segunda-feira, 26 de abril de 2021

25 de Abril: FESTA, BLÁ BLÁ BLÁ, FANTASMAS E BOA COMIDINHA

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Os fantasmas foram à festa

João Cândido da Silva | Expresso

Bom dia,

Marcelo Rebelo de Sousa distanciou-se dos temas quentes que marcam a actualidade. Corrupção e justiça passaram ao lado da intervenção do Presidente da República durante a celebração dos 47 anos do 25 de Abril, que decorreu neste domingo na Assembleia da República. Só o PS, sem surpresa, acompanhou o silêncio do Chefe de Estado sobre a corrosão que ajuda a explicar a descrença dos eleitores na democracia e naqueles que exercem o poder, o terreno onde cresce o populismo de direita e de esquerda.

Clientelismo e assalto ao aparelho do Estado pelos detentores do cartão do partido que está no poder também ficaram na gaveta. E o mesmo sucedeu ao desprezo da 'bazuca' europeia pelo investimento do sector privado e pela capitalização das empresas. O Presidente decidiu fazer um discurso com objectivos pacificadores. Resultou, pelo menos no interior dos meios políticos. De todo o lado choveram aplausos, elogios, encómios e saudações. Até Bloco de Esquerda e PCP entraram na dança.

Há algumas boas razões para o consenso. Marcelo tocou, de forma inteligente e corajosa, no trauma não resolvido da Guerra Colonial. Disse aquilo que é de elementar bom senso: não se deve olhar para o passado a partir dos pontos de vista actuais e tem de se evitar o "culto acrítico" e a "demolição global". "Nunca Portugal foi perfeito", afirmou.

"Um Presidente preocupado com o ar dos tempos. E um discurso inteiro para agregar, contra radicalismos e exclusões. Marcelo fugiu às polémicas do momento e focou-se na 'big picture' do que mais o preocupa", resume Ângela Silva na análise às mensagens que o Presidente da República lançou a partir do Parlamento. Sobre a democracia plena que apenas uma minoria acredita existir em Portugal, Marcelo assumiu uma explicação: "nunca foi resolvida a pobreza estrutural de dois milhões de portugueses".

Se o Presidente os ignorou, os espectros não deixaram de estar presentes na cerimónia que assinalou o nascimento do regime. "Quarenta e sete anos depois da Revolução, o 25 de Abril foi celebrado no Parlamento assombrado por dois fantasmas - o da corrupção e o do julgamento de José Sócrates -, causas e efeitos para palavras menos laudatórias sobre o estado da democracia: o regime está 'doente', ouviu-se um par de vezes", escreve Vítor Matos a propósito das intervenções dos partidos da oposição. Para o PS, sobrou o embaraço de um tema mal resolvido e a vontade de manter as assombrações debaixo do tapete.

EUROPA E A PRESIDÊNCIA PORTUGUESA

Bruxelas está confiante na livre circulação na Europa durante o Verão. A esperança reside na "intenção real" de os países levantarem restrições às viagens devido à evolução da pandemia, às taxas de vacinação e aos avanços na criação do certificado verde digital. O comissário europeu da Justiça, Didier Reynders, destacou, em entrevista à Lusa, o "trabalho ativo" da presidência portuguesa para avançar rapidamente no livre-trânsito que irá permitir o relançamento das atividades turísticas.

A Comissão Europeia vai disponibilizar 49 milhões de euros para a criação do certificado. Vinte e sete milhões de euros serão mobilizados para infraestruturas tecnológicas dos Estados-membros. Apesar de este livre-trânsito digital ser criado pelo executivo comunitário, cada país terá de criar soluções tecnológicas nacionais para, por exemplo, ler o código QR e verificar a autenticidade do certificado e de outras informações.

