribunal Penal Internacional denuncia também o boicote do
governo Bolsonaro ao Sistema Único de Saúde (SUS) e a expulsão dos médicos
cubanos, enfatizando a crise sanitária que tem desestabilizado o país. Além de
não ter apresentado qualquer plano para enfrentar a pandemia, diz a denúncia,
Bolsonaro impediu que o Congresso Nacional tomasse iniciativas nesse sentido.
“Os vetos do presidente, diz o texto da denúncia, tiram o acesso a um
tratamento de saúde digno neste momento de pandemia, tiram o acesso à água
potável, à ajuda emergencial, a cestas básicas”.
Um dos vetos impediu que populações indígenas tivessem possibilidade de água
potável. As taxas de infecção e mortalidade desse grupo é duas vezes maior ao
restante da população brasileira.
Texto inserido em “O novo velho continente e suas contradições”, de Carta Maior
Imagem: Antonio Lacerda/EFE
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