terça-feira, 4 de maio de 2021

Angola | "Aperto financeiro" estaria a frear desminagem no Bengo

Autoridades da província angolana do Bengo alegam que a falta de recursos financeiros está a condicionar o processo de desminagem na região e lamentam a existência de um único operador de desminagem na província.

Não é fácil obter dados financeiros exatos sobre os projetos que estão a operar em Angola. No caso da desminagem, não é diferente.

Ao certo, sabe-se que o país obteve apoios de cerca de 1,7 milhões de euros do Japão, em janeiro de 2021, e mais de 9 milhões de euros dos Estados Unidos, em outubro de 2020. Em três meses, foram liberados pelo menos 10 milhões de euros para a atividade. A União Europeia também havia disponibilizado 20 milhões de euros para apoiar a desminagem em 2014.

Mesmo com o apoio mais recente endereçado ao país, o governo da província do Bengo alega que a campanha massiva de desminagem tem conhecido um abrandamento por apertos financeiros. Nos últimos três anos, segundo uma fonte consultada pela DW África, foi possível limpar cerca de 975 mil metros lineares.

Municípios que mais preocupam

A comissão local de desminagem suspeita que existam mais de 50 áreas minadas. O oficial de ligação da Comissão Nacional Intersetorial de Desminagem para o Bengo, Florentino Quileba, preferiu não falar sobre valores exatos para financiar a desminagem na província. Quileba lamenta a existência de um único operador de desminagem no Bengo.

"Nós temos um único operador que é do Instituto Nacional de Desminagem, este tem estado a dar-nos soluções de alguns problemas no que tange à recolha de minas, mas a desminagem como tal, nós não estamos a realizar por falta de recursos", explica.

Em função de alguns projetos de grande impacto - incluindo o porto marítimo - as zonas da Barra do Dande e Lembeca aparecem nas prioridades para se declarar regiões livres de minas, tal como explica Florentino Quileba.

"No caso do projeto que está previsto ao local do Lembeca, está parado porque nós não arrancámos. Aquela é uma zona que o governo quer [construir] infraestruturas. Já teve o projeto da nova cidade, mas está parado. Também existem focos na zona da Barra do Dande. Não está a impedir que o projeto ande, não é isso. O projeto do porto vai sair, mas também carece de verificação e desminagem daquela área."

Especialista pede transparência

O especialista do Meio Ambiente e Ordenamento do Território, Amílcar de Armando, pede transparência em relação aos fundos destinados a este processo e lamenta a falta de dinheiro para continuar a desminar Angola.

"Parar agora, a questão da desminagem por falta de recursos seria mal porque é preciso ver o longo conflito que nós tivemos. Não permite aferir as zonas onde poderão ter sido colocadas minas, são muitas zonas que ainda estão minadas", sublinha.

Desde 2017, o governo estima ter recolhido cerca de 600 engenhos explosivos - entre minas, granadas e outros. O município do Pango Aluquem é apontado como o que menos preocupa.

O secretário provincial da UNITA reconhece o trabalho feito em prol da desminagem no Bengo e espera ver implementados projetos em zonas já desminadas.

"Nós aqui no Bengo, temos terrenos bastante férteis. Uma vez que já estão livres das minas, era de todo desejável um investimento em massa para que a nossa província possa conhecer o desenvolvimento", apela.

 António Ambrósio (Caxito) | Deutsche Welle

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