Bom dia este é o seu Expresso Curto
Os fantasmas foram à festa
João Cândido da Silva | Expresso
Bom dia,
Marcelo Rebelo de Sousa distanciou-se dos temas quentes que marcam a
actualidade. Corrupção e justiça passaram ao lado da intervenção do
Presidente da República durante a celebração dos 47 anos do 25 de Abril,
que decorreu neste domingo na Assembleia da República. Só
o PS, sem surpresa, acompanhou o silêncio do Chefe de Estado sobre a
corrosão que ajuda a explicar a descrença dos eleitores na democracia e naqueles que
exercem o poder, o terreno onde cresce o populismo de direita e de esquerda.
Clientelismo e assalto ao aparelho do Estado pelos detentores do cartão do
partido que está no poder também ficaram na gaveta. E o mesmo sucedeu ao desprezo
da 'bazuca' europeia pelo investimento do sector privado e pela capitalização
das empresas. O Presidente decidiu fazer um discurso com objectivos
pacificadores. Resultou, pelo menos no interior dos meios políticos. De todo o
lado choveram aplausos, elogios, encómios e saudações. Até Bloco de Esquerda e
PCP entraram na dança.
Há algumas boas razões para o consenso. Marcelo tocou, de forma inteligente e corajosa, no trauma não
resolvido da Guerra Colonial. Disse aquilo que é de elementar bom senso: não se
deve olhar para o passado a partir dos pontos de vista actuais e tem de se
evitar o "culto acrítico" e a "demolição global".
"Nunca Portugal foi perfeito", afirmou.
"Um Presidente preocupado com o ar dos tempos. E um discurso inteiro
para agregar, contra radicalismos e exclusões. Marcelo fugiu às polémicas do
momento e focou-se na 'big picture' do que mais o preocupa", resume Ângela Silva na análise às mensagens que o
Presidente da República lançou a partir do Parlamento. Sobre a democracia plena
que apenas uma minoria acredita existir em Portugal, Marcelo assumiu uma
explicação: "nunca foi resolvida a pobreza estrutural de dois milhões de
portugueses".
Se o Presidente os ignorou, os espectros não deixaram de estar presentes na
cerimónia que assinalou o nascimento do regime. "Quarenta e sete anos
depois da Revolução, o 25 de Abril foi celebrado no Parlamento assombrado
por dois fantasmas - o da corrupção e o do julgamento de José Sócrates -,
causas e efeitos para palavras menos laudatórias sobre o estado da democracia:
o regime está 'doente', ouviu-se um par de vezes", escreve Vítor Matos a propósito das intervenções
dos partidos da oposição. Para o PS, sobrou o embaraço de um tema mal
resolvido e a vontade de manter as assombrações debaixo do tapete.
EUROPA E A PRESIDÊNCIA PORTUGUESA
Bruxelas está confiante na livre circulação na Europa durante o Verão. A
esperança reside na "intenção
real" de os países levantarem restrições às viagens devido
à evolução da pandemia, às taxas de vacinação e aos avanços na criação do
certificado verde digital. O comissário europeu da Justiça, Didier
Reynders, destacou, em entrevista à Lusa, o "trabalho ativo" da
presidência portuguesa para avançar rapidamente no livre-trânsito que irá
permitir o relançamento das atividades turísticas.
A Comissão Europeia vai disponibilizar 49 milhões de euros para a
criação do certificado. Vinte e sete milhões de euros serão mobilizados para
infraestruturas tecnológicas dos Estados-membros. Apesar de este livre-trânsito
digital ser criado pelo executivo comunitário, cada país terá de
criar soluções tecnológicas nacionais para, por exemplo, ler o código QR e
verificar a autenticidade do certificado e de outras informações.
OUTRAS NOTÍCIAS
"Nomadland", de Chloé Zhao, confirmou as expectativas e foi o
grande vencedor da edição de 2021 dos Óscares, durante a
cerimónia de revelação e entrega dos cobiçados prémios que decorreu neste
domingo, madrugada de segunda-feira
Aqui pode consultar a lista completa dos
vencedores e aqui pode ficar a conhecer as escolhas dos leitores do
Expresso.
"Mais uma Rodada" foi o título que venceu o Óscar para o melhor
filme internacional. Em entrevista ao Expresso, Thomas Vinterberg,
realizador dinamarquês, explica como surgiu a ideia para esta obra.
"Bastou-nos olhar à nossa volta. 'Mais Uma Rodada' também é um retrato do
nosso país. Nós bebemos imenso na Dinamarca, é um facto. Sei bem que isto
pouco tem a ver com o discurso oficial sobre a nossa vida equilibrada e
saudável. A verdade é que há um fosso entre esse discurso e o nosso
comportamento. É como se quiséssemos mostrar ser qualquer coisa que não
somos."
Na competição pelo melhor argumento original, o destaque foi para "Uma Miúda com Potencial",
da realizadora britânica Emerald Fennel, enquanto Anthony Hopkins arrebatou
a estatueta para melhor actor pelo desempenho em "O Pai", filme que
proporcionou a Florian Zeller o prémio de melhor argumento adaptado.