OUTRAS NOTÍCIAS

"Nomadland", de Chloé Zhao, confirmou as expectativas e foi o grande vencedor da edição de 2021 dos Óscares, durante a cerimónia de revelação e entrega dos cobiçados prémios que decorreu neste domingo, madrugada de segunda-feira em Portugal. O filme aborda a vida de cidadãos norte-americanos sexagenários e septuagenários e que "se descobriram numa situação social absolutamente insustentável a partir do crash económico de 2008", explica Francisco Ferreira. Arrecadou as estatuetas para melhor filme, melhor realização e melhor actriz, três distinções que se juntam a muitas outras desde que conquistou um Leão de Ouro em Veneza 2020, sublinha Vasco Baptista Marques.

Aqui pode consultar a lista completa dos vencedores e aqui pode ficar a conhecer as escolhas dos leitores do Expresso.

"Mais uma Rodada" foi o título que venceu o Óscar para o melhor filme internacional. Em entrevista ao Expresso, Thomas Vinterberg, realizador dinamarquês, explica como surgiu a ideia para esta obra. "Bastou-nos olhar à nossa volta. 'Mais Uma Rodada' também é um retrato do nosso país. Nós bebemos imenso na Dinamarca, é um facto. Sei bem que isto pouco tem a ver com o discurso oficial sobre a nossa vida equilibrada e saudável. A verdade é que há um fosso entre esse discurso e o nosso comportamento. É como se quiséssemos mostrar ser qualquer coisa que não somos."

Na competição pelo melhor argumento original, o destaque foi para "Uma Miúda com Potencial", da realizadora britânica Emerald Fennel, enquanto Anthony Hopkins arrebatou a estatueta para melhor actor pelo desempenho em "O Pai", filme que proporcionou a Florian Zeller o prémio de melhor argumento adaptado.

Num quadro global de pandemia de covid-19, a cerimónia de entrega dos Óscares foi diferente. João Miguel Salvador seleccionou os momentos-chave da noite e explica o que mudou para que o evento se pudesse proteger dos riscos colocados pelo coronavírus. Se pretende ver os filmes que foram protagonistas da cerimónia, fique a saber onde os pode encontrar.

Neste domingo, Portugal registou seis mortes atribuídas à covid-19 e 478 novos casos de infecção, de acordo com o boletim diário da Direcção-Geral da Saúde. Os números mantêm-se moderados, mas há notícia de comportamentos fora das regras que estão em vigor. No Porto, a PSP teve de intervir numa festa ilegal.

A jogar em posição de inferioridade numérica a partir dos 18 minutos, o Sporting conseguiu vencer o Braga e manter-se isolado no comando da Liga Nos. No final, Rúben Amorim, treinador dos leões, afirmou: "A partir dos 20 minutos não houve jogo: houve uma equipa a atacar e outra a defender e tentar sair". Carlos Carvalhal, técnico da equipa minhota, fez outra leitura: o "Sporting sai daqui com uma vitória muito feliz".

Em Cuba, manifestantes pediram o fim do embargo norte-americano. Nalguns locais dos Estados Unidos, também houve protestos destinados a fazer a mesma reivindicação.

“O nosso helicóptero continua a bater recordes, voando mais rápido e mais longe”, escreveu a agência espacial norte-americana na rede social Twitter. Foi desta forma que a NASA assinalou, neste domingo, o terceiro voo do primeiro aparelho concebido pela humanidade para conseguir voar noutro mundo.

FRASES

“Há uma espécie de campeonato para saber qual é o partido mais anticorrupção”, Luís Marques Mendes

“Acho que a civilização humana e a própria tecnologia são em grande medida manipulações da Natureza. Há a ideia de que o que é natural é bom, mas o que é natural também pode ser muito mau. O coronavírus é natural. A varíola é natural e matou milhões de pessoas; a malária também”. João Pedro de Magalhães

O QUE ANDO A LER

A leitura de uns livros conduz à leitura de muitos outros. Um exemplo? “O Infinito num Junco”, de Irene Vallejos, desperta curiosidade sobre diversas outras obras. Entre as numerosas referências, surge a de “Andanças com Heródoto”, do jornalista polaco Ryszard Kapuscinski. Enviado para a Índia, quando a Polónia vivia isolada sob uma ditadura comunista, o repórter levou um exemplar de “Histórias” que lhe foi oferecido pela chefe de redacção. O homem que apenas tinha sonhado desfrutar da pequena liberdade de poder atravessar uma fronteira, qualquer fronteira, nunca mais o largou.

