# Publicado em português do Brasil
O que nos faz aceitar passivamente sermos a chacota do mundo e o gozo de um psicopata?
A julgar pelo que aconteceu no
dia 06 de maio no Jacarezinho, quando uma operação da Polícia Civil, realizada
apenas 12 horas após Jair Bolsonaro ter se encontrado com Cláudio Castro,
governador do Rio de Janeiro e digno sucessor de Wilson Witzel, aquele que
queria atirar na cabecinha, covardes não nos faltam, pois somos cada um de nós.
A operação deixou vinte e nove mortos, vários feridos e inúmeras crianças com
traumas psicológicos que as acompanharão pelo resto da vida. O Governador
defendeu a ação da polícia ao dizer que foi apenas um “fiel cumprimento de
mandados”. Aqui temos a primeira dúvida: o determinado nos mandados era a
execução sumária de pessoas que já não tinham capacidade de reação?
Segundo a Secretaria de Polícia do Rio de Janeiro a Justiça expediu 21 mandados
de prisão de pessoas acusadas de tráfico de drogas. Dos nomes que ali
constavam, sempre segundo essa Secretaria, apenas três foram presos e três
foram mortos. Ora, se o número de mortos, excluindo-se o policial, foi 28, como
explicar as outras 25 vítimas fatais? Cabe à Polícia Civil e ao Governador do
Estado nos dizer o que ocorreu. Não queremos ficar na dúvida entre uma ação
desastrosa por falta de preparo, ou uma ação bem sucedida de milicianos,
seguindo ordens que numa cadeia de comando, tem origem no morador da Casa de
Vidro.
O General Mourão, ao saber do resultado da operação, antes de terem sido revelados os nomes das vítimas declarou que eram todos bandidos. Não, General. Isso é uma inverdade. Dos 21 nomes que deveriam ter sido presos - e não mortos -, segundo o El País, 15 ainda não foram identificados e devem ter fugido. Aqui me vem mais uma dúvida. General, o senhor errou apenas por preconceito ou por lhe ser, ao que parece, difícil identificar quem é bandido?
Cada dia se faz mais necessário afastar do poder, pela via constitucional, a erva daninha que nele se instalou e que vem se alastrando, lentamente, por alguns setores do país. A omissão de Rodrigo Maia e Artur Lira em aplicar o remédio previsto em lei é também responsável não só pela Chacina do Jacarezinho como pelas 420.000 mortes causadas, até esta data, pelo Coronavírus-Covid19.
Que medo é esse que nos transformou em poltrões? De onde saiu essa paralisia que nos faz cair mortos como moscas e não fazermos nada para fugir da triste situação de vítimas de um genocida. O que nos faz aceitar que a maioria da população se desloque para o trabalho espremida em latas de sardinha, às quais nos habituamos a chamar de ônibus, respirando o vírus que mata cada vez mais? O que nos faz aceitar trabalharmos confortavelmente em home office enquanto nos queixamos de sermos interrompidos pelas nossas crianças ou por afazeres domésticos? O que nos faz aceitar passivamente sermos a chacota do mundo e o gozo de um psicopata?
Responsáveis e covardes também somos nós que não os pressionamos, ordeira e pacificamente, nas ruas e nos contentamos em emitir notas de protesto e falar bonito para quem pensa igual. Temos que romper o medo de nos infectarmos e, com as precauções sanitárias que se fazem necessárias neste momento, ocuparmos as ruas com nossa indignação, como fazem nossos irmãos latino-americanos.
Lygia Jobim | Carta Maior | Imagem: Renato Moura / A Voz das Comunidades
Sem comentários:
Enviar um comentário