quarta-feira, 28 de abril de 2021

Índia acusada de encobrir números, com mortos a ser cremados ao ar livre

Imagens dos crematórios improvisados ao livre colocam em causa números revelados pela Índia. Avisamos o leitor que as fotografias presentes na galeria, embora não explícitas, podem ferir suscetibilidades. (VER)

A Índia, que se debate com falta de oxigénio e de recursos para combater a segunda vaga da pandemia, tem reportado números recorde de novas infeções e de mortes, mas há cada vez mais relatos que levam a crer que o país poderá estar a ocultar o verdadeiro impacto do novo coronavírus.

Com uma população de 1,3 mil milhões de habitantes, a Índia está a braços com um surto devastador. Só em abril, o país registou quase seis milhões de novos casos.

A explosão do número de casos, atribuída a uma variante do vírus detetada na Índia e a comícios eleitorais e festivais religiosos em grande escala, sobrecarregou os hospitais, onde faltam camas, medicamentos e oxigénio.

Sky News, que fez uma série de reportagens no país, indica que o número total de mortes (cerca de 190 mil desde o início da pandemia) parece demasiado baixa, tendo em conta a densidade populacional. Um dos aspetos mais chocantes da realidade indiana são os crematórios ao ar livre, imagens que estão a ser difundidas pelas diversas agências de notícias.

Estes crematórios improvisados, que não tinham ainda sido filmados, foram vistos em vários locais, desde Nova Deli, a Ghaziabad ou Uttar Pradesh. De acordo com a Sky News, em todos os locais foram encontrados sinais de que o número de corpos que dão entrada nos crematórios é subnotificado.

Num dos crematórios, em Nova Deli, onde a crise pandémica é particularmente grave, a estação britânica detetou, em cerca de uma hora, pelo menos 30 piras funerárias ativas ou preparadas com cadáveres debaixo da madeira. As ambulâncias não pararam de chegar e o motorista de uma delas disse que trazia "10 a 12" corpos diariamente, de apenas um dos hospitais da capital. 

Porém, quando questionaram as autoridades públicas sobre o número de mortes naquele dia foram reportadas 20. Um número que a estação concluiu ser errado, tendo em conta apenas a hora em que estiveram a acompanhar a atividade daquele crematório particular.

Por outro lado, nas redes sociais, surgem denúncias de tentativa de encobrimento, como a reportada abaixo, em que um homem desencoraja a partilha de imagens das cremações, justificando que é "um processo profundamente religioso" e que se pode tornar "num espetáculo de filme de terror sem contextualização". "É uma falta de respeito para com os mortos e fere os sentimentos dos enlutados", pode ler-se.

A denunciante explica que publicações como esta "circulam nas redes sociais da diáspora indiana" e alerta que é "uma narrativa profundamente manipuladora" para "desviar a atenção das realidades na Índia". "Isto vai ajudar num encobrimento por parte do governo, mais tarde", indicou.

De acordo com a utilizadora de Twitter, "as imagens dos crematórios servem para mostrar que o número baixo de mortes por Covid-19 dado pelo governo é mentira, com alguns estados a ameaçar os laboratórios para emitir apenas resultados 'não Covid', médicos e hospitais ordenados a não passar certificados de óbito com Covid na causa de morte".

Na terça-feira, o professor universitário Gautam Menon, especialista em modelos de previsão da pandemia, disse à Lusa que a Índia só deverá atingir o pico da segunda vaga "em meados de maio", podendo chegar aos 500 mil casos diários. "A maioria dos modelos sugere que os casos vão continuar a aumentar e que o pico será provavelmente em meados de maio", antecipou o professor de Física e Biologia da Universidade Ashoka, na cidade de Sonipat, a 40 quilómetros de Nova Deli, prevendo que o número de casos "deva chegar aos 400 a 500 mil" por dia.

Notícias ao Minuto

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