Dos escritos de Heródoto, Kapuscinski apreendeu o espírito de repórter que animou as viagens do autor grego em busca das diferentes versões dos conflitos que investigou. E registou a dimensão curta do mundo em que Heródoto viveu, restringido à região leste do Mediterrâneo e um pouco mais além, o horizonte do planeta que era conhecido e que alimentou as ambições de reis e de imperadores. A Terra não passava de um modesto círculo rodeado de mar, suspenso algures no espaço. Nos céus, habitavam os deuses.

Tal como Kapuscinski, Trinh Xuan Thuan sabe que a Terra é um lugar bem diferente daquele que Heródoto percorreu e pesquisou em busca de histórias. Maior do que aquilo que se pensava, mais periférica do que aquilo em que se acreditava. Não admira. Thuan é um astrofísico que escreve 2.400 anos depois dos périplos de Heródoto. “A Vertigem do Cosmos, Uma Breve História do Céu” é um livro esclarecedor. Não se trata apenas de conhecer a origem e a evolução do Universo, mas de saber como a relação entre os seres humanos e aquilo que lhes escapa, os intriga e deslumbra, foi evoluindo.

Trinh Xuan Thuan é um divulgador científico competente. Sabe explicar matérias complexas e não foge às questões para as quais a ciência ainda não tem respostas. Atravessa a história da investigação, com os seus heróis, fracassos e sucessos, mas começa e acaba com uma das mais intrigantes questões: qual é o lugar da espiritualidade entre a especulação científica e a natureza exacta da astrofísica? A escola de divulgação científica de Carl Sagan está bem entregue.

O QUE ANDO A OUVIR

“Two Roses”, Avishai Cohen. Na base desta gravação está o trio integrado pelo contrabaixista israelita, pelo baterista Mark Guiliana e pelo pianista Elchin Shirinov. Mas a música vai muito para além desta pequena banda. A Gothenburg Symphony Orchestra junta-se aos três músicos para criar uma obra feita de espaços amplos, por vezes épica, num cruzamento entre o sinfonismo, o jazz e as tradições provenientes de diversos pontos do globo. Um trabalho notável.

“Two Maybe More”, Pedro Moreira Sax Ensemble. A carreira de Pedro Moreira é longa, mas este é apenas o segundo álbum que assina como líder. Oito saxofonistas e uma secção rítmica resumida a bateria e contrabaixo erguem a música que se ouve neste registo. Uma banda coesa, inspirada, rigorosa, que reinventa temas compostos para um espectáculo de dança que subiu à cena há oito anos. O espaço para o improviso é condicionado, mas as composições são irresistíveis e os arranjos andam pela perfeição.

“Hero Trio”, Rudresh Mahanthappa. Se gosta de ouvir música tocada com o fulgor de quem espera que não haja amanhã pode confiar em Rudresh Mahanthappa. O músico pega no saxofone alto e conduz as bandas que lidera com o espírito inquieto e aventureiro que caracteriza as mentes inconformadas. Mahanthappa é um mestre na construção de temas cativantes, que acaba por desconstruir com a mesma sabedoria. Nesta gravação, acompanhado por François Moutin, no contrabaixo, e Rudy Royston, na bateria, presta homenagem àqueles que são os seus heróis, de Charlie Parker a Ornette Coleman, com algumas surpresas pelo meio.

“À Deriva”, Luís Figueiredo. Este é o primeiro álbum em que Luís Figueiredo dispensa companhia. A sós com o piano, lança-se numa viagem que funde referências melódicas clássicas e composições mais cerebrais, tudo conjugado com aquele aroma português a melancolia que ninguém sabe definir e que apenas se sente. Bernardo Sassetti, Mário Laginha, João Paulo Esteves da Silva e muitos outros: Portugal é o berço de excelentes pianistas e Luís Figueiredo segue a tradição.

E é tudo. Acompanhe a actualidade no Expresso, Tribuna e Blitz. Espreite as sugestões do Boa Cama Boa Mesa e tenha um excelente dia.

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