Num quadro global de pandemia de covid-
Neste domingo, Portugal registou seis mortes atribuídas à covid-19 e 478 novos
casos de infecção, de acordo com o boletim diário da Direcção-Geral da
Saúde. Os números mantêm-se moderados, mas há notícia de comportamentos fora
das regras que estão
A jogar em posição de inferioridade numérica a partir dos 18 minutos,
o Sporting conseguiu vencer o Braga e manter-se isolado
no comando da Liga Nos. No final, Rúben Amorim, treinador dos leões, afirmou: "A partir dos 20 minutos não houve jogo:
houve uma equipa a atacar e outra a defender e tentar sair". Carlos
Carvalhal, técnico da equipa minhota, fez outra leitura: o "Sporting sai daqui com uma
vitória muito feliz".
Em Cuba, manifestantes pediram o
fim do embargo norte-americano. Nalguns locais dos Estados Unidos, também
houve protestos destinados a fazer a mesma reivindicação.
“O nosso helicóptero continua a bater recordes, voando mais rápido e mais
longe”, escreveu a
agência espacial norte-americana na rede social Twitter. Foi desta forma que a NASA assinalou,
neste domingo, o terceiro voo do primeiro aparelho concebido pela humanidade
para conseguir voar noutro mundo.
FRASES
“Há uma espécie de campeonato para saber qual é o partido mais anticorrupção”, Luís
Marques Mendes
“Acho que a civilização humana e a própria tecnologia são em grande medida manipulações da Natureza. Há a
ideia de que o que é natural é bom, mas o que é natural também pode ser muito
mau. O coronavírus é natural. A varíola é natural e matou milhões de pessoas; a
malária também”. João Pedro de Magalhães
O QUE ANDO A LER
A leitura de uns livros conduz à leitura de muitos outros. Um exemplo? “O
Infinito num Junco”, de Irene Vallejos, desperta curiosidade sobre
diversas outras obras. Entre as numerosas referências, surge a de “Andanças com
Heródoto”, do jornalista polaco Ryszard Kapuscinski. Enviado para a Índia,
quando a Polónia vivia isolada sob uma ditadura comunista, o repórter levou um
exemplar de “Histórias” que lhe foi oferecido pela chefe de redacção. O homem
que apenas tinha sonhado desfrutar da pequena liberdade de poder atravessar uma
fronteira, qualquer fronteira, nunca mais o largou.
Dos escritos de Heródoto, Kapuscinski apreendeu o espírito de repórter que
animou as viagens do autor grego em busca das diferentes versões dos conflitos
que investigou. E registou a dimensão curta do mundo
Tal como Kapuscinski, Trinh Xuan Thuan sabe que a Terra é um lugar
bem diferente daquele que Heródoto percorreu e pesquisou em busca de histórias.
Maior do que aquilo que se pensava, mais periférica do que aquilo em que se
acreditava. Não admira. Thuan é um astrofísico que escreve 2.400 anos depois
dos périplos de Heródoto. “A Vertigem do Cosmos, Uma Breve História do Céu” é
um livro esclarecedor. Não se trata apenas de conhecer a origem e a evolução do
Universo, mas de saber como a relação entre os seres humanos e aquilo que lhes
escapa, os intriga e deslumbra, foi evoluindo.
Trinh Xuan Thuan é um divulgador científico competente. Sabe explicar matérias
complexas e não foge às questões para as quais a ciência ainda não tem
respostas. Atravessa a história da investigação, com os seus heróis, fracassos
e sucessos, mas começa e acaba com uma das mais intrigantes questões: qual é o
lugar da espiritualidade entre a especulação científica e a natureza exacta da
astrofísica? A escola de divulgação científica de Carl Sagan está bem entregue.
O QUE ANDO A OUVIR
“Two Roses”, Avishai Cohen. Na base desta gravação está o trio integrado
pelo contrabaixista israelita, pelo baterista Mark Guiliana e pelo pianista
Elchin Shirinov. Mas a música vai muito para além desta pequena banda. A
Gothenburg Symphony Orchestra junta-se aos três músicos para criar uma obra
feita de espaços amplos, por vezes épica, num cruzamento entre o sinfonismo, o
jazz e as tradições provenientes de diversos pontos do globo. Um trabalho
notável.
“Two Maybe More”, Pedro Moreira Sax Ensemble. A carreira de Pedro
Moreira é longa, mas este é apenas o segundo álbum que assina como líder. Oito
saxofonistas e uma secção rítmica resumida a bateria e contrabaixo erguem a
música que se ouve neste registo. Uma banda coesa, inspirada, rigorosa, que
reinventa temas compostos para um espectáculo de dança que subiu à cena há oito
anos. O espaço para o improviso é condicionado, mas as composições são
irresistíveis e os arranjos andam pela perfeição.
“Hero Trio”, Rudresh Mahanthappa. Se gosta de ouvir música tocada com o
fulgor de quem espera que não haja amanhã pode confiar
“À Deriva”, Luís Figueiredo. Este é o primeiro álbum
E é tudo. Acompanhe a actualidade no Expresso, Tribuna e Blitz. Espreite as sugestões do Boa Cama Boa Mesa e tenha
um excelente dia.
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