segunda-feira, 10 de maio de 2021

Independentistas na Escócia vencem eleições e exigem referendo sobre independência

# Publicado em português do Brasil

Stuart Graham e Pauline Froissart*

Fortalecida pela vitória de seu partido nas eleições locais, a primeira-ministra pró-independência da Escócia, Nicola Sturgeon, pediu a Boris Johnson neste sábado (8) que não se oponha à “vontade” do povo escocês em realizar um referendo de autodeterminação.

Faltando apenas uma cadeira para ter maioria absoluta, o SNP de Sturgeon ganhou um quarto mandato com 64 cadeiras de 129 no Parlamento escocês, de acordo com os resultados finais divulgados neste sábado.

Os verdes, também a favor da separação do Reino Unido, conquistam oito cadeiras, representando uma maioria a favor da independência, e conseguiram impedir o crescimento do novo partido Alba, do ex-primeiro-ministro escocês e ex-líder do SNP, Alex Salmond, que se tornou um ferrenho opositor de Sturgeon, mas que não obteve um assento sequer no Parlamento. Os conservadores do primeiro-ministro britânico ficaram em segundo, elegendo 31 parlamentares.

Os partidários da independência escocesa reivindicam uma maioria no Parlamento local em favor da separação de seu país do Reino Unido, o que segundo deles obriga Londres a aceirar o novo referendo de autonomia rejeitado por Johnson.

“O povo da Escócia votou para dar maioria aos partidos independentistas no Parlamento escocês”, declarou Sturgeon aos simpatizantes.

Onda conservadora segue forte

Dois dias após a “super quinta-feira” das eleições locais no Reino Unido, o primeiro-ministro britânico superou com folga o teste, arrebatando assentos em território tradicionalmente trabalhista, especialmente um reduto valorizado no nordeste do país, Hartlepool, e com avanços nas regiões desindustrializadas do norte cujo apoio foi conquistado com o Brexit.

Um resultado em que o sucesso da campanha de vacinação contra a covid-19 teve clara influência.

Após a vitória nas urnas, Sturgeon alertou Johnson contra qualquer recusa em autorizar um referendo de autodeterminação.

“Simplesmente não há justificativa democrática para Boris Johnson, ou quem quer que seja, tentar bloquear o direito do povo escocês de escolher seu próprio futuro”, afirmou Sturgeon em um discurso.

“É a vontade deste país”, concluiu Sturgeon, alertando que qualquer iniciativa dos conservadores para impedir um novo referendo os colocaria “em oposição direta à vontade do povo e demonstraria que o Reino Unido não é um parceiro igualitário.”

Johnson, que deve autorizar este referendo, opõe-se veementemente a tal, considerando que essa consulta só pode ser feita uma vez por geração. Em 2014, 55% dos eleitores votaram pela permanência no Reino Unido.

“Acho que um referendo no contexto atual é irresponsável e imprudente”, criticou Johnson ao jornal Telegraph.

Mas os partidários de um novo referendo apontam que o Brexit, que teve a oposição de 62% dos escoceses, mudou as coisas.

No entanto, Boris Johnson parabenizou Sturgeon pela vitória e a convidou a abordar com o governo britânico os “desafios comuns”, como a reativação da economia após a pandemia.

“Acredito fortemente que os interesses das pessoas em todo o Reino Unido, e em particular na Escócia, estão melhor servidos quando trabalhamos juntos”, escreveu o primeiro-ministro britânico.

A nível nacional, e apesar de uma série de escândalos sobre ligações estreitas entre poder e interesses privados, Johnson conseguiu manter os avanços que os conservadores alcançaram nas eleições legislativas de 2019 no chamado “muro vermelho” trabalhista, áreas do norte da Inglaterra afetadas pela desindustrialização e favoráveis ao Brexit.

Prefeito de Londres reeleito

O prefeito trabalhista de Londres, Sadiq Khan, que em 2016 se tornou o primeiro muçulmano a governar uma capital ocidental, foi reeleito para um segundo mandato.

O político de 50 anos, filho de imigrantes paquistaneses e criado em habitações sociais, derrotou o conservador Shaun Bailey, de ascendência jamaicana.

Durante sua gestão, Khan, um ex-advogado de direitos humanos, construiu uma reputação de eurófilo intransigente, contrário ao Brexit e a seu apóstolo Boris Johnson, seu antecessor como prefeito de Londres.

Na campanha, Khan adotou o slogan “empregos, empregos, empregos” como seu mantra na esperança de reavivar a economia de uma cidade marcada pela pandemia e pelo Brexit, que desferiu um golpe severo em seu poderoso setor financeiro.

Apesar da vitória em Londres, o Partido Trabalhista se vê perplexo após a derrota em Hartlepool, que deixou o líder do partido Keir Starmer “amargamente decepcionado”. 

Ele prometeu fazer “todo o possível” para reconquistar a confiança dos eleitores. 

Os trabalhistas podem presumir de resultados muito bons no País de Gales, onde mantêm o controle do parlamento local, permitindo-lhes permanecer no poder. 

A trabalhista Joanne Anderson, de 47 anos, foi eleita prefeita de Liverpool (norte da Inglaterra), tornando-se a primeira mulher negra eleita à frente de uma grande cidade britânica.